27.7.14

Verão quente

Depois de umas semanas em que, apesar da nortada, se estava melhor a banhos que na bolsa, o PSI19 lá se decidiu sair da caixa laranja e, todo lampeiro, rompeu para cima. Quem não ficou bloqueado com o cagaço das semanas de hecatombe, sempre conseguiu alambazar-se como se fosse boda. É sempre dinheiro que parece à mão de semear, mas inacreditavelmente foge-nos tão depressa que quando damos por ela mais vale ficar a dormir para não fazer asneira. Este que daqui vos fala, por exemplo, ficou a olhar para o nabal quando o tiro de partida foi dado e depois foi uma sorte ter conferido os gráficos quando o demónio tentador entrou em cena já a parada estava alta. E que viu?


O índice quebrou em alta a EMA9 (linha verde) de curtíssimo prazo, e foi embater com estrondo na EMA21 (linha amarela) de curto/médio prazo, onde estancou a subida na sexta-feira. Tudo de acordo com os cânones e, de resto, muito semelhante ao que se passou há um ano atrás (há apenas a diferença de, no ano passado, a EMA21 coincidir com o topo da caixa verde). Aliás, se prosseguir o cenário do ano passado, vamos ter correção de novo até ao fundo da caixa (ou quiçá até à linha verde), que será atingido por volta do final da primeira semana de agosto (se eu acertar nesta porcaria desta previsão, meus amigos, foda-se, sou mesmo mágico). Nesse dia, ou entram, ou são uns cagarolas tão grandes que nunca mais vos quero ver à frente. Estou a brincar! A verdade é que o PSI só regressa ao bull market quando convictamente saltar para cima da linha vermelha que está no gráfico, a famosa SMA200, e a linha verde ficar acima da amarela e a amarela acima da vermelha. Vai ser preciso muito trepanço, mas não vos posso pôr a coisa em outros moldes porque estaria a enganar-vos! Nessa altura, paradoxalmente, teremos uma entrada bem mais segura do que agora, em que andamos para aqui a tentar apanhar saldos que podem bem vir a revelar-se artigos com defeitos!

Do lado fundamental há algumas coisas que também gostaríamos de assinalar, até porque a semana que ora se inicia promete ser quente e clarificadora.

Claro que quem não quiser andar metido em confusões tem opções mais adequadas (como o grupo EDP ou os CTT, por exemplo), mas é inevitável falar do BCP e do BES que têm sido, para o bem e para o mal, os artistas mais em destaque nos últimos tempos:
  • No BCP chega ao mercado já amanhã um manancial de novas ações que promete colocar o volume transacionado ao dia num patamar completamente inovador. Vai ser uma autêntica enxurrada! Toda a gente está a contar com que haja uma pressão vendedora inicial que faça descer a cotação. Se vai ser assim ou não, já não falta muito para que o saibamos. De qualquer das formas, acredito que possa haver grande volatilidade ao longo do dia, até porque depois do fecho são apresentadas as contas do primeiro semestre. E pode haver dissabor nos números. Se o banco assumiu até ao final de junho o crash da dívida do GES vão pelo menos 150 milhões para provisões, o que pode causar susto ao nível dos prejuízos (ver aqui). Para quem estiver comprador, e caso haja malhanço, vejo um valor muito engraçado na zona dos 0,111-0,112. Não me venham é chatear a cabeça se se estamparem. É que nós aqui no NeB somos daqueles que acham que mesmo que os resultados sejam bons pode haver sell on the news porque, como já aqui referimos múltiplas vezes, a valer 6,5 mil milhões de euros (cotação atual), de momento, o BCP não parece barato.
  • Falemos do BES. O BES é o casino da bolsa. Pôr dinheiro no BES é apostar forte na roleta ou numa caca desse género! Não é bolsa. Porém, na quarta-feira, com a apresentação de resultados, vamos ter uma clarificação. Julgo que a imagem de seriedade do Vítor Bento é o garante de que vai saltar cá para fora toda a verdade conhecida e não se vão colocar paninhos quentes sobre a situação. Prejuízos da ordem dos mil milhões e um aumento de capital até 2000 milhões julgo que estarão mais ou menos descontados pelo mercado. Não vai ser pílula fácil de engolir, mas a bolsa tem a vantagem de os preços se ajustarem tão magnificamente, que haverá por certo interessados em acudir ao peditório. Mas eu na sexta-feira vi a passar em rodapé na televisão, como se não fosse nada de especial, notícia de que há quem ache que o BES pode vir a precisar de 4000 milhões de euros. Se for verdade, bye, bye! Já agora, para aqueles que acham que o BES vai recuperar rapidamente (o Nomura, que teve de assumir uma posição das grandes no banco, e está mais do que aflito para se pôr a bulir, veio dizer que o moribundo vale 1,10€ por ação) deixo a nossa humilde e singela opinião. O BES valia muito dinheiro, e estava na primeira divisão da banca portuguesa, porque tinha por detrás todo um gigantesco grupo de empresas que operavam em praticamente todas as áreas que contam na economia - o GES. Para além disso, durante anos teve gente que se soube encostar ao poder e mexer os cordelinhos da forma certa. O BES era, à escala, o Goldman Sachs tuga. Mas tudo isso acabou da forma que temos tido oportunidade de ver. O GES escafedeu com estrondo e o BES perdeu toda a estrutura que lhe trazia valor acrescentado, ao mesmo tempo que aqueles que sabiam manobrar na sombra se converteram em criminosos a contas com a justiça. De maneira que nos parece provável que o valor do BES em bolsa se aproxime mais do valor do BPI do que do valor do BCP. Aliás, não foi por acaso que o Ulrich pareceu tão contente ao ironizar com o DDT na apresentação de resultados. Ele sabe que agora já tem com quem brincar e se calhar... casar! Ao BES, depois de o Espírito Santo ter falhado, nem a Santíssima Trindade poderá trazer a pujança de outrora. E esse é o verdadeiro drama de quem ocorreu ao último AC do banco: comprou uma porcaria que em pouquíssimo tempo desvalorizou de facto e não foi apenas por ineficiência dos mercados. À cotação atual, o BES vale 2500 M€ e o BPI cerca de 2200 M€. Se puserem 1000 milhões a mais no BES (e vão ser 1000 milhões puramente para tapar buracos e não com o fito de tentar criar algum tipo de valor, como sucedeu, por exemplo, no BCP), é fácil ver que a cotação atual é esticadota! Mas isso somos nós a fazer contas de cabeça. O mercado saberá melhor!
Nos mercados europeus a semana também não promete ser fácil. Ao atacar um avião cheio de holandeses, os afilhados do Putin colocaram em sérias dificuldades o padrinho. É que há países que, apesar de serem insignificantes em termos geográficos e de população, têm tanta força e influência que quando mexem com eles o mundo pula e avança (ver aqui). Infelizmente não é o nosso caso, tristes tugas (façamos uma vénia de agradecimento ao nosso grande monarca Manuel I, que se encarregou de exportar judeus para o laranjal)! A nossa dúvida está em saber como é que os mercados vão acolher medidas que, se podem fazer tanto dano à Rússia, não devem ser 100% inofensivas para a UE. Olhando para o gráfico dos índices europeus, diríamos que há muito mais gente com a mesma dúvida! 

Bons negócios e boa semana.

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