Quando semeava milho, o amigo
Antonino contava com uma margem de lucro mínima para que o esforço valesse a
pena e ele se sentisse recompensado. Tudo o que viesse acima desse lucro mínimo
iria fazer crescer a excelência do ano a um ritmo exponencial. Do nível
definido para baixo entrávamos no terreno perigoso em que o ano dava para o
torto também a uma taxa assustadoramente crescente, até ao ponto em que se
começava a ter prejuízo. Havia ainda que contar com os anos trágicos em que um
vendaval ou um qualquer fenómeno extremo pusesse termo à colheita antes de esta
se fazer, pelo que o nível a que era estabelecida a margem de lucro mínima
tinha sempre que levar em linha de conta essa possibilidade.
Como para o amigo Bartolomeu a
grande fatia de despesa estava na compra do milho, era definido todos os anos
pela gerência um valor ótimo para a compra do alqueire, de preferência um valor
que fizesse crescer a margem de lucro, e que levasse em linha de conta fatores
como a oferta de matéria-prima, os custos energéticos, de transporte e de
embalamento, e a procura de produto final. Se se ia conseguir comprar o milho
na data da colheita acima ou abaixo do valor estipulado era a grande incógnita
do exercício anual, e, no final de contas, o motivo último para a empresa ser
ou não viável e as respetivas ações subirem ou descerem.
Foi neste ponto que o amigo
Casimiro surgiu com a solução que o iria tornar ainda mais indispensável aos
olhos do amigo agricultor e do amigo empresário. O amigo Casimiro lembrou-se de
que podia acertar a compra de toda a colheita do amigo Antonino muito antes de
as espigas estarem prontas para a debulhadora. E também podia acertar a venda
do milho ao amigo Bartolomeu muito antes de este estar pronto para entrega.
Tudo o que precisava de fazer era um contrato com os dois amigos: um contrato A
de compra no futuro de milho por um preço já definido e um contrato B de venda
de milho no futuro por um preço também previamente estipulado. Claro que o
preço definido nos dois contratos seguiria de perto o sentimento do mercado no
momento em que eram estabelecidos, e havia um grau de incerteza grande sobre o
preço até ao momento no futuro em que os contratos fossem executados, mas desde
que o preço definido em B fosse maior que o preço acordado em A, subtraindo
todas as despesas de transporte e armazenamento, podia estar descansado pois
teria lucro.
Do ponto de vista do amigo
Antonino e do amigo Bartolomeu a solução apresentada pelo amigo Casimiro era
uma dádiva dos céus desde que o valor contratado estivesse acima do valor
confortável definido pelo primeiro e abaixo do valor ótimo inscrito pelo
segundo. Na maior parte das vezes, não era difícil que os três se pusessem de
acordo e as condições intermediadas pelo amigo Casimiro fossem aceites por todos
como uma grande mais-valia para o sucesso mútuo. Com o passar do tempo, estes
contratos com vencimento no futuro acabaram por receber o original nome de
contratos de FUTUROS.
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