História nº
1 (sétima parte)
Vamos voltar ao ponto em que deixamos o nosso
recém-banqueiro que lutava para tornar o negócio mais rentável e teve a
epifania de rentabilizar a própria dívida.
Quando o banco nos empresta dinheiro, digamos
para comprar uma casa, coloca-nos na mão um recibo (notas de banco, cheque ou
simplesmente um número na conta bancária) com o qual nós, em princípio,
poderíamos levantar ouro do cofre do banco, para entregar ao vendedor como
pagamento da casa. Em troca, entregamos ao banco uma hipoteca em que nos
comprometemos a liquidar o capital mais os juros acordados, num prazo definido,
sob pena de a nossa compra ser executada e entregarmos um bem de uma só vez.
Só que, em vez de procedermos ao levantamento
do ouro do cofre, pegamos no recibo e passamo-lo para as mãos do vendedor que,
muito provavelmente, o voltará a depositar no banco, aumentando o quinhão de
ouro a que teria direito, mas deixando o metal intacto nos cofres do banco. Claro
que o vendedor pode depositar o recibo noutro banco, obrigando o nosso ourives
a transferir ouro para a concorrência. Antigamente, este problema resolvia-se
de espada em punho; hoje em dia, optamos por uma solução menos sangrenta: um
banco central!
Mas a genialidade do nosso banqueiro veio ao de
cima quando ele compreendeu que a hipoteca que lhe tínhamos entregue tinha
um valor intrínseco. Embora não fosse metal precioso, quem não gostaria de
possuir hipotecas de outros a nosso favor. Afinal de contas, uma hipoteca
garante o pagamento de uma renda, ao mesmo tempo que assegura que, em caso de
incumprimento, temos direito a uma indemnização. Portanto, é, em si mesmo, um
valor. Os empréstimos que os bancos fazem são património que detêm, ao passo
que os depósitos dos clientes são dívidas. No fundo, as hipotecas acrescentam
valor ao ouro que o banqueiro tem no cofre (porque para as adquirir, o
banqueiro não prescindiu de ouro, mas emitiu notas - dinheiro). E é aqui que a
coisa começa a carburar: ao acrescentar hipotecas ao cofre, sem retirar ouro, o
banqueiro aumenta as suas reservas e pode, dessa forma, fazer novas hipotecas.
Quantas mais hipotecas fizer, mais juros
recebe, mais reservas possui e mais hipotecas pode fazer. Elementar e genial!
No final, se quiser manter a regra de possuir
reservas de 10% do valor que põe a circular, pode operar a magia de multiplicar
por 10 as reservas de capital efetivo.
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