Esta espécie de apêndice que trazem
colado a um dos lados cerebrais é, inusitadamente, a primeira marca visível dos
seres biónicos que já são: germinam em cada lugar, anódinos, passando ao de
leve pela vida.
Não lhes
interessa o peso-pluma dos pardais saltitando à sua frente, pululantes e
bicando o solo dos dias, a brisa nos ramos secos no mais belo Inverno de sempre
- por ser o de agora -, os precoces odores a comida desta meia-manhã citadina.
Há, pois, movimento, ar e alimento. No caso do primeiro e do último exemplos, a
sua falta seria notada após, no máximo, algumas horas; o caso central, o do ar,
seria imediatamente notado, a par com a falta do tal apêndice colado na parte
exterior do cérebro e enviando-nos informação a ritmo pluridiário.
Há algo de
sabor metálico - como quando se estanca na boca o fluxo saindo de dedo cortado
há segundos - nesta acepção: se o ar faltasse/se o aparelho faltasse, o efeito
seria imediato. Equiparam-se, aqui, duas formas de respiração: a de cada
humano/a do planeta, que não sabe, já, de si, sem a comunicação permanente.
Daqui a uns
meros dez anos, mais não seremos do que seres semi-curvados, semi-surdos,
semi-vazios de olhares sobre os pardais, do efeito na pele sob a brisa, de
cheiro dos alimentos. Há qualquer coisa de sabor a cinza, nesta ausência de coisas
vivas, descartando-se os sons da vida real que nos submerge, alheados que
andamos no desespero de saber sempre novas coisas. E do que a cada dia temos
como absoluta garantia, temos sabido saboreá-lo como o novo que de facto é, a
cada novo dígito que o calendário nos dá?...
Sem comentários:
Enviar um comentário