26.4.17

Histórias de dinheiro

Primeira parte


O amigo Antonino tinha umas terras e produzia milho. Como acontecia (e acontece) com todas as matérias-primas, também o preço dos grãos estava sujeito à influência de um sem número de variáveis, de maneira que todos os anos, por altura da sementeira, o amigo Antonino enfrentava o problema de não saber com que margem de lucro podia contar, partindo do princípio de que teria produto final para vender. Depois de deitar os grãos à terra havia uma parte ínfima do seu futuro que ele conseguia controlar, mas a maior parte do que se seguiria até ter o produto final para vender permanecia completamente fora de controlo, e estava ligado a uma quantidade tão grande de variáveis que todos os dias oscilava entre a fortuna e a desgraça. 



O amigo Bartolomeu tinha uma fábrica de pipocas que fornecia tudo quanto é cinema e romaria da região. Para além disso, tinha construído uma estufa em que aproveitava o carolo e a palha para produzir energia com que secava os grãos e aquecia os fornos. A margem de lucro e os resultados operacionais da fábrica do amigo Bartolomeu estavam bastante dependentes do preço do milho nos mercados e, como é evidente, ele vivia em permanente sobressalto a acompanhar a evolução do crescimento das plantas no campo do amigo Antonino e a seguir as perspetivas para a safra. E todos os dias quando passava pelo café da aldeia, o amigo Bartolomeu verificava que o preço futuro da colheita de milho ia variando na conversa dos amigos, ao mesmo ritmo a que oscilava um enorme conjunto de parâmetros que iam desde as previsões climatéricas de curto e longo prazo, passando pelas movimentações políticas e até aos humores pessoais de cada um, ou à qualidade da pinga que tinham na malga.

O amigo Casimiro transacionava milho, comprando ao amigo Antonino para vender ao amigo Bartolomeu. Para ser um intermediário viável tinha, como é evidente, que trazer valor acrescentado à cadeia que vai do campo à fábrica. Afinal de contas, amigos amigos, negócios à parte e quem não acrescenta… está a mais! Claro que a mais-valia do amigo Casimiro começava por estar na capacidade de armazenamento em que se havia especializado, tornando possível que arrematasse de uma só vez grandes quantidades aos produtores. Como espaço também é dinheiro, ao construir armazéns libertava terreno que o amigo Antonino podia usar para cultivar e o amigo Bartolomeu aproveitava para, por exemplo, construir uma linha de flocos de cereais e diversificar a atividade. Por esse motivo, o amigo Casimiro acabava por se tornar imprescindível, embora nada produzisse e vivesse apenas de comerciar. Mas o amigo Casimiro tinha o senão de estar no ponto mais fácil da cadeira de negócio, pelo que se ficasse confinado ao armazenamento iria inevitavelmente enfrentar concorrência que, mais cedo ou mais tarde, lhe destruiria a vantagem competitiva. Para poder sobreviver, o amigo Casimiro tinha de se tornar mais importante aos olhos dos amigos Antonino e Bartolomeu. Era preciso identificar necessidades de A e de B e conseguir encontrar uma solução que, não só desse uma resposta a esses problemas, como aumentasse o lucro de C. 

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