30.11.14

S&P500

Chamem-lhe palpite, mas cheira a correção no S&P500.

 
Não é que o cheiro seja um atributo particularmente fiável na Bolsa, mas há alturas em que nada temos de melhor para poder tomar o pulso aos mercados. E é o caso do principal índice mundial que, como toda a gente sabe, tem andado a marcar máximos históricos consecutivos e subiu 14% sem parar em mês e meio. Nesses casos, mandam as regras que se siga a tendência clara e tratemos as entradas e saídas com parcimónia, nada de negócios apressados, e mexer apenas caso algo de relevante possa estar a desenhar-se.
 
O cheiro emana da mossa provocada por o índice estar a marrar há vários dias, sem conseguir furar, contra o topo de um canal ascendente que tem 3 anos e meio. Quando assim sucede, é costume crescer o número dos players convencidos de que o touro vai precisar de tomar balanço para arremeter com força suficiente, e daí que seja de considerar um recuo pelo menos no curtíssimo prazo. Deixamos os gráficos para ilustrar:



Caso venha queda, vemos como primeiro alvo a zona dos 2035-40 pontos, local onde o índice respirou um pouco na subida, podendo haver inclusive travagem provocada pela EMA21, que é seguida por muito boa gente. Mas também é possível que uma subida tão rápida do índice dê direito a uma descida mais aprofundada até para que haja um alívio da situação overbought denunciada pelo RSI (afinal de contas, há muitos investidores com mais-valias grossas que não vão querer pôr em causa logo agora que se aproximam as despesas de Natal). Se assim for, os 2000 pontos são o suporte evidente e, mais abaixo, há que olhar para a base do canal nos 1970 pontos. Seja como for, a queda é ainda uma hipótese académica (ainda que lhe atribuamos uma probabilidade significativa) e, até ver, o S&P é um índice em que a tendência de subida não podia ser mais clara! Evidentemente, a ideia de descida no índice tem que ser adiada se houver um rompimento convincente dos 2076 pontos (máximo histórico), tanto mais que nesse caso temos também uma quebra do topo do canal o que poderá projetar as cotações bem mais para cima.

Prosseguindo o espírito pedagógico fundador desta casa, e no seguimento do post anterior, explicamo-vos como funciona a negociação de índices via CFDs.

Vamos supor que dão como boa a análise que apresentamos e se dispõem a apostar na queda do S&P500. Para isso vão ter que vender contratos do índice através da vossa plataforma. Cada contrato custa em dólares o valor do índice. No fecho de sexta-feira, cada contrato valia 2067 dólares, mais ou menos um pequeno spread que constitui a comissão da corretora: se quiserem vender o índice vão encontrar comprador a um preço cerca de $1 mais baixo e se a opção for comprar é norma ter que o fazer com a mesma diferença mas mais acima. Um dólar de spread é mais do que justo para o serviço que a plataforma vos presta. No S&P500 é fácil fazer negócio com uma margem de 0,5%.

Vamos às contas. Com a cotação no valor de fecho de sexta-feira, vendiam S&P500 a $2066 cada contrato. Se comprassem 100 contratos curtos (isto é, a corretora ía ao mercado vender 100 contratos que vos emprestava), ficavam com uma exposição de 206.600 dólares sobre a qual apenas teriam que dispor de 1033 dólares (830 euros). A partir daí, cada ponto de variação do S&P500 eram 100 dólares (80 euros) que entravam ou saiam do vosso bolso, consoante o índice caísse ou descesse respetivamente. É evidente que, estando em jogo uma alavancagem tão grande, impõe-se a colocação de um stop loss e, neste caso, parece evidente que o fecho automático da posição tem que ser feito, doa a quem doer, pouco acima do máximo histórico.

Por conseguinte, para uma entrada curta assumiriam um risco máximo até aos, digamos, 2080 pontos (14 pontos de perda), sendo que num cenário em que o negócio corre bem e há queda do índice até aos 2040 pontos ganham 26 pontos. Trata-se de um rácio que não chega a ser de 2:1, o que não parece por aí além para pagar o risco. Porém, se acreditarmos que pode haver correção até aos 2000 pontos já estamos em presença de um ganho interessante de 66 pontos, o que dá um rácio de quase 5:1. E uma correção até aos 2000 pontos resulta numa descida de 3% no índice, percentagem que não parece nenhuma exorbitância. Enfim, como sempre acontece há que fazer as contas e apostar de acordo com as nossas expetativas e o nosso feeling. Ou, melhor ainda, o nosso olfacto.

Fiquem com um clássico que também fala do cheiro a que cheira algo que não conseguimos cheirar (para festejar os ganhos em Bolsa...). Cheers!

29.11.14

CFDs

Quem negoceia apenas PSI20 é uma sorte se não estiver a pontos de mandar a Bolsa pó caralho e enveredar por outro estilo de vida que dê mais saúde e menos desassossego. Reparem que ainda no final da semana passada estávamos todos na expetativa de que o animal rompesse a resistência e fosse por ali acima rumo a um alegre rally natalício, e hoje o que se verifica é que o tolo deu para trás e, contra tudo e contra todos, escangalhou-se outra vez de tal forma que só com paciência de masoquista lhe conseguiremos reunir os cacos. É certo que desta vez foi a GALP a grande responsável pela enxurrada, e até foi possível ganhar dinheiro em outras cotadas, mas que diabo andamos nós a fazer se estamos à espera de ganhar dinheiro num índice que mais parece o pólo norte: frio e cheio de ursos? 

A verdade é que a beleza dos mercados financeiros e aquilo que nos faz adorar este estilo de vida é o permanente fluxo de oportunidades. E hoje em dia temos uma sorte bestial porque essas oportunidades entram-nos literalmente pela porta graças à possibilidade de negociar online em tempo real. E é uma autêntica loucura de emoções poder fazê-lo a nível global e com praticamente a mesma quantidade de informação que a média de todos os outros players. Bem sei que há um laço afetivo às empresas do PSI20, e é bem mais fácil poder acompanhar o que se vai passando cá na parvónia, mas,  com o índice tão bear, ou apostamos rapidamente em abrir os horizontes, ou enfrentamos um risco sério de sermos empurrados para fora dos mercados. E abrir os horizontes passa não só por poder negociar ações de outros mercados (disponível em praticamente qualquer conta bancária), mas também poder atuar de ambos os lados, longo ou curto, em commodities ou no mercado cambial. Nos meus tempos de jovem trader essa negociação fazia-se com warrants, fundos ou ETFs e digo-vos que, por norma, o desafio era pouco amigável para o investidor, pois era muitas vezes contra-intuitivo e padecia de falta de transparência. Felizmente, hoje em dia massificaram-se os CFDs e a negociação global está ao alcance de cada um de uma forma muito mais simples.

Vou explicar-vos como funciona a negociação de CFDs.

Para negociarem CFDs precisam de contratar os serviços de uma plataforma de negociação. A oferta no mercado é bastante grande e é até possível que o banco com que trabalham disponibilize esse serviço. É importante referir que, sendo produtos que oferecem uma exposição muito alavancada ao mercado, podem implicar uma exposição ao risco bastante superior à da negociação de ações, pelo que uma plataforma de negociação não é, de certeza absoluta, uma ferramenta de utilização massificada como são, por exemplo, as contas online. É que num negócio de CFDs, tal como sucede no Forex, trabalhamos em margem, isto é, quando fazemos um investimento apenas temos de dispor de uma parte do capital (a margem), sendo o restante disponibilizado pela corretora que, em troca, nos cobra juros (se dermos uma ordem de compra) que acabam por ser diluídos nos custos das operações que vamos fazendo. É deste facto que vem a alavancagem, que pode proporcionar ganhos incríveis, mas acarreta, como é evidente, um risco proporcional.

Vamos supor que tinham aberto a vossa conta na plataforma de negociação e que a tinham fornecido com, digamos, 5000 dólares (para facilitar vou falar em moeda americana, porque vamos negociar crude). 

A grande história da semana foi, sem dúvida, o petróleo. A reunião da OPEP do dia 27 manteve os níveis de produção, pois, aparentemente, os países da organização estão de pés e mãos atados já que, ao controlarem menos de metade da produção mundial, perceberam que se reduzissem a produção não iam segurar o preço, mas simplesmente vender menos. Aliás, as matérias-primas estão a passar todas um mau bocado (a propósito, temos sérias duvídas de que as bolsas mundiais não se venham a ressentir da hecatombe) e muitas foram ótimas oportunidades do lado curto. Imaginemos que estavam atentos a toda esta tramóia e que perceberam que a manutenção dos níveis de produção ia empurrar necessariamente os preços ainda mais para baixo (o petróleo tem caído consistentemente nos últimos meses) devido ao excesso de oferta. Resolveram, por isso, atuar.

Com o petróleo a 74 dólares colocaram uma ordem de venda de 5000 barris, isto é, compraram 5000 contratos de CFDs do lado curto. Os barris são-vos emprestados pela corretora que, automaticamente, os vende no mercado pelo preço total de 370.000 dólares. Por esta operação a corretora retém da vossa conta a tal margem que pode ser, por exemplo, 0,5%. Significa isto que vocês adquiriram uma exposição curta ao petróleo de 5000 barris, tendo gasto 1850 dólares. Ontem o preço do petróleo veio para 67 dólares o barril e vocês decidem fechar a posição, com um ganho de 7 dólares em barril. No instante em que deram a ordem, a corretora automaticamente compra os vossos 5000 barris pelo preço de 335.000 dólares. Os 35.000 dólares de diferença são vossos e transformaram, de um dia para o outro, 1850 dólares num valor 19 vezes maior! Voilá!

Agora imaginem que vocês tinham feito a mesma operação e o preço do petróleo tinham subido. Bastava que o preço subisse para 74,37 dólares para que a vossa margem tivesse evaporado, pois já estariam a perder 1850 dólares. Mas ainda não havia problema de maior, porque a vossa conta dispunha de mais 3150 dólares de segurança. A situação complicava-se bastante se o preço do petróleo chegasse aos 74,80, pois aí estariam a perder 4000 dólares e a vossa conta só tinha 1000 dólares de reserva, tendo-se perdido 80%. Por norma, se a perda chegar aos 90% da conta a corretora fecha-vos automaticamente a posição e vocês assumem a perda. Ou seja, um investimento de 1850 dólares transformou-se numa perda de 4500 por causa da alavancagem. Daí o risco!

24.11.14

Corridos do Facebook

Amigos fomos corridos do Facebook e não nos deixam regressar, aparentemente porque somos demasiados relevantes. 


Já interposemos recurso, mas parece que o juiz Carlos Alexandre está muito ocupado com outro caso qualquer e não nos dá deferimento. Até haver sentença têm duas hipóteses: 
A) vêm ao blogue;
B) ficam sem saber como hão de negociar! 
Mandem vir com o Zuckerberg porque nós não apitamos nada!

21.11.14

E o PSI20

Com o PSI20 a pontos de se decidir (estamos para ver se se decide bem), parece-nos razoável deixar aos estimados clientes desta humilde e honesta casa um lembrete sobre o nosso modo de pensar a respeito da evolução futura do índice.

Com um gráfico vê-se melhor:


Vai ser preciso romper com força a linha tracejada vermelha no que resta de sessão, mas se isso suceder podemos perfeitamente meter 450 pontos ao saco enquanto o diabo esfrega um olho, porque há uma tradição bastante salutar de o caminho 5320-5770 ser feito de gás colado.

Para vos ajudar a decidir quando o momento da verdade chegar acrescentamos os seguintes factos: hoje vamos ter cruzamento da EMA9 sobre a EMA21, os europeus, tal como previsto, estão a posicionar-se para um alegre rally natalício, a china vai consumir mais porque as taxas de juro foram descidas (e ninguém no mundo é mais sensível a dinheiro barato que a malta lá daquelas bandas) e ainda mais isto, com os cumprimentos do senhor Draghi.

Havendo saúde e calma, não há nada como umas negociatas bem assentes. Bons negócios para todos!

E os americanos

Enquanto o PSI20 cozinha em lume lento, como tem por hábito fazer, o seu próximo movimento digno de atenção, manda o bom-senso que entreguemos o nosso dinheiro a quem lhe saiba fazer outro tipo de mimos.

Está toda a gente à espera de queda americana e que essa queda magoe os índices europeus. É um pensamento legítimo e que faz sentido, mas eu estou em crer que é prematuro. Os dados da economia estão a sair rebarbativos: não sei se ontem se aperceberam da autêntica explosão do PhiliFed (o índice da atividade industrial na zona de Filadélfia), que saiu num valor tão acima do esperado que eu não tenho memória de tal acontecer. Por outro lado, o gráfico do S&P500 mostra que ainda há espaço de subida, sem tomar ar,  até aos 2070 pontos e não parece mal arredondar para um número redondo como, por exemplo, os 2100. Ora confiram s.f.f.:


As quedas é evidente que aparecerão, mas que o dinheirinho está muito mais crescidinho desde que anda a tomar desde tipo de pastilhas é um facto que não sofre contestação!

19.11.14

A vez dos europeus

Os dados do sentimento económico do ZEW, publicados ontem, foram verdadeiramente explosivos e mostram que a economia europeia e, de forma particular, a alemã, continua a manter viva a esperança de que a situação se venha a compor nos próximos meses. E é preciso não esquecer de que estes dados positivos seguem-se a duas séries de números muito preocupantes, publicados no mês passado e no início deste mês, respeitantes às encomendas à indústria, que pareciam particularmente afetadas pela crise ucraniana. Para além de ter saído muito acima das expetativas, marcando um valor de 11,0, quando se esperava 0,9 o índice, que resulta de inquéritos realizados junto de 350 investidores de peso e analistas alemães, voltou a terreno francamente positivo, indiciando dessa forma um regresso do otimismo à maior economia europeia.

Indiferente aos números não ficou o índice alemão, o DAX, que ontem quebou a barreira dos 9400 pontos e hoje ensaiou um primeiro ataque à SMA200:


Esta noite saem dados relativos às compras à indústria na China que costumam marcar a abertura das bolsas europeias e, por volta das 8:30 de amanhã temos os números para as encomendas de novembro à indústria da construção na Alemanha. Se vierem confirmar o otimismo da leitura do ZEW podemos ter esperança num rally natalício também do lado de cá do oceano.

12.11.14

BCP

A queda do BCP impõe uma análise ainda que sumária. 

Que o banco está bearish desde que o PSI20 ursalhou é um facto. Que o BCP a valer quase 4000 milhões de euros, atendendo ao contexto, parece uma exorbitância é uma evidência. Que a falência do BES criou uma pressão sobre a banca que se sobrepôs muito aos ganhos por transferências de capital parece cada vez mais nítido. Que depois de a PT ter dado milhões a ganhar aos curtos, é o BCP que está mais a jeito para vender a descoberto também já não é novidade (o nosso índice tem sido uma alegria para quem gosta de andar a martelar ações e vai ser difícil fazê-los desgrudar, tanto mais que muitos estão com a mão quente) e não me parece existirem dúvidas de que há saídas da operadora que estão a servir para vergar o banco. O fecho de balcões do BBVA e o plano de reestruturação anunciado ontem vieram confirmar que o negócio no nosso país continua difícil, e a notícia da multa de 3000 milhões aplicada a vários bancos europeus compôs o ramalhete que colocou o Millenium em mínimos de finais de novembro do ano passado: em 1 ano subiu um máximo de 100% e agora torrou tudo! Um autêntico casino, servindo-nos de triste consolo apenas o facto de terem sido os excelentes gestores da Blackrock (que também abicharam na falência do BES) a fazer o máximo anual! Já nem devem ver o chão que pisam, coitados! E o mais incrível da coisa é que o Mário Draghi já anda de bazuca na mão e ameaça pegar na bomba atómica e pô-la a fazer euros! Se o bicho não reage com este tipo de artilharia, não estará na altura de voltarmos a rezar?

O que esperar daqui para a frente? Deixemos os gráficos falar:



A linha vermelha está nos 0,065€ e é O suporte mais do que evidente. Não nos parece que haja arrojo para o atirar abaixo desse muro já de seguida, tanto mais que o RSI caminha para sobrevendido e há ali a base de um canal que tem servido de mola em várias ocasiões, de maneira que acreditamos que possa haver um ressaltozito por esses valores. De qualquer das formas, foi um bocado assustador assistir ao ataque dos ursos hoje e notou-se que quem vendeu ainda tinha mais para vender. Em suma, e para aligeirar: eu não queria mesmo nada estar na pele dos meus amigos que têm BCP!

11.11.14

Casanova

O mais feliz dos homens é aquele que melhor conhece a arte de se tornar feliz sem prejuízo dos seus deveres; e o mais infeliz é o outro que abraçou um estado em que se acha todos os dias, de manhã à noite, na triste obrigação de prever.

Estas palavras foram escritas por Giacomo Casanova, no final do século XVIII. Casanova é muito injustamente conhecido apenas pela sua libertinagem, já que o livro de memórias que nos deixou (História da minha vida) contém muito mais do que a narração de um conjunto de aventuras amorosas cuja obrigação de prever faziam, nas suas palavras, a infelicidade do homem. A vida de Casanova é a vida sem fim, plena de excessos e de ensinamentos e a sua obra é um manual sobre a arte de viver apaixonadamente, mas sem perder de vista a lucidez e a racionalidade. A infelicidade daqueles que abraçam o estado em que se vêem permanentemente na contingência de prever pode ser a dos que andam nos mercados, tentando ser adivinhos ou procurando ferramentas que permitam adivinhar. E a felicidade dos que cumprem os seus deveres mantendo-se felizes é também o objetivo dos que andam na bolsa não para acertar sempre, mas para ganhar dinheiro. Tal como Casanova percebeu, o mundo é muito mais complexo do que nos fazem crer os nossos rudimentares órgãos dos sentidos e a confusão que se gera na nossa mente quando não compreendemos que não é possível prever é, de facto, a maior fonte de frustação que conduz à infelicidade e ao desânimo.


Não se esqueçam de que nada mais há nos mercados do que pessoas que compram e vendem. Umas porque analisam e decidem, umas vezes bem e outras mal. Quando decidem bem, ótimo, e quando decidem mal, corrigem, sofrem até ao fim do dia e depois seguem em frente. Outras, talvez a maioria, andam nos mercados a fazer previsões. Casanova achava que estes eram infelizes.

9.11.14

A OPA sobre a PT

A OPA acabada de lançar pela Isabel dos Santos sobre a PT é, acima de tudo, uma oferta por uma fatia de 25,6% da Oi mais os 900 milhões que estão enterrados na Rioforte.

A preços de fecho de sexta-feira a posição da PT na Oi vale cerca de 830 milhões de euros, pelo que a oferta da empresária angolana de 1,21 mil milhões assume à partida uma perda de 520 milhões com a dívida da Rioforte ou se quisermos um prémio de 380 milhões, visto que é certo que o dinheiro entregue aos espíritos santos deve ficar para sempre na companhia dos anjos no paraíso celeste.

A jogada da dos Santos é exemplar (ficamos para já sem saber se chutou para canto os azevedos da Sonae), pois dá a Angola a primazia em termos de comunicações em língua portuguesa. De uma assentada conquista o mercado português e entra no Brasil, criando o tal operador global de que falava o Zeinal Bava. E tudo isso a preço de saldo (para já)! Os mercados como partida de xadrez. É por isso que nós gostamos tanto disto!

A Oi fica aparentemente mais tolhida de movimentos, já que a venda da PT Portugal deixa de ser trigo limpo farinha de amparo, mas estamos em crer que a valorização da PT deve ser suficiente para que o stress não se note. Já os da Altice, que estavam filados na compra da operação portuguesa lixaram-se com efe porque o negócio, pelo menos de momento, deixou de ter razão de ser, já que a administração portuguesa ganhou um trunfo para justificar o veto junto dos brasileiros.

E a nós, o que nos pode tocar?

Começamos por dizer, para início de conversa tão séria, que nós aqui no NeB não possuímos, neste momento, qualquer posição nem na PT nem na Oi (embora gostássemos de estar do lado certo), como de resto é apanágio da casa quando fazemos qualquer análise específica. 

Aparentemente, isto é apenas o tiro de partida e não nos parece que demore muito a que mais gente endinheirada perceba que a negociata se faz em três continentes, o que não sendo inédito é de certeza raro. E tudo o que é raro é caro! Temos portanto negócio capaz de abrir o apetite ao mais enfastiado (e endividado) dos tradicionais concorrentes, a começar, quiçá, pela TIM. 

Acresce um facto que pode levar as cotações para bem acima do preço oferecido pela D. Isabel. A PT tem sido nos últimos temos zona de caça de ursos e, da última vez que verificamos, a posição curta na ação não era despicienda. Ora, com a oferta em curso a cotação passou a estar mais ou menos escorada nos 1,35€, o que retira interesse curto no título pois é pouco provável que haja valorizações expressivas para quem se encontra vendido. Está na hora de os curtos, que têm ganhos elevados, fecharem posições e partirem para outras paragens onde as quedas sejam mais eminentes, pelo que pode haver short squeeze

Estaremos a ver mal ou amanhã é dia de compras?

O curso do Império

Durante os 3 anos que se seguiram a 1833 o pintor americano Thomas Cole dedicou-se à criação de O curso do Império, um conjunto de cinco telas que representam uma mesma paisagem que passa pela ação da mão humana. 

 O estado selvagem

O estado pastoral

Consumação

Destruição

Desolação

Uma das vantagens de jogar em bolsa é o facto de adquirirmos esse bem precioso que é o de deixarmos de estar sujeitos ao curso do império. Bull ou Bear havemos de nos safar sempre!

8.11.14

Interstellar

De formação específica sou um pouco astrónomo e foi daí que me veio o grosso da humildade e da racionalidade que só é possível ter-se depois de perdermos o gás dos vinte anos. Duas "dades" sem as quais, é bom que se diga, na bolsa nada feito. Nas minhas aulas sempre digo aos alunos que há mais estrelas no céu que grãos de areia em todos os desertos da terra. Fazemos conta ao número de grãos dividindo a soma da área dos desertos vezes uma profundidade razoável pelo volume médio de uma pedrinha, quatro terços de pi erre ao cubo. O número de estrelas não se conta, mas obtém-se dividindo a massa de uma galáxia, que se consegue medindo o seu tamanho e a velocidade de rotação, pela massa de uma estrela média que se tira da lei da gravitação universal. Tão simples que se faz com chavalada de quinze anos. E chegamos a números que deixam a turma de boca aberta. É um regalo!


No filme Interstellar, do cineasta Christopher Nolan, que estreou esta semana nos cinemas, a Terra deu para o torto e é preciso debandar para outras paragens. Eis quando surge, ali para as bandas de Saturno, um buraco de verme (no filme explica-se muito bem o que é e no fim ficamos a saber quem lá o pôs), que desagua junto de doze planetas que orbitam um baita buraco negro de uma galáxia distante. Para lá é o caminho para a população terrestre que sobra do cataclismo, mas antes há que enviar exploradores para decifrarem qual dos 12 é o planeta correto para nos implantarmos. Na confusão, os artistas põem-se a discutir se é melhor salvar o povo que já vive ou se é de optar pela solução bem mais económica de levar ovos fecundados e embalados para que nasçam pessoas novas quando o novo planeta estiver operacional. Pelo meio, a teoria da relatividade é chamada às lides e ajuda a enfeitar o ramalhete com uns desafios colocados pela distorção temporal que sempre dão para excitar a mente e aliviar de um certo torpor que se pode instalar (3 horas de cinema!). A história é comezinha mas como não houve poupança nos efeitos especiais, o resultado é um espetáculo cinematográfico que enche o olho. No conjunto, acaba por valer bem a pena, quanto mais não seja por nos espicaçar a mente para refletirmos sobre as nossas origens e o nosso papel no meio desta imensidão.


Essa de imaginar os humanos a terem que abalar porque o planeta se tornou inabitável ou vem um asteróide a caminho é velha como a sé de Braga, mas padece de uma inocência que só pode mesmo ter brotado das mentes hollywoodescas. Se a Terra deixasse de servir, não estou a ver que nos puséssemos de acordo sobre a forma de resolver o problema, e era uma sorte se antes não embarcássemos numa guerra mundial que apressasse o  grand finale. E nem sequer estou a levar em linha de conta com o facto de a nossa tecnologia estar tão pouco acima da da época das cavernas que nem hipóteses tínhamos de fugir para a Lua. 


Se a ideia de que exorbitância de lugares no cosmos serve para nos abrigarmos num cantinho quando o fim do mundo se aproximar não passa no crivo de uma análise mais atenta, que outro motivo haverá para tão estrambólica cópia de sítios para viver? O meu palpite pode ser resumido na negação de uma frase famosa: viver não mata. Haverá pontos do espaço-tempo em que a vida evoluirá até que surja uma espécie imortal e inteligente, que crescerá exponencialmente e colonizará todo o espaço disponível no universo. É por causa disso que há moles de estrelas: para haver espaço suficiente para toda essa gente sortuda e magnífica. E haverá hipótese de essa espécie vir a ser a humana, partindo do princípio de que daqui por algum tempo encontremos a cura para a morte e desenvolvamos mais tecnologia que não apenas gadgets? Nisso nada mando, mas pelo andar da carruagem temo que vá ser mais fácil vir de lá um asteróide para tentar de novo!

 

7.11.14

A próxima falência

Com a falência do BES foi-se-nos a inocência e nunca mais voltaremos a ser os mesmos. Em matéria bolsista, bem entendido. Afinal de contas, as empresas cotadas em bolsa também podem falir e levar-nos a carteira a zeros num abrir e fechar de olhos. E se até mesmo um porta aviões de empresas como era o banco salgado vai ao fundo, o que poderá salvar as empresas sobreendividadas que pululam por esse país fora? 

Das que estão cotadas na nossa bolsa, sabemos que, tirando uma ou outra exceção, todas estão com a corda na garganta e se o torniquete apertar escafedem sem apelo, porque longe vai o tempo em que o refinanciamento de dívidas era garantido, mesmo para as que apresentavam prejuízos sucessivos.

Esta semana vimos como o Eng. Belmiro colocou a SONI na sala de suporte básico de vida. É correto dizer-se que ainda não estamos perante uma falência, mas do ponto de vista dos acionistas só se vêem diferenças de pormenor. Com a diluição do AC a empresa regressa à origem e passa a ser novamente a sociedade (nacional) de estratificados da Maia. Lá se foram os galões de maior empresa do ramo no mundo inteiro. Má onda para quem apostou nas madeiras e não seguiu as normas inalienáveis da negociação em bolsa.

Mas a SONI ainda tem a segurá-la gente com dinheiro mais do que suficiente para evitar a vergonha da falência e, com mais ou menos dificuldade, não há de constituir problema de maior para o restante mercado.

Caso diferente é o da Martifer que, ou muito nos enganamos, ou está mesmo a caminho de fechar portas. Vejam se o gráfico semanal que apresentamos a seguir não é o de uma empresa mais do que falida:


A Martifer é um caso típico da megalomania lusa. Uns fulanos criam uma empresa de estruturas metálicas, em 1990, que vendem em bolsa em 2007, com o objetivo de a tornar num dos maiores players mundiais de uma coisa diversificada, que vai do core business original às fontes de energia renováveis e alternativas. Enfim, a nossa velha sina de querermos ser sempre os maiores do mundo, nem que para isso não passemos do piolhinho lá no topo da cabeça do gigante que nos financia! 

Quando o preço do petróleo subiu aos 150 dólares o barril, os irmãos Martins entraram na busca histérica pelas fontes de energia alternativas e dispararam em todas as direções como se fossem génios que iam inventar o que mais ninguém conseguira. Se tivessem estado atentos na escola, contando que tivessem um professor de FQ em condições, tinham aprendido que o petróleo se tornou na fonte de energia universal por ser de longe a mais barata (mesmo com um preço de 150 dólares o barril) e, quiçá (heresia) a menos poluente. Mas eles meteram-se mesmo em tudo quanto é fontes de energia caras, desde o solar, às eólicas e aos combustíveis feitos de cereais. Uma burrice sem fim, em que só cai quem é burro! Paralelamente, a Martifer foi roubada sem jeito em negócios de compra e venda de terrenos e em obras mal adjudicadas, mal orçamentadas e sem garantias de virem a ser pagas.

Lembro-me de comprar Martifer na IPO quando a empresa era tida como um exemplo do novo empresariado português. As ações foram vendidas a 8 euros, o que avaliava a empresa em 800 milhões. Quando a negociação abriu fui dos que consegui vender no máximo histórico de 12 euros. E foi tudo o que se consegui ganhar na empresa de Oliveira de Frades. Felizmente, tinha pessoas amigas que trabalhavam na Polónia (de onde a empresa já saiu) e me iam dando conta da barafunda que ia na cabeça dos génios Martins, e pus-me ao largo.

Se a Martifer falir, e dá-me a ideia que nem santo nem santa lhe vale, lá se vai outra vez o nosso índice reputacional (e, se calhar, o índice PSI20) cair para a lama, porque há bancos muito atravessados na empresa e não vejo de onde possa vir capital para a sanear. Já agora, tenham muito cuidado com as ações da Mota Engil, cuja reputação vai sofrer com toda a certeza.