8.1.15

Somos todos Charlie

Por muito que nos apeteça falar hoje de bolsa, e não falta assunto para tratar, não podemos deixar passar em claro, nós que somos dos que usamos incondicionalmente o direito à opinião por que tanto lutaram os nossos ascendentes, os terríveis acontecimentos de ontem em Paris.

Na Europa do início do século XVII, não faltava quem pagasse com a vida quando a expressão de uma opinião sobre determinado assunto se desviava dos cânones estabelecidos pela maioria ou pela hierarquia dos todo-poderosos.

Durante imenso tempo foi matéria de fé a convicção inabalável de que a Terra se encontrava no centro do Universo. Não só todas as evidências observacionais levavam a essa conclusão lógica, como resultava absolutamente herético conceber um Deus que pudesse colocar a sua mais preciosa criação, nós, noutro local que não o centro absoluto. Desdizer a centralidade da Terra, era, para além de consumada loucura, ato de rebelião contra a fé e a sapiência divina e qualquer palavra dita nesse sentido costumava custar horrores e por vezes a morte.

E foi preciso um homem, Galileu Galilei, munido do seu telescópio caseiro, descobrir luas em Júpiter*, faz hoje 405 anos, para que o Homem se libertasse da tirania dos que se acham donos da verdade e pudesse pôr em prática aquilo que os assassinos de ontem querem de novo abafar. 

E não é por acaso que as descobertas de Galileu marcam também a inauguração da Ciência moderna. É que só quando é livre de se expressar é que o Homem atinge a plenitude das suas capacidades intelectuais e consegue tornar humano o que os escravos da palavra consideram divino. Se os assassinos intolerantes vencerem, Galileu sairá derrotado e voltaremos todos para a idade das trevas e da selvajaria. Que não haja concessões, nem medos, porque o que está em causa é aquilo que conquistamos de mais precioso.

Hoje, tal como ontem, e sempre também NÓS SOMOS CHARLIE!




*As luas de Júpiter rodam em torno de Júpiter e não em redor da Terra, pelo que, do ponto de vista das luas, a Terra não está no centro.

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