2.7.17

Impresa

Não tenho a certeza se foi a maior valorização do semestre que ora findou na bolsa portuguesa, mas a Impresa com 145% (contra os 10% do PSI20) fez coisas engraçadas pela carteira dos que atinaram comprá-la no início do ano. O mote para o galope estou em crer que não foi o sucesso das novelas da SIC, nem terá sido o facto de lhes terem cortado a corrente em Angola, nem tampouco os resultados apresentados (prejuízos de 2,8 milhões no 1º trimestre, com uma queda de 4,4% nas receitas) mas, como imagina quem anda mais ou menos atento a estas coisas, as movimentações em torno da venda da Média Capital, dona da TVI por parte da espanhola Prisa, empresa que está com a corda cada vez a apertar mais na garganta.


Se falamos deste assunto não é por que queiramos aqui dizer coisas que poderão encontrar facilmente na net escritas por quem tem muito mais informação do que aquela de que nós dispomos, mas apenas por estarmos em crer que podemos dar uma achega no sentido de melhor se compreender como funcionam estas coisas.

Para comprar a Média Capital (MC) apresentou-se a Altice, dona da ex-PT e que possui o MEO, concorrente da NOS e da Vodafone, como toda a gente sabe. Dizem os analistas que a compra da MC não faz sentido estratégico, mas a verdade é que a Altice, que ainda há pouco mais de uma semana arrecadou 1,9 mil milhões de dólares com a dispersão de ações na bolsa de Nova Iorque, já comprou outros operadores de media por exemplo em França, de maneira que parece haver uma estratégia montada que poderia obrigar os concorrentes diretos a responder, por exemplo, comprando a... Impresa. Até aqui creio que toda a gente percebeu. Se há a possibilidade de a Impresa ser comprada, apesar de a NOS ter vindo prontamente desmentir interesse na negociata e da Vodafone nem sequer ter colocado essa hipótese, é natural que tenha havido gente a posicionar-se para aproveitar um possível prémio de controlo (a Impresa vem a cair à razão de 50% ao ano e na sexta-feira fechou praticamente no valor de fecho de 2015).

Mas onde nós pretendemos ser didáticos é noutro aspeto. 

O negócio da MC serviu para definir uma bitola para o valor real destas empresas, isto é, o valor que alguém está verdadeiramente disposto a dar para adquirir todas as ações de uma vez, coisa que o mercado passa todos os dias a estimar (são isso as cotações na bolsa), mas que, na maior parte das vezes, mira bastante ao lado!

Inicialmente, falou-se que a Prisa pedia 450 milhões pela MC (TVI, líder de audiências na TV, Rádio Comercial, 2º na audiência de rádio, M80, e produtoras de TV e novelas), que tem 98 milhões de dívida e resultados, no 1º trimestre, positivos em 1,9 M€ e os rendimentos de publicidade a recuarem 10%! 

Neste quadro, quanto valeria a Impresa, independentemente de haver ou não outras propostas de compra por parte de concorrente da Altice? 

A Impresa é o maior grupo de media português mas está em maiores dificuldades, tem uma dívida de 198 M€, receitas em queda, últimos prejuízos de 2,8 M€, como vimos, detém a SIC e os canais temáticos, revistas como a Visão e o jornal Expresso, e no início do ano estava avaliada em 32,8 M€!

Agora é o caso de cada um fazer contas e ver se há aqui margem para acertos, independentemente de pensar em questões que tenham que ver com a fusões e aquisições. E foi isso que o mercado fez. Pensou: com a outra a valer 400 milhões, 33 milhões para esta é capaz de ser curto! E ajustou!

De acordo com o Expresso desta semana, tudo indica que a compra da Média Capital se fará na casa dos 300 M€, o que juntando à dívida da empresa dá um assumir de responsabilidades na casa dos 400 M€!

Quanto à Impresa, fechou a semana a valer 80 M€, o que somando a dívida dá uma responsabilidade total de 278 M€. 

A olho nu e descartando especulações irracionais a que o mercado tanto gosta de se entregar, e atendendo aos resultados de cada umas das empresas, e às condições de um mercado publicitário cada vez mais virado para a Internet e a causar dificuldades aos operadores tradicionais, diríamos que a cotação da Impresa já não tem muito por onde subir, mas é sempre possível que esta gente se entregue a um frenesim semelhante ao que aconteceu por exemplo no ano passado com os contratos de futebol!

Sem comentários:

Enviar um comentário