13.3.16

A semana do BCE

Bela semana, a que passou, para se fazer dinheiro na Bolsa, com direito ao habitual show de irracionalidade selvagem a que já nos habituamos a assistir sempre que há decisões importantes por parte dos bancos centrais (agora é o BCE o protagonista, mas durante anos cabia à Fed o papel de lançador de petardos). 

Desta vez a maluqueira atingiu proporções bíblicas e na quinta-feira o DAX acabou o dia todo torcido. A mim o que me acalmou foi ver o PSI20 como se nada fosse, ele que tem o duvidoso costume de ir à frente todo lampeiro quando é para cair. Mesmo assim, a meio da tarde ainda me pus a tentar saber o que de tão herético tinha saído da boca do Marocas Draghi na conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio de que o dinheiro ia ficar tão barato tão barato que, em determinadas circunstâncias, quem pedisse dinheiro era pago com mais dinheiro. Quase como se eu recebesse um Mercedes de borla de cada vez que mandasse vir um Porsche. Mais um... siga! Não vi nada, mas à noite estavam na CNBC a esmiuçar o fenómeno e houve quem trouxesse luz ao assunto: os mercados inverteram quando foi dito que daqui para baixo os juros já não descem! Atingimos o mínimo dos mínimos, disse Draghi. E houve quem desatasse a vender como se a notícia fosse o fim do mundo. E logo outros foram atrás, por via das dúvidas, e a dada altura a enxurrada de labregos a vender sem saber porquê fez os alemães passarem de +3% para -3% num par de horas. Ao que chega o néscio do século XXI. 

Fiquei descansado e dormi com os anjos.

É evidente que daqui para baixo os juros já não baixam e isso é bom. Mário Draghi está a dizer à banca que ou aproveitam aqui ou então vão ser ultrapassados pela direita (e por cima, e por baixo, e pelo meio, etc.). Até aqui, os bancos têm sido os intermediários entre o Banco central e o mercado, mas é necessário que comecem a cumprir a função de que tentam escapar há imenso tempo: encontrar bons projetos, em que valha a pena investir, de maneira a criar riqueza e reduzir o desemprego, trazendo para o mercado de consumo tantos e tantos que não podem comprar porque não recebem salário! É preciso, por outro lado, que a banca volte às boas práticas dos grandes banqueiros que financiavam verdadeiras revoluções tecnológicas que criavam novas necessidades nos consumidores, de maneira a que o interesse por parte dos europeus, fartos de tudo, possa ser reavivado e as fábricas tenham necessidades de maior produção. Só assim será possível reverter os problemas criados pelo excesso de produção em setores tradicionais (que o digam os produtores de leite ou carne de porco) e pelo desinteresse por consumir que se tem instalado nas sociedades mais avançadas. Isso, em vez da calaceirice de só financiarem o imobiliário! 

O que Mário Draghi disse na conferência de imprensa de quinta-feira foi que se estas medidas não resultarem numa subida dos preços, então vamos ter plano B: que tal um helicóptero a largar notas

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