27.4.17

Histórias de dinheiro

Segunda parte


Quando semeava milho, o amigo Antonino contava com uma margem de lucro mínima para que o esforço valesse a pena e ele se sentisse recompensado. Tudo o que viesse acima desse lucro mínimo iria fazer crescer a excelência do ano a um ritmo exponencial. Do nível definido para baixo entrávamos no terreno perigoso em que o ano dava para o torto também a uma taxa assustadoramente crescente, até ao ponto em que se começava a ter prejuízo. Havia ainda que contar com os anos trágicos em que um vendaval ou um qualquer fenómeno extremo pusesse termo à colheita antes de esta se fazer, pelo que o nível a que era estabelecida a margem de lucro mínima tinha sempre que levar em linha de conta essa possibilidade.

Como para o amigo Bartolomeu a grande fatia de despesa estava na compra do milho, era definido todos os anos pela gerência um valor ótimo para a compra do alqueire, de preferência um valor que fizesse crescer a margem de lucro, e que levasse em linha de conta fatores como a oferta de matéria-prima, os custos energéticos, de transporte e de embalamento, e a procura de produto final. Se se ia conseguir comprar o milho na data da colheita acima ou abaixo do valor estipulado era a grande incógnita do exercício anual, e, no final de contas, o motivo último para a empresa ser ou não viável e as respetivas ações subirem ou descerem.

Foi neste ponto que o amigo Casimiro surgiu com a solução que o iria tornar ainda mais indispensável aos olhos do amigo agricultor e do amigo empresário. O amigo Casimiro lembrou-se de que podia acertar a compra de toda a colheita do amigo Antonino muito antes de as espigas estarem prontas para a debulhadora. E também podia acertar a venda do milho ao amigo Bartolomeu muito antes de este estar pronto para entrega. Tudo o que precisava de fazer era um contrato com os dois amigos: um contrato A de compra no futuro de milho por um preço já definido e um contrato B de venda de milho no futuro por um preço também previamente estipulado. Claro que o preço definido nos dois contratos seguiria de perto o sentimento do mercado no momento em que eram estabelecidos, e havia um grau de incerteza grande sobre o preço até ao momento no futuro em que os contratos fossem executados, mas desde que o preço definido em B fosse maior que o preço acordado em A, subtraindo todas as despesas de transporte e armazenamento, podia estar descansado pois teria lucro.

Do ponto de vista do amigo Antonino e do amigo Bartolomeu a solução apresentada pelo amigo Casimiro era uma dádiva dos céus desde que o valor contratado estivesse acima do valor confortável definido pelo primeiro e abaixo do valor ótimo inscrito pelo segundo. Na maior parte das vezes, não era difícil que os três se pusessem de acordo e as condições intermediadas pelo amigo Casimiro fossem aceites por todos como uma grande mais-valia para o sucesso mútuo. Com o passar do tempo, estes contratos com vencimento no futuro acabaram por receber o original nome de contratos de FUTUROS.

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