31.7.14

Para memória futura

Que me perdoem aqueles que hoje viram o património fortemente reduzido à conta da incrível história de incompetência e falta de vergonha que envolve o BES, mas há uma lição a retirar de tudo isto e que nos interessa particularmente a todos nós que estamos dispostos a arriscar o fruto do nosso trabalho nos mercados de capitais. Guardei-a, à lição, sob a forma de uma frase que o The Mechanic, um excelente forista do Caldeirão de Bolsa, usa quase como se fosse um lema:

"Os que hesitam, são atropelados pela retaguarda"

Evidentemente, a frase aparece num contexto de guerra, no caso as guerras napoleónicas, no magnífico livro de Stendhal, a Cartuxa de Parma, escrito em 1830, e cuja leitura deveria ser mandatória. Mas aplica-se, ipsis verbis, a esse autêntico campo de batalha que é a bolsa. 

No dia 8 de julho, quando surgiram notícias de que empresas ligadas ao BES tinham falhado pagamentos na Suiça, escrevemos no nosso FB: "Só mais uma achega sobre o incumprimento do GES: se estivéssemos nos EUA ontem o BES tinha caído pelo menos 50% e hoje estava, de facto, em situação de ter de pedir proteção contra credores. E olhem que estou a falar do BES e não do GES. É que um incumprimento, por menor que seja, tem um custo reputacional que atira qualquer empresa ao tapete. A situação só não é dramática porque estamos em Portugal." O BES cotava a 70 cêntimos e quem anda nisto há muito tempo sabe que os mercados não perdoam e costumam ser crueis!

Para não nos esquecermos do dia em que acabaram mais de 150 anos de história do BES e muitos foram atropelados porque hesitaram, deixo-vos a imagem do stream em fecho no Activobank.


30.7.14

O dia em que tudo se decide

Correto o comportamento do PSI19 no dia de hoje. O regresso à caixa laranja não admira num índice que tem uma das principais ações (o BES) em coma profundo e outra a esvaziar como um balão (a JMT). Vamos ter que vigiar os 6100 pontos que são a base do retângulo. Apesar de ainda esperar um bom ponto de entrada nesse valor (se bem se recordam, estava a contar que o atingíssemos na primeira semana de agosto), diria que o destino do índice vai estar nas mãos destas duas ações. 

Sobre o BES, especulativamente falando, estará mais ou menos tudo dito. Resta-nos saber, pois, a verdade dos números que vai ser possível divulgar neste momento, coisa que teremos oportunidade de conhecer mais logo. Evidentemente, nota-se que há muita gente com a esperança de que os números divulgados venham a ser melhores que o antecipado e o AC a realizar não entre no domínio do estrambólico. Creio que isso só será possível se o Vítor Bento for prudente e não divulgar a verdade toda já. É que há mil e um indícios que nos levam a crer que a procissão ainda nem saiu do adro e o estoiro no BES vai ser qualquer coisa de verdadeiramente histórico. Oxalá estejamos errados, mas a debandada dos Espíritos Santos, o cancelamento da AG, as fugas de informação a conta gotas para o Expresso, a tomada de controlo pelo Governo angolano do BESA e, acima de tudo, a dimensão das empresas em questão e a importância que elas tiveram no país levam-nos a crer que isto vai dar muito que falar e fazer correr muito sangue (para já está a fazer correr sangue azul; esperemos que não chegue ao benfiquista)! Lembram-se como começou o caso BPN? Era coisa pouca, um problema em que compensava bastante evitar o risco sistémico, mas quando a fatura final chegou, ninguém gostou dos números. Só espero que o berbicacho seja apenas descascado pelos acionistas e isto não azede para o lado dos contribuintes, mas muito francamente parece-me que a coisa vai mesmo sobrar para todos nós. E deixem-me que vos diga outra coisa que me está a assustar nesta história toda: o BP não se cansa de dizer que não faltam privados para entrar no BES e assumir um AC! Cá para mim que disto nada percebo, esses privados estavam a pensar entrar no BES de antigamente, no BES do GES que já não existe; quando perceberem que vão ter que enfiar largos milhões num banco falido que tudo o que tem para oferecer é balcões a retalho vão começar a pensar que é melhor investir em empresas como o Twitter ou coisa que o valha. A não ser que o preço seja de uva mijona!

A JMT é a típica empresa que estava caríssima porque andava a descontar um crescimento verdadeiramente exponencial dos lucros. É verdade que a operação na Polónia estava a correr lindamente, mas, que diabo, a Jerónimo não passa de uma mercearia grande! Não faz iphones, nem bugigangas caras que as pessoas se pelem por comprar. Aliás, não faz nada: compra tudo feito e vende mais caro! E, por isso, seria inevitável aparecer concorrência para chatear e travar o crescimento. Agora, a JMT vai ter que esperar até que a Colômbia comece a justificar as expetativas que plantou no cérebro de tudo quanto é empreendedor luso. Até lá, com um PER (price to earnings ratio) a rondar os 20, e uma dívida em crescimento, parece uma empresa cara! Hoje entrou numa zona de suporte forte entre os 10,10 e os 10,80€ e fez mínimo do ano. Há um canal descendente que também tem a base nesta zona (vejam o gráfico abaixo, atualizado com o fecho de ontem). Embora a empresa esteja em claro bear market (o que acaba por a ajudar a escorregar), pode ser um excelente ponto de entrada, mas se a virem a quebrar convictamente a base do suporte, é de fugir!


Que diabo vem a ser o universo?

A esquerda intelectual vai-se mandar ao teto quando se aperceber da ligação direta entre capital e cultura que nos preparamos para fazer, mas a verdade é que se não lerem, não ouvirem música, não forem ao cinema, não frequentarem museus e/ou não viajarem não vão conseguir ganhar dinheiro na bolsa de forma consistente. Se andarem no mundo apenas porque vêem os outros andar têm uma probabilidade de 95% de se encaixarem nos 95% de traders que perdem dinheiro nos mercados, o que vos dá uma perspetiva de 90,25% de se transformarem em loooooooooooseeeeeeeeeeeersssssss! E isto, meus meninos e meninas, não é um facto! É ainda mais do que isso. Trata-se de uma teoria científica que está certa pura e simplesmente porque... nunca falha!

De maneira que nós aqui no NeB, que primamos por fornecer um serviço completo, providenciamos a nossa própria agenda cultural que mais não é do que um singelo contributo para que desempoeirem a alma e tomem fôlego para os desafios dos mercados.

O texto seguinte, que vem acompanhado de banda sonora do tempo em que a música nos deixava o cérebro em estado de contínua epifania, vem da nossa melhor cepa. Enjoy!

Tindersticks, My sister, 1995

Falamos da morte porque ao Ernesto, o que é maquinista na CP, deu-lhe para nos descrever um vídeo que viu no Youtube. Um grupo de guerrilheiros sírios esconde-se num beco de uma avenida em ruínas de Alepo. À vez cada um deles deixa a segurança do beco e entra dois passos avenida adentro de onde descarrega o magazine da ak47 na direção do inimigo. De cada vez que o faz o nosso combatente enfrenta a morte a céu aberto, de cigarro a descair da boca, aparentemente com a mesma tranquilidade com que nós traçamos tremoços e bebemos bejecas. É então que um deles sai mas nem tempo lhe dão para fazer pontaria. O inimigo escavaca a esquina do beco à força de balázios com ele de permeio. A cambalear arrasta-se para a segurança do beco onde a vida o vai deixar confortado pelas vozes serenas dos camaradas que não param de lhe lembrar que Allahu Akbar como se houvesse o risco de ele se esquecer, desnorteado com os estertores da agonia, de quão grande Deus é, ou fosse apanhado de surpresa com a grandeza de Deus e vacilasse na hora de todas as decisões. O Ernesto explica-nos que o que mais o impressionou foi perceber que os guerrilheiros do beco não enfrentam a morte porque têm coragem, ou porque estão desesperados, nem tão pouco porque lutam por uma causa, mas sim porque têm a certeza de que morrendo dessa forma vão para um sítio melhor. Não se trata de fé, de crença, mas de certeza. Nós concordamos. Entretanto, o sol de verão lá longe no meio do sistema solar brilha no céu azul da nossa esplanada com vista para o mar e sentimo-lo descer em direção ao horizonte, mas já não nos apercebemos da rotação da Terra que nos vai trazer o escuro mais logo à noite. Ao Tavares, que como eu estudou física e tem uma natural predileção pela filosofia, dá-lhe agora para achar que os que perderam a fé, não porque não gostassem dos padres ou de ir à missa ou porque eram a favor do aborto ou por causa de qualquer outra norma canónica, mas porque se aperceberam de que a bota não batia com a perdigota e conceitos como Deus e big-bang se auto-excluíam, acabam sempre mais cedo ou mais tarde por readquirir um certo nível de espiritualidade que não põe de parte a ideia de que a morte não é o fim e pode inclusive manter Deus em aberto. Anselmo, que como todos sabem é anarquista, é de opinião de que sobre esses assuntos não se deve falar e o melhor é manter sempre uma sensata atitude agnóstica que nos preserve a sanidade, mas não nos coloque em maus lençóis se se confirmar que Deus é grande. Claro que sendo anarquista e agnóstico, o Anselmo foi obrigado a lutar com meia dúzia de tremoços pela minha atenção e a verdade é que a parte final do que disse voou com as gaivotas para longe e já não lhe consegui chegar. Estamos neste pé quando a pergunta fatal brota de bocarra do Rodrigues, o pasteleiro, como se fosse uma trombada que nos atinge a todos, de modo que ficamos sem ar e vemo-nos na contingência de fazer uma pausa e olhar para a praia à procura de um par de mamas onde possamos pousar os olhos e deixar a mente arrefecer. Que diabo vem a ser o universo? Pela parte que me toca, conformo-me com a explicação de que nós não compreendemos em que tipo de buraco estamos metidos pura e simplesmente porque existem mais estrelas no céu do que neurónios no nosso cérebro, mas acho uma bênção que tenhamos sido gizados com órgãos dos sentidos que sejam justamente adequados a que nos regalemos com as coisas boas da vida. Enquanto assim penso, o Tavares, que já deve estar com os copos, volta à carga. A dada altura do teu percurso formativo, diz, dás-te conta de quão fatelas são os nossos órgãos dos sentidos e como é escassa a porção do universo que nos chega ao cérebro, de maneira que começas a colocar-te questões sobre a realidade e coisas assim e quando acabas estás transformado numa espécie de religioso sem deus que crê que talvez na radiação cósmica de fundo ou no dualismo onda-corpúsculo esteja escondida a nuance que, contra todas as expetativas, nos transporte deste para um universo paralelo no dia em que a morte chegar. E nesse universo paralelo continuamos a viver? O Tavares acha que sim, mas os universos paralelos são uma espécie de paraíso e nunca há chatices nem coisas más. Pela parte que me toca, voto a favor.  

27.7.14

Verão quente

Depois de umas semanas em que, apesar da nortada, se estava melhor a banhos que na bolsa, o PSI19 lá se decidiu sair da caixa laranja e, todo lampeiro, rompeu para cima. Quem não ficou bloqueado com o cagaço das semanas de hecatombe, sempre conseguiu alambazar-se como se fosse boda. É sempre dinheiro que parece à mão de semear, mas inacreditavelmente foge-nos tão depressa que quando damos por ela mais vale ficar a dormir para não fazer asneira. Este que daqui vos fala, por exemplo, ficou a olhar para o nabal quando o tiro de partida foi dado e depois foi uma sorte ter conferido os gráficos quando o demónio tentador entrou em cena já a parada estava alta. E que viu?


O índice quebrou em alta a EMA9 (linha verde) de curtíssimo prazo, e foi embater com estrondo na EMA21 (linha amarela) de curto/médio prazo, onde estancou a subida na sexta-feira. Tudo de acordo com os cânones e, de resto, muito semelhante ao que se passou há um ano atrás (há apenas a diferença de, no ano passado, a EMA21 coincidir com o topo da caixa verde). Aliás, se prosseguir o cenário do ano passado, vamos ter correção de novo até ao fundo da caixa (ou quiçá até à linha verde), que será atingido por volta do final da primeira semana de agosto (se eu acertar nesta porcaria desta previsão, meus amigos, foda-se, sou mesmo mágico). Nesse dia, ou entram, ou são uns cagarolas tão grandes que nunca mais vos quero ver à frente. Estou a brincar! A verdade é que o PSI só regressa ao bull market quando convictamente saltar para cima da linha vermelha que está no gráfico, a famosa SMA200, e a linha verde ficar acima da amarela e a amarela acima da vermelha. Vai ser preciso muito trepanço, mas não vos posso pôr a coisa em outros moldes porque estaria a enganar-vos! Nessa altura, paradoxalmente, teremos uma entrada bem mais segura do que agora, em que andamos para aqui a tentar apanhar saldos que podem bem vir a revelar-se artigos com defeitos!

Do lado fundamental há algumas coisas que também gostaríamos de assinalar, até porque a semana que ora se inicia promete ser quente e clarificadora.

Claro que quem não quiser andar metido em confusões tem opções mais adequadas (como o grupo EDP ou os CTT, por exemplo), mas é inevitável falar do BCP e do BES que têm sido, para o bem e para o mal, os artistas mais em destaque nos últimos tempos:
  • No BCP chega ao mercado já amanhã um manancial de novas ações que promete colocar o volume transacionado ao dia num patamar completamente inovador. Vai ser uma autêntica enxurrada! Toda a gente está a contar com que haja uma pressão vendedora inicial que faça descer a cotação. Se vai ser assim ou não, já não falta muito para que o saibamos. De qualquer das formas, acredito que possa haver grande volatilidade ao longo do dia, até porque depois do fecho são apresentadas as contas do primeiro semestre. E pode haver dissabor nos números. Se o banco assumiu até ao final de junho o crash da dívida do GES vão pelo menos 150 milhões para provisões, o que pode causar susto ao nível dos prejuízos (ver aqui). Para quem estiver comprador, e caso haja malhanço, vejo um valor muito engraçado na zona dos 0,111-0,112. Não me venham é chatear a cabeça se se estamparem. É que nós aqui no NeB somos daqueles que acham que mesmo que os resultados sejam bons pode haver sell on the news porque, como já aqui referimos múltiplas vezes, a valer 6,5 mil milhões de euros (cotação atual), de momento, o BCP não parece barato.
  • Falemos do BES. O BES é o casino da bolsa. Pôr dinheiro no BES é apostar forte na roleta ou numa caca desse género! Não é bolsa. Porém, na quarta-feira, com a apresentação de resultados, vamos ter uma clarificação. Julgo que a imagem de seriedade do Vítor Bento é o garante de que vai saltar cá para fora toda a verdade conhecida e não se vão colocar paninhos quentes sobre a situação. Prejuízos da ordem dos mil milhões e um aumento de capital até 2000 milhões julgo que estarão mais ou menos descontados pelo mercado. Não vai ser pílula fácil de engolir, mas a bolsa tem a vantagem de os preços se ajustarem tão magnificamente, que haverá por certo interessados em acudir ao peditório. Mas eu na sexta-feira vi a passar em rodapé na televisão, como se não fosse nada de especial, notícia de que há quem ache que o BES pode vir a precisar de 4000 milhões de euros. Se for verdade, bye, bye! Já agora, para aqueles que acham que o BES vai recuperar rapidamente (o Nomura, que teve de assumir uma posição das grandes no banco, e está mais do que aflito para se pôr a bulir, veio dizer que o moribundo vale 1,10€ por ação) deixo a nossa humilde e singela opinião. O BES valia muito dinheiro, e estava na primeira divisão da banca portuguesa, porque tinha por detrás todo um gigantesco grupo de empresas que operavam em praticamente todas as áreas que contam na economia - o GES. Para além disso, durante anos teve gente que se soube encostar ao poder e mexer os cordelinhos da forma certa. O BES era, à escala, o Goldman Sachs tuga. Mas tudo isso acabou da forma que temos tido oportunidade de ver. O GES escafedeu com estrondo e o BES perdeu toda a estrutura que lhe trazia valor acrescentado, ao mesmo tempo que aqueles que sabiam manobrar na sombra se converteram em criminosos a contas com a justiça. De maneira que nos parece provável que o valor do BES em bolsa se aproxime mais do valor do BPI do que do valor do BCP. Aliás, não foi por acaso que o Ulrich pareceu tão contente ao ironizar com o DDT na apresentação de resultados. Ele sabe que agora já tem com quem brincar e se calhar... casar! Ao BES, depois de o Espírito Santo ter falhado, nem a Santíssima Trindade poderá trazer a pujança de outrora. E esse é o verdadeiro drama de quem ocorreu ao último AC do banco: comprou uma porcaria que em pouquíssimo tempo desvalorizou de facto e não foi apenas por ineficiência dos mercados. À cotação atual, o BES vale 2500 M€ e o BPI cerca de 2200 M€. Se puserem 1000 milhões a mais no BES (e vão ser 1000 milhões puramente para tapar buracos e não com o fito de tentar criar algum tipo de valor, como sucedeu, por exemplo, no BCP), é fácil ver que a cotação atual é esticadota! Mas isso somos nós a fazer contas de cabeça. O mercado saberá melhor!
Nos mercados europeus a semana também não promete ser fácil. Ao atacar um avião cheio de holandeses, os afilhados do Putin colocaram em sérias dificuldades o padrinho. É que há países que, apesar de serem insignificantes em termos geográficos e de população, têm tanta força e influência que quando mexem com eles o mundo pula e avança (ver aqui). Infelizmente não é o nosso caso, tristes tugas (façamos uma vénia de agradecimento ao nosso grande monarca Manuel I, que se encarregou de exportar judeus para o laranjal)! A nossa dúvida está em saber como é que os mercados vão acolher medidas que, se podem fazer tanto dano à Rússia, não devem ser 100% inofensivas para a UE. Olhando para o gráfico dos índices europeus, diríamos que há muito mais gente com a mesma dúvida! 

Bons negócios e boa semana.

17.7.14

O DAX

É quando começamos a ver notícias como esta link 1, ou esta link 2, que começamos a pensar que os mercados mundiais são capazes de andar esticadotes e é o PSI20, cuja queda foi precipitada por motivos que são de todos conhecidos, que deve estar mais enquadrado na realidade. 

Olhando, por exemplo, para o gráfico do DAX, o índice alemão, até pode ser que estejamos a ser míopes, mas garanto-vos que não conseguimos ver que possa desatar a subir. 


Vamos trabalhar, pois, no cenário de queda. 

Já sabem que nós gostamos de médias móveis que são ferramentas simples e bastante eficazes. A linha laranja do gráfico é a EMA100 que, como podem verificar, susteve a queda do índice algumas vezes no passado. Não somos adivinhos, mas está-nos a custar um bocado pôr de parte a ideia de que a vamos testar uma vez mais. O problema é que com notícias pindéricas da economia é bem capaz de a coisa arriar. E se o pior cenário desta notícia link 3 se confirmar, estamos em crer que vamos até à linha vermelha, a famosa SMA200 que já não é quebrada há 3 anos e da última vez que foi (com cruzamento em baixa da linha laranja)... ui, ui... o DAX esfrangalhou-se todo como o PSI20 fez na semana passada. 

Para já, o cenário é puramente académico, mas para o caso de a tramóia se confirmar deixamos a seguinte dica:  com tempo, aprendam a entrar do lado curto (a shortar) porque vai haver dinheiro que pode vir parar ao nosso belo bolsito quando o estenderete se confirmar. 

15.7.14

Inversão?

Uns dias de férias salvaram-nos do autêntico filme de terror que se viveu nos mercados no final da semana passada. 

São quedas violentas como as que o PSI20 experimentou, com particular destaque para o BES, que tornam a Bolsa uma atividade que exige um rigor e uma capacidade de reação que, de facto, não é para todos! E a verdade é que para muitos dos que têm investido nos mercados o sofrimento e a aflição de verem as economias diminuírem de forma drástica sobrepõem-se ao lucro que normalmente poderão obter. Alguém famoso escreveu, não me recordo exatamente quem, que "a todo o lucro que obtemos há sempre que subtrair todo o sacrifício que nos foi exigido". Sábias palavras que muitas vezes ignoramos. Contabilizamos o lucro como a diferença entre a venda e a compra e ignoramos o sacrifício e o tremendo custo da tomada de decisão, como se viver em sofrimento fosse uma forma de vida perfeitamente natural. Se há lições que aprendi com os meus avós é que nada se faz sem esforço e dedicação (lógico), mas o bem-estar e a qualidade de vida são mercadorias (?) que jamais devemos trocar por papel colorido! 

Se passarem uma vista de olhos por uma rubrica que tivemos aqui logo no início chamada "O que devo saber antes de Negociar em Bolsa" verão que estão lá muitas dicas valiosas sobre a forma de estar nos mercados e sobre a suprema importância de sabermos assumir erros enquanto ainda não é demasiado tarde. Na Bolsa, saber vender é uma arte!

Mas deixemo-nos de sermões que não é para isso que vocês cá vêm!

O PSI20 está na zona crítica. Aqui ou vai ou racha e se racha ficamos numa situação tão feia que não acredito que se vá já para esse cenário. Da minha experiência, que vale o que vale, diria que o pessimismo atingiu um nível tal que isto só pode subir. Estou em crer, portanto, que hoje pode ser um dia ótimo para uma inversão de curto prazo, pois tivemos uma queda fortíssima de desespero e pânico no início do dia que parece corresponder a um cenário de exaustão. Para validar a inversão, vamos precisar de um fecho de dia positivo. Se assim for, estão reunidas as condições para uma ida pelo menos aos 6400 pontos. 

Se a tarde voltar a ser de queda, diacho... 

Confiram o gráfico:




8.7.14

O afundanço do PSI20

Nós gostávamos de deixar aqui uma palavra positiva e de calma aos nossos amigos que não tiveram a oportunidade de vender e estão muito preocupados com a situação que se viveu ontem e principalmente hoje no PSI20, mas a verdade é que se quisermos ser mais do que solidários não há, de facto, boas notícias, ainda que, como é evidente o esticanço para baixo já vá longo e mais cedo ou mais tarde tenhamos subida! 

Na Bolsa não existe nunca o suficientemente barato nem o suficientemente caro. Como fomos frisando ao longo do tempo de existência deste espaço, quem vende em Bolsa não o faz por achar que está caro, mas sim porque acredita que pode recomprar mais barato; da mesma forma, a grande maioria dos que compram fazem-no porque acham que poderão vender mais caro e não porque pensam que está barato. Nesse sentido, se os investidores acreditam que há margem para mais descidas, vão vender e o preço vai descer, independentemente de considerarem que está barato ou caro. É verdade que, aqui e ali, vão ocorrer ressaltos porque a opinião das massas é volátil e o investidor reage a impulsos que estão o mudar à velocidade da mente humana. Mas quando uma determinada tendência de queda se estabelece é norma os ressaltos serem oportunidades para os retardatários aliviarem o peso da carteira que ainda mantêm.

O PSI20 está a 2,3% de entrar na zona em que tudo se decide (assinalamo-la com um retângulo laranja no gráfico seguinte):


Francamente, estando o índice sobrevendido (vejam o RSI na parte inferior da figura), e sendo o suporte tão relevante, não antecipamos que possa acontecer quebra dessa zona sem que pelo menos haja um ressalto. Aliás, se esse ressalto não ocorrer vamos passar diretamente para Bear Market e entregar definitivamente a Bolsa aos curtos, o que significa que teremos telejornais a abrirem outra vez com péssimas notícias da economia e quiçá o Governo a pensar demitir-se. Portanto, se não forem especialmente impressionáveis e aguentarem ver o vosso dinheiro correr risco de ser violentado, é possível que venham a estar reunidas as condições para poderem começar a construir uma carteira para dar alegrias até maio do próximo ano!

Por que motivo isto sucedeu, perguntam vocês? Por que motivo está o PSI20 a esfrangalhar-se quando a economia parece finalmente estar a melhorar e não temos a crise da dívida soberana de há dois anos nem a irrevogável demissão do ano passado (recordar aqui)?

A Bolsa cai sem que haja um motivo, porque a verdade é que há sempre quem saiba mais do que nós das maroscas que se estão a aprontar e vai vendendo devagarinho. À posteriori tudo acaba por fazer sentido e olhando para atrás acaba por ser relativamente fácil compreender o comportamento das cotações. Na verdade, somos tanto melhores investidores quanto mais cedo conseguirmos entender que vem aí borrasca. E é aí que a análise dos gráficos dá uma ajuda imprescindível. 

Agora, já é possível compreender que a situação é realmente séria ao ponto de justificar a quebra da SMA200 que despoletou todo este alvoroço. Tal como assinalamos no dia em que a PT pôs a boca no trombone (ver aqui), havia risco real de o GES incumprir. E isso aconteceu efetivamente (ver aqui). E se for verdade o que hoje noticia o expresso, o incumprimento pode ser maior do que tem vindo a ser admitido (ver aqui):

Quando uma empresa ligada a um grupo tão importante como é o BES entra em incumprimento, temos um problema sério. A confiança é abalada de uma forma que é muitas vezes irreversível e estamos em crer que é possível que os investidores pensem que a aversão ao BES contagie muitos outros setores da economia portuguesa e inclusivé a dívida pública. E só esse facto faz deste acontecimento uma situação tão grave como a criada pelo nosso MNE no ano passado.

Não se esqueçam, no entanto, que os grandes suportes são também os pontos de entrada capazes de fazer milionários.Como sempre na vida, para grandes riscos estão guardadas grandes recompensas, desde que haja o estômago firme o suficiente para aguentar estes solavancos. Pelo menos, não somos brasileiros (aqui). 

Há um ano foi assim

O anarquista Anselmo integrou-se no lote dos que andaram a apitar pelas ruas da cidade no dia em que o governo se suicidou. Rejubilou, rejubilou, rejubilou e o chuto de adrenalina foi de tal ordem que, no dia seguinte, apercebeu-se de que tinha ficado com o carro todo amassado. Pelos vistos, tinham-se posto aos saltos em cima do capô e do tejadilho como é costume fazer-se quando o FCP é campeão, de modo que a demissão do MNE saiu-lhe do bolso como se o nosso amigo investisse na bolsa. Natário, o agrimensor, não se deixa entusiasmar de forma tão espalhafatosa, mas está em crer que uma deserção desta monta só se justifica se o motivo for de força maior. O Gasparinho das finanças, por exemplo, foi cuspido no supermercado, coitado do homem, por certo bisca verde da de pior qualidade, e não admira que se tenha posto a bulir. Gosma lançada de mais de três metros que tenha o virtuosismo de acertar no alvo desmoraliza, em princípio de forma irrevogável, quem costuma falhar previsões. Já ao Portas (PP) não consta que tenham atirado caca ou tentado acertar o passo, e nem sequer a uma grandolada teve direito, pelo que a birra deve ter sido provocada por uns acepipes picantes que marcharam na visita de estado ao México, na semana anterior, e que lhe chegaram fogo ao rabo. Do Natário vou bater à porta do Tavares, cuja opinião consulto antes de me pronunciar em definitivo. É que eu próprio tenho o meu painel de comentadores privativos, que me ajudam a fazer uma leitura infalível dos acontecimentos, de modo que quando chego a consenso comigo mesmo já fiz a via-sacra da oscilação mental sem ter a trabalheira de passar horas a ouvir comentadores televisivos. É um sistema bem mais económico em termos de queima de neurónios, que não me importo nada de partilhar convosco. Do ponto de vista do Tavares, estamos em presença de uma daquelas jogadas geniais, apenas ao alcance dos politiqueiros que leram Maquiavel. E elabora: de uma só vez, o nosso irrevogável desertor verga Passos, ajoelha Cavaco e põe os da troika com os olhos fora de órbitas. De bónus ainda faz tremer os mercados mundiais, coloca em perigo as economias e o emprego de muito boa gente e estabelece um novo paradigma para a definição de loucura. No final, os índices que quantificam o grau de vaidade de um indivíduo devem ter atingido valores tão extravagantes que PP estará muito perto de ficar paralítico com os tiques. Orlando, o cético, chega-se à frente e começa a desfiar um rosário de queixas que Passos e Portas têm um do outro e que os fazem ter razão em se odiar mutuamente. Mas eu não estou para o ouvir e despeço-me dos trengos dos meus consultores com a minha ideia feita. Deprimido e com vontade de mandar a racionalidade às urtigas e pensar à moda antiga, puramente de forma emocional, selvagem e instintiva preparo o raspanete que se segue. O que se passou na semana passada foi exemplar da forma como nós somos governados há séculos e do pouquíssimo respeito que o povo português merece a esta gente que vamos pondo no poleiro. E não tenham dúvidas de que somos um povo pobre porque nascemos com o infinito azar de fabricarmos governantes que não têm sentido de estado absolutamente nenhum. Gente que se borra toda se alguém lhes vai um bocado à gamela, mas que é perfeitamente inconsciente do enorme rombo que têm causado na vida de cada um de nós. Ou talvez não seja azar. Na verdade, é altamente provável que o PP ou o PC sejam da mesma estirpe do anarquista Anselmo, que leva tudo no pagode e passa o tempo numa alucinação revolucionária que pulveriza a realidade, ou dos outros meus amigos que vivem da procura de explicações apaziguadoras quando o que está em causa é a mais límpida das traições, um caso flagrante de pena capital, pelotão de fuzilamento. No dia em que este texto chegar às bancas é bem provável que estes estafermos já nos tenham colocado em pleno processo de lavagem cerebral coletiva e andem a convencer-nos de que a garotada da semana passada mais não foi do que um deslize, um arrufo sem importância, natural e inconsequente. Que esta trupe ainda tenha cara de pau para nos vir exigir sacrifícios, e que alguém lhes ligue peva, é a prova definitiva do povo de brandos costumes que nós somos, mas é também o motivo porque continuaremos a ser desgraçadamente mal governados.  

6.7.14

A semana que termina e a que agora começa

Num mercado claramente ascendente é fácil ganhar dinheiro na Bolsa (mais difícil é maximizar o lucro e bater o mercado), e num mercado descendente, com más notícias e quebras de suportes sucessivas é fácil evitar entalanços (basta vender, assumir pequenas perdas e preservar o capital, evitando ao máximo cair na esparrela do "a longo prazo tudo acaba por subir"!).

São estes tempos de grande indefinição que vivemos desde inícios de maio no PSI20, com medo não se sabe bem de quê e uma tendência descendente cheia de ressaltos, que vai destoando do que se passa nos mercados financeiros mais populares, que constituem o pior veneno que existe para o investidor mais experiente. É que as sucessivas quebras de suportes levam à ativação de sinais de venda que são postos em causa logo de seguida com sinais de compra que, por sua vez, também acabam por se revelar falsos. De maneira que o investidor, que apenas pretende minimizar riscos para a carteira, atuando de forma mais ou menos racional, vendendo e comprando de acordo com os sinais habituais, corre o risco de acumular perdas que, ainda que pequenas, acabam por ser em número tal que podem fazer mossa. Tradicionalmente, são estas épocas em que, de facto, se correm os maiores riscos. O sensato será sempre abandonar o mercado nestas alturas de lateralização e esperar por sinais evidentes de desiderato. Claro que, na prática, é sempre muito difícil a quem tem um streamer (esse casino doméstico!) resistir às aparentes pechinchas que vão aparecendo. Seja como for, é sempre duvidoso que os lucros acabem por pagar as chatices de andarmos metidos num mercado que está permanentemente a ameaçar dar cabo de nós, principalmente quando sabemos que podemos retirar lucros maiores com menos chatices se soubermos ser pacientes.

Na segunda metade da semana que passou acabou por vir ao de cima uma certa lógica no PSI20. Aliás, a única coisa que não veio ao de cima foi o próprio índice que continua a ameaçar ir parar a terreno negativo no ano e testar o suporte dos 6300-6400 pontos (que belo ponto de entrada esse seria!). Para nós, que costumamos usar médias móveis nas nossas análises, chamou-nos a atenção o facto de o índice acabar a semana cerca de 40 pontos abaixo da SMA200 (simple moving average de 200 dias), sendo que essa quebra acontece pela primeira vez em um ano. A quebra da média móvel de 200 dias, pela própria definição do indicador, é um acontecimento relativamente raro e que costuma produzir sinais bastante relevantes, tanto num como no outro sentido. Na figura seguinte, colocamos um gráfico de longo prazo do PSI20, em que a linha vermelha representa precisamente a SMA200. Assinalamos com uma faísca amarela as vezes em que a quebra em baixa da linha curto-circuitou carteiras e torrou mais-valias. Há umas elipses verduscas que representam quebras benignas:


Reparem como é evidente o forte sinal de venda que costuma resultar de uma quebra em baixa desta média móvel (e, já agora, do sinal de compra que resulta de um rompimento em sentido inverso). 

Agora deixamos o mesmo gráfico mas para o prazo de um ano:


Há precisamente um ano ocorreu a última quebra em baixa de SMA200, fruto como se recordarão dos arrufos dos nossos governantes. Na altura, o índice manteve-se abaixo da média móvel apenas mês e meio, tendo uma queda máxima de 7% (se retirarmos a ilha de inversão no dia 3 de julho de 2013). Curiosamente, essa queda máxima neste momento, colocaria o PSI20 precisamente na zona de suporte em torno dos 6350 pontos. Evidentemente, podemos estar em presença de simples coincidências, até porque a história nunca se repete exatamente da mesma forma e também é verdade que costumam ocorrer alguns falsos sinais e dar-se o caso de já na próxima semana recuperarmos o pé. De qualquer das formas, queríamos que ficassem com esta ideia para que possam entender melhor por que motivo podemos assistir a um acelerar da queda caso se confirme a quebra da SMA200. E essa aceleração vai suceder independentemente das notícias serem boas ou más e de os outros índices subirem ou descerem. Bastará que a maioria dos investidores conclua que há uma quebra real de um indicador de longo prazo como este é. Por outro lado, também é verdade que esta importância que a quebra da SMA200 tem lhe confere uma força bastante grande enquanto suporte, pelo que é perfeitamente possível que o fecho de sexta-feira seja um falso break e o índice encete uma subida a partir daqui. Estamos perante, pois, mais um ponto exemplo das tais decisões difíceis que se apresentam aos investidores em mercados laterais como é o português neste momento.

Duas palavras finais para dois títulos de que aqui falamos ao meio da semana e que andaram nas bocas dos investidores nos últimos tempos (aliás, cremos que a atenção excessiva dada a estas ações está a distrair-nos de outras oportunidades que vão aparecendo noutros títulos).

Comecemos pelo BES. Numa das últimas análises que fizemos recomendamos uma entrada na zona dos 0,65€. Claro que um suporte tão importante é sempre um bom ponto de entrada, mas também é um ponto que, em caso de quebra, espoleta um exacerbar das descidas. E isso aconteceu efetivamente, criando um movimento típico de panic sell. Para quem aguentou a bucha, a coisa já está a recompensar porque, lá está, acabaram por vir as boas notícias que tornaram o ambiente menos negro. A equipa de gestão escolhida para o BES tem, de facto, credenciais e, ainda por cima, está muito encostada ao Governo o que, parecendo que não, dá sempre jeito. Até onde pode ir o BES? Respondo-vos com toda a franqueza: eu gostava de vender na zona dos 0,83€ (mas não sou esquisito), que é onde se situa a EMA21, porque não acredito que no médio prazo haja qualquer inversão nos problemas que andam a afligir o BES e estou em crer que a notícia do desamparo da loja pelos Salgados é eminentemente de curto prazo. 

E o BCP. Bom, do BCP há a dizer que fez aquilo que se previa, que foi esvaziar um bocado aquela euforia inicial, que nos surpreendeu (como já confessamos) e nos fez ficar a salivar tal o lucro que se poderia ter feito. Agora, depois de uma queda de 18% nas ações e de 24% nos direitos só na sexta-feira (face ao valor teórico de quinta-feira) é possível começar a pensar numa entrada.

Na figura seguinte, colocamos o gráfico já ajustado do AC. Verificamos que na sexta-feira a EMA21 (exponential moving average de 21 dias, a amarelo) travou a cotação, tal como seria de esperar. Se juntarmos à presença da média móvel a resistência que assinalamos a preto na zona dos 0,111€, ficamos com a ideia de que se pode tratar de um bom ponto de entrada. 



A chatice é que o BCP está neste momento numa situação especial, em que paralelamente às ações temos a negociação dos direitos. Hoje os direitos estão a dar um prémio de menos de 4% relativamente às ações (com os direitos ficam com ações a 0,1107€), o que é manifestamente pouco tendo em conta o facto de as ações do AC só poderem ser negociadas no final do mês ao mesmo tempo que entram no mercado 35 mil milhões de uma só vez! Esqueçam os direitos! A estes preços, ou os direitos descem, ou as ações sobem, porque ninguém é maluco ao ponto de se contentar com 4% tendo de esperar pelo dia 28 de julho (ou será que é?)! A minha ideia é que os direitos vão ter que descer mais um bom bocado e isso, evidentemente, arrastará as ações, pois o prémio também não vai exorbitar. Creio que um prémio de 6 ou 7% é capaz de se revelar justo. O problema é perceber a quantidade de direitos que serão despejados no mercado. Façamos um exercício de aritmética (a minha vida está carregada de matemática e de física e é evidente que não me importo nada de fazer contas, mesmo que depois elas se venham a revelar totalmente especulativas):
  • Se os direitos vierem ao mínimo de sexta-feira, 0,077€, devemos ter uma variação mínima nas ações;
  • Para que possamos comprar as ações ao preço de 0,111€ que "recomendamos" é preciso ter os direitos a 7 cêntimos (uma queda de 12,5% face a sexta-feira), tendo em conta um prémio de 6%;
  • Se houver uma hecatombe nos direitos e eles vierem 37,5% para baixo até à zona dos 5 cêntimos, vão ver as ações a passar de mãos, com prémio de 6%, a dez cêntimos a unidade.
Claro que amanhã podemos ter já uma inversão completa da tendência, com os direitos a subirem e a arrastarem as ações, mas a olho nu acredito mais numa pressão sobre os direitos que nos possa proporcionar finalmente um bom negócio no BCP.

Já agora, embora o texto já vá longo e estejamos cheios de medo de estar a abusar da vossa paciência, deixem-me dar aqui uma achega do ponto de vista fundamental. 

À cotação atual, o BCP está avaliado em 6268 milhões de euros. Não é barato, mas se compararmos com os mais de 7600 milhões de há 3 dias atrás o caso começa a mudar um pouco de figura. Para além disso, se lhe deitarem a mão a 0,111€, vão comprá-lo a um preço equivalente aos 0,192€ antes do AC (se lhe somarmos os 2250 milhões que o banco vai buscar ao bolso dos investidores). E a verdade é que com o dinheiro do AC em caixa o BCP está melhor que sem ele (se vai criar valor com esse dinheiro, já é outra história). E notem que nem se falava em AC e o BCP foi aos 0,23€. Para além disso, daqui a pouco vamos ter resultados do 2º trimestre e não me custa nada acreditar que possamos ter gente a falar em lucros. De maneira que o negócio nestes termos já parece ter ponta por onde se lhe pegue. Por outro lado, não estamos livres de virem por aí abaixo, da parte do Millenium, notícias salgadas como as que o BES e a PT vomitaram cá para fora. Se assim for, lá se vai quanto Maria fiou!

Mais por vós... não podemos fazer! Boa semana e bons negócios.



1.7.14

Montanha russa

Quando eu andava na escola primária ainda havia distribuição de bolos. Quer dizer, a D. Ermelinda, a nossa eficiente professora, não fazia a coisa por menos e ao mínimo deslize era mandatório estender a mão aberta para que a piedosa régua de madeira desabasse sobre ela. Cada erro ortográfico um bolo doce para quem fosse masoquista. Assim mandava a lei. Se fosses preguiçoso e não te apetecesse fazer os deveres tocava-te meia dúzia. E nem pio. Lembro-me de um colega que era tão empreendedor que um dia apareceu na escola com uma régua de madeira de primeira categoria, com buraquinhos pequeninos que marcavam as palmas das mãos e punham o sofrimento vários furos acima do que seria regulamentar. Como foi o primeiro a testá-la, encarregou-se de a fazer desaparecer no intervalo e a coisa ficou-lhe de escarmenta.

Vêm estas memórias de tempos que já não voltam a propósito do nosso volte-face em relação ao BCP. Houve erro de análise nosso e isso está-nos a custar uma pipa de massa. Se nos dessem um dúzia de bolos com régua de furinhos, garanto-vos que eram bem dados. A verdade é que o BCP está farto de subir e nós de fora a admirar o show. Sabem a quanto fechou hoje o BCP se não tivesse ocorrido o AC. Vai por extenso: vinte e sete vírgula três cêntimos. É obra! O banco está avaliado a mais de 7600 milhões de euros e nós há dias dizíamos que o preço já era maluco e ainda só ia em 6000 milhões. Onde é que falhamos? Não sabemos, nem queremos saber. A Bolsa não é um concurso de justificação de ideias feitas. A verdade é que o mercado não nos deu razão e, como sói dizer-se, o mercado é soberano. Essa é, de resto, a regra número 1 para quem investe em bolsa: o mercado tem sempre razão. E já agora a número 2: quando se erra em Bolsa, assume-se o erro, e segue-se em frente. Afinal de contas, como dizíamos num artigo anterior, na Bolsa acabamos por estar sempre a passar por burros. Mas há uma coisa que faz de nós decisivamente humanos: é que ao contrário do simpático equídeo, temos capacidade para mudar de opinião. Ok, agora o BCP já pode descer! Just kidding!

Mas estes dias têm sido pródigos em lições. Vejam o que aconteceu hoje ao BES. Começa por subir até aos 7%,  a seguir cai como se fosse abrir falência, abrindo um rombo de 13%, e acaba o dia transformado no segundo melhor banco do mundo (a seguir ao BCP) a bombar 14 pontos percentuais. E não houve nenhuma notícia verdadeiramente relevante para um lado ou para o outro. É em coisas como esta que vocês acabam por descobrir se têm o que faz falta para andarem neste mundo selvagem e agreste dos mercados em que a completa inconstância do ser-humano é exposta de uma forma crua e sem bloqueios.

Entretanto, o PSI20 sobreviveu a mais uma prova de fogo e a média móvel de 200 dias continua a segurar o índice. Hoje fez no gráfico uma figura em forma de martelo que costuma ser um fortíssimo sinal de inversão da tendência descendente (aliás, o BES fez uma figura do mesmo género). Pelo menos no curto prazo, o grosso da borrasca é capaz de ter passado. Bons negócios para todos.