1.7.14

Montanha russa

Quando eu andava na escola primária ainda havia distribuição de bolos. Quer dizer, a D. Ermelinda, a nossa eficiente professora, não fazia a coisa por menos e ao mínimo deslize era mandatório estender a mão aberta para que a piedosa régua de madeira desabasse sobre ela. Cada erro ortográfico um bolo doce para quem fosse masoquista. Assim mandava a lei. Se fosses preguiçoso e não te apetecesse fazer os deveres tocava-te meia dúzia. E nem pio. Lembro-me de um colega que era tão empreendedor que um dia apareceu na escola com uma régua de madeira de primeira categoria, com buraquinhos pequeninos que marcavam as palmas das mãos e punham o sofrimento vários furos acima do que seria regulamentar. Como foi o primeiro a testá-la, encarregou-se de a fazer desaparecer no intervalo e a coisa ficou-lhe de escarmenta.

Vêm estas memórias de tempos que já não voltam a propósito do nosso volte-face em relação ao BCP. Houve erro de análise nosso e isso está-nos a custar uma pipa de massa. Se nos dessem um dúzia de bolos com régua de furinhos, garanto-vos que eram bem dados. A verdade é que o BCP está farto de subir e nós de fora a admirar o show. Sabem a quanto fechou hoje o BCP se não tivesse ocorrido o AC. Vai por extenso: vinte e sete vírgula três cêntimos. É obra! O banco está avaliado a mais de 7600 milhões de euros e nós há dias dizíamos que o preço já era maluco e ainda só ia em 6000 milhões. Onde é que falhamos? Não sabemos, nem queremos saber. A Bolsa não é um concurso de justificação de ideias feitas. A verdade é que o mercado não nos deu razão e, como sói dizer-se, o mercado é soberano. Essa é, de resto, a regra número 1 para quem investe em bolsa: o mercado tem sempre razão. E já agora a número 2: quando se erra em Bolsa, assume-se o erro, e segue-se em frente. Afinal de contas, como dizíamos num artigo anterior, na Bolsa acabamos por estar sempre a passar por burros. Mas há uma coisa que faz de nós decisivamente humanos: é que ao contrário do simpático equídeo, temos capacidade para mudar de opinião. Ok, agora o BCP já pode descer! Just kidding!

Mas estes dias têm sido pródigos em lições. Vejam o que aconteceu hoje ao BES. Começa por subir até aos 7%,  a seguir cai como se fosse abrir falência, abrindo um rombo de 13%, e acaba o dia transformado no segundo melhor banco do mundo (a seguir ao BCP) a bombar 14 pontos percentuais. E não houve nenhuma notícia verdadeiramente relevante para um lado ou para o outro. É em coisas como esta que vocês acabam por descobrir se têm o que faz falta para andarem neste mundo selvagem e agreste dos mercados em que a completa inconstância do ser-humano é exposta de uma forma crua e sem bloqueios.

Entretanto, o PSI20 sobreviveu a mais uma prova de fogo e a média móvel de 200 dias continua a segurar o índice. Hoje fez no gráfico uma figura em forma de martelo que costuma ser um fortíssimo sinal de inversão da tendência descendente (aliás, o BES fez uma figura do mesmo género). Pelo menos no curto prazo, o grosso da borrasca é capaz de ter passado. Bons negócios para todos.

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