O mercado segue tendências que são definidas pelo confronto diário entre as expectativas do passado, a realidade do presente e as expectativas quanto ao futuro.
Enquanto a maior parte de nós, investidores caseiros, andamos prá'qui a tentar acertar no que vai dar dinheiro logo que possível, uns mais escarmentas com investimentos ruinosos de longo prazo e outros armados em especuladores de algibeira, aqueles que têm por modo de vida a arte de gerir fortunas não se podem dar ao luxo de fazer opções assentes em meros palpites ou puramente na análise técnica de gráficos. A esses cabe-lhes, como é evidente, meter mesmo a mão na massa e perspectivar, em cada momento, a evolução das diversas variáveis que podem influenciar o andamento da economia de um ponto de vista macro e também o desempenho relativo das diferentes áreas de negócio. E são esses, claro, que acabam por inevitavelmente traçar a tendência dos mercados, ao reagir às expectativas que vão criando.
Graças ao bom desempenho global da economia americana foi-se criando, ao longo dos últimos meses, a expectativa de que as taxas de juro subiriam inevitavelmente no decorrer deste ano, marcando o início de um ciclo de maior restrição em termos de crédito que evitasse a formação de bolhas especulativas. Maiores restrições em termos de crédito significam geralmente menos recursos para investir nos mercados financeiros, o que aliado a uma possibilidade real de as empresas investirem menos e ganharem menos dinheiro costuma levar a que a bolsa corrija em baixa. Acontece que juntamente com a crise grega e com o QE do BCE a expectativa de subida de juros na América levou a uma subida do dólar face ao euro o que acabou por prejudicar as exportações americanas, contribuindo para uma descida das encomendas industriais, para um crescimento anémico do PIB trimestral e um ligeiro aumento do desemprego. Esses dados económicos maus reduziram, por sua vez, as expectativas de que a Fed suba os juros a breve prazo para arrefecer uma economia que não parece muito quente, o que levou a que, entre outras coisas, a bolsa retomasse a subida. É que aqueles que tinham a expectativa de que haveria descida foram levados a encarar a possibilidade de estarem enganados. Portanto, as más notícias da economia foram boas notícias para os mercados, que estão a marcar máximos históricos.
Só que a mudança de expectativa para uma subida menos expedita de juros americana fez tombar o dólar face ao euro, o que criou a expectativa de que as empresas exportadoras europeias saiam prejudicadas, coisa que, de resto, já parece estar a acontecer, atendendo a alguns números que têm saído. De maneira que a más notícias americanas se transformaram, por ora, nas boas notícias para os índices do lado de lá, e nas más para os de cá que têm ainda que contar com o lastro grego.
Dissemos aqui que tínhamos a expectativa de que o S&P500 pudesse quebrar em baixa o canal de longo prazo no último assalto. Não o fez e como tal invertemos a expectativa (já andamos nisto há tempo suficiente para perceber de que não há nada que seja mais devastador nos mercados do que entrarmos num dado movimento antes do tempo). Hoje fez máximos, mas o volume não foi famoso o que costuma ser sinal de alguma dificuldade em progredir. Mas máximos históricos têm sempre muita força, e ainda que haja naturais correções, é preciso ser realista porque a tendência é clara! Para cima há um valor a vigiar no topo do canal (hoje nos 2200 pontos)*; para baixo, o gráfico manda olhar para a base nos 2090.
*Da última vez que fez máximos vindo da base do canal, em fevereiro último, o S&P500 não conseguiu atingir o topo ficando a 1% desse valor.
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