Ontem, com 89 anos, faleceu
Simone Veil, uma mulher que marcou o século XX, não só da História francesa
como também da História europeia. Sobrevivente dos campos de concentração
nazis, ministra da saúde responsável pela chamada lei Veil que despenaliza o
aborto em França em 1974, primeira mulher presidente do parlamento europeu,
membro da Academia Francesa, muitos títulos para uma única mulher que fez da
sua vida um exemplo de integridade e de coragem.
As feministas reveem-se nesta senhora
que lutou para defender os direitos das mulheres. Simone Veil nunca foi vulgar,
tinha uma exigência tranquila que responsabilizava qualquer mulher na sua forma
de estar na vida. De facto, é surpreendente ver como a sua história de vida,
dolorosa e irreversível, se transformou numa força, uma força que vai determinar
as suas escolhas. Deportada para o campo de Auschwitz-Birkenau com 16 anos, em
plena adolescência, sobrevive ao inferno, ao contrário dos seus pais e do seu
irmão que não voltam. Simone fugiu de Birkenau, contudo, Birkenau não se
separou dela. Na sua obra “Uma vida”, conta a sua experiência traumatizante embora
não paralisante dado que encontra no sofrimento, na angústia e no medo vontade
de viver, vontade de lutar pelos direitos humanos. Enquanto muitos
sobreviventes da Shoah optaram pelo silêncio, por razões óbvias, ela falou
deste período negro de forma firme e pedagógica, fazendo compreender que, mesmo
depois da Segunda Guerra Mundial, a Shoah permanece, agora com outros rostos.
Sempre associada ao feminismo,
Simone Veil também foi uma grande defensora de uma Europa unida. Quando é
escolhida para presidir o parlamento europeu, é pela sua competência e
inteligência, mas é também, judia que é, por ser aquela que melhor simboliza a
paz, uma nova oportunidade de unir os povos, nomeadamente, França e Alemanha. Mais
tarde, durante o governo Sarkozy de que faz parte, opõe-se à proposta da
criação de um ministério da imigração. Por isso, profundamente humanista, ela
defende os direitos fundamentais da pessoa e defende a memória da História para
que o horror não se repita.
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