Há
poucos dias atrás um comentador americano de assuntos económicos (que não me
lembra o nome) apelidou a Grécia de “O Irmão Bêbado”. Como se a zona euro fosse
uma daquelas famílias respeitáveis que têm no seu seio um elemento que estraga as
festas de família, e que todos estão sempre à espera que não apareça para não
passarem vergonha frente aos outros – “o irmão bêbado”.
Para
uma família respeitável é sempre muito chato ter que expulsar “o irmão bêbado”
dos encontros sociais de família, pois afinal de contas... é da família, e a
consciência pesa sempre nesses casos. A Europa encontra-se nesse dilema. “O
Irmão Bêbado” vocifera, diz disparates, chantageia porque sabe que a família
não o irá expulsar; ele sabe bem que os outros são mais razoáveis que ele
próprio. O álcool não dá inteligência mas também não tira o instinto.
A
situação na zona euro é delicada e podemos estar prestes a assistir à tomada de
decisões importantes. O ministro das finanças grego, até há pouco tempo tido
como uma espécie de herói da BD, veio mais uma vez avisar: se a Grécia sai do
euro, o euro está condenado. Pela minha parte acho que a situação é a oposta.
Uma moeda é uma criação muito complexa e delicada (ler “O poder do Dinheiro”,
Milton Friedmann), onde, por vezes, flutuações mínimas nas regras que regem a
moeda podem ter efeitos bruscos e tremendos. É como se a nossa família tivesse
ao seu dispor sempre, e apenas, porcelana chinesa da mais exótica, e tivesse
todos os dias que se servir dela. Um “irmão bêbado” no meio de tais delicadas
preciosidades pode constituir um sério risco à integridade delas. A saída da
Grécia da zona euro poderá a curto prazo levantar poeira, mas será apenas isso.
A
verdadeira intenção do governo grego para os últimos dias de negociação foi,
ingenuamente, transmitida, por um membro do Syriza que se encontra em Lisboa,
numa entrevista na rádio no dia 26. Disse ele que o objetivo é conseguir, para
já, um acordo provisório. Para que em setembro se inicie a discussão do acordo
final, esse sim que irá resolver a situação do problema Grego de uma vez por
todas, já que haverão outros países do sul da Europa (não disse quais, mas
imagina-se) que irão secundar a visão que o governo grego tem dele.
Eles
estão a ver o PODEMOS a ganhar a eleições em Espanha. Se isso acontecesse
iríamos ter não um mas dois irmãos bêbados, e este último bem mais violento e
pesado. Então não haveria salvação para a porcelana chinesa e o euro já era.
Mas não acredito que vá ocorrer esse cenário. Em Espanha aconteceu com as eleições
municipais o que já tinha ocorrido com as europeias no Reino Unido, onde o UKIP
se destacou para depois, nas legislativas, ter eleito apenas um deputado.
As
eleições que verdadeiramente contam, em qualquer país, são as que decidem o
governo. As outras podem servir para muita coisa, entre elas como protesto. E
num país, como Espanha, com o desemprego que tem, muito têm eles que protestar.
Mas daí a entregarem o governo a um punhado de aventureiros de esquerda radical
que os vão enterrar vivos no tempo e mandá-los para meados do século XX, é
outra história.
Os
gregos fizeram isso, poderão dizer. É verdade! Mas, até agora, o que ganharam?
E será que estamos a vislumbrar, pelo menos, trabalho para garantir um melhor
futuro para os gregos? O governo grego é campeão pelo menos numa coisa; eles
falam, falam, falam... e a credibilidade do país afunda-se na lama, afunda-se,
afunda-se...
Os
próximos dias poderão trazer desenvolvimentos decisivos. Ou então vai-se adiar
a solução mais uma vez... para setembro como eles querem.