Ao princípio até nem nos
arranjamos mal porque havia por aí umas velas que davam uma luzinha muito
decente e, embora ficássemos um bocadinho ridículos à luz da velinha a
tremeluzir, ninguém se queixava, a não ser quando nos pelávamos todos ou alguém
deitava fogo a uma casa e tínhamos de ir a correr, a acarretar baldes de água
ou pás de areia, e aquilo tinha dias em que chegava a ser uma galhofa pegada e
quase nem sentíamos a falta dos nossos computadores e das redes sociais.
Mas um dia acabaram as velas, bem,
a verdade é que não acabaram apenas as nossas velas, mas todas as velas do mundo,
e como já não se fabricavam velas porque a máquina que as fabricava não tinha
luz para funcionar, acabamos por ter de amolar com a escuridão. Para ser
franco, a história das velas até nem teve grande importância porque mesmo que o
estoque não se tivesse esgotado, a verdade é que não nos iam servir para nada,
a não ser talvez para atirarmos uns aos outros como se fossem petardos ou
coisas assim, porque se nos acabaram os fósforos.
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