Com que então, de acordo com declarações do ministro do interior, os gregos vão mesmo experimentar incumprir. Tal como os venezuelanos do tempo de Chavez, que se ofereceram benignos para repetir pela enésima vez experiências económicas demagógicas, que desde sempre deram errado, também os gregos comandados pelo Syriza vão entrar de peito feito nessa aventura tantas vezes tentada (e outras tantas falhada), ao longo da história da humanidade, que é o incumprimento de compromissos financeiros.
Cremos, pois, que vamos ter uma semana animada, com os políticos de olhos postos na reação dos mercados e a agir em consonância. O facto de a notícia estar a ser avançada sem grande impacto nos media (até agora) e vir cá para fora através de um personagem menos evidente que o Tsipras ou o Varoufakis tem tudo que ver com a estratégia de deixar espaço para um possível desmentido, se a reação for brutal. E não devemos esperar menos do que turbulência assustadora (aliás, o gap no euro/dólar na sexta-feira já fazia prever que algo de decisivo se iria passar no fim-de-semana). A verdade é que não precisávamos de mais nada para termos montado o cenário para assistirmos a uma situação histórica, mas se juntarmos esta notícia e se os resultados das eleições municipais em Espanha confirmarem as previsões de subida do Podemos e do Ciudadanos, então teremos matéria para repetir pela quarta vez um verão quente (depois da quase falência da república em 2012, do irrevogável episódio de 2013 e do colapso do BES em 2014), sendo que desta vez a tramóia já não é paroquial, mas sim global!
Se o incumprimento com o FMI se confirmar, deixa de fazer sentido prolongar as negociações com os gregos de modo a evitar o incumprimento global, pelo que se passará a uma fase de tentar resgatar o máximo que for possível, com um acordo que evite que eles não paguem nada a ninguém. É provável que se torne incontrolável a fuga de depósitos da Grécia (e é possível que também de outros países, como Portugal, pois muitos dos que perderem dinheiro com os gregos vão ter que sacar de outros países para fazer face ao desfalque!) e não nos admiraríamos que o governo grego tivesse que congelar as contas bancárias e impor uma espécie de corralito. A emissão de moeda própria ou de outro tipo de títulos para pagar os salários e pensões é outro passo que muito provavelmente se vai seguir.
Claro que poderíamos pensar que a comunidade internacional e, de forma especial, a União Europeia, pressionadas pelo arrojo grego tudo tentariam fazer para forçarem um qualquer tipo de acordo de última hora que evitasse o pior, mas ao olhar para os desenvolvimentos dos últimos dias, fica-se com a ideia de que toda a gente já está farta de negociar e se mostra desejosa de experimentar a solução mais radical. Portanto, dado o primeiro passo de rutura por parte dos gregos, não parece plausível que se volte atrás (a não ser que ocorra um desmentido) e será sensato passar a contar com o pior. Aliás, só o facto de se assumir que não se paga ao FMI, cujos recursos, é bom recordar, resultam das contribuições dos países membros, coloca a comunidade internacional na contingência de ter que reagir de forma exemplar, de modo a desincentivar o incumprimento.
Estamos perante, pois, um cisne negro, um acontecimento improvável e disruptivo, que tem o potencial de mudar as regras do jogo e que cria grandes doses de incerteza. Nos mercados este tipo de acontecimento costuma destruir e criar fortunas consoante estamos do lado certo ou errado da barricada. Vamos ver se desta vez é diferente!
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