Saber porque cai a bolsa de uma forma mais violenta é sensivelmente a mesma coisa que tentar adivinhar por que motivo ficamos doentes. Na maior parte das vezes não existe apenas uma causa, mas sim todo um conjunto de circunstâncias que acabam por concorrer para que tenhamos um desequilíbrio entre atacantes e defensores (entre vírus ou bactérias e sistema imunitário, entre touros e ursos, entre compradores e vendedores).
Na semana que terminou assistimos a um desses movimentos violentos, de forma muito particular no DAX alemão, que na quarta-feira teve a maior queda do ano:
Terá a queda sido provocada por um prenúncio de sell in may...?, terão sido os fraquíssimos números da economia americana?, terá sido a subida do euro face ao dólar?, o impasse nas negociações com a Grécia?, alguma incerteza das eleições no Reino Unido?, o terramoto no Nepal?, a subida da cotação do petróleo?, os resultados amorfos de algumas empresas importantes?, ou teremos tido nada mais do que uma correção, um pouco mais vigorosa, num movimento que leva quase 20% de subida desde 1 de janeiro?
A nossa opinião é de que todos esses fatores terão efetivamente pesado no aparecimento de tão grande número de vendedores, mas há um facto, a que já tínhamos feito referência aqui, que nos parece estar a sobrepor-se a todos os outros: a inflação na zona euro!
Como todos os frequentadores desta casa saberão, o programa de compra de ativos financeiros que o BCE tem em curso não é uma medida de simpatia nem de opção política, mas decorre dos próprios estatutos do banco central europeu, que impõem que o principal objetivo da política monetária seguida pela instituição seja o controlo da inflação. E esse controlo faz-se por diversas vias, sendo a principal, evidentemente, o controlo da oferta monetária.
Sempre que a inflação sobe e se aproxima dos 2%, estabelecidos como barreira superior, sobem-se as taxas de juro e emitem-se obrigações no sentido de, por um lado, desincentivar o consumo e, por outro, retirar dinheiro de circulação. Claro que as duas medidas em conjunto costumam ter um efeito negativo no investimento e na confiança dos agentes económicos e, por esse motivo, vêm associadas a ciclos económicos recessivos.
Se a inflação baixa procede-se de forma oposta, bastando, geralmente, uma descida dos juros para servir de incentivo a um abrir dos cordões à bolsa por parte dos consumidores, que fomente o investimento e leve a economia de volta a ciclo de maior confiança. Acontece que, desta vez, a confiança dos agentes económicos não reagiu da forma habitual ao corte nas taxas de juro, e os preços dos produtos continuou a cair nos mercados, porque a produção não encontrava procura.
Foi nesse contexto de inflação negativa que o BCE (que tem estatutos muito mais conservadores do que os da Fed ou os do BoJ, que implementam programas semelhantes de uma forma mais relaxada) se viu finalmente obrigado a lançar mão de um programa de quantitative easing (QE), que é sempre uma medida de último recurso, porque tem implícito um risco enorme de se ir longe de mais.
Manobrar dessa forma uma economia gigante como é a da zona euro é algo que se pode comparar a conduzir um gigantesco petroleiro: é muito arriscado acelerar muito, porque a inércia é tão grande que podemos causar uma enorme destruição! Injetar dinheiro nos mercados tem, acima de tudo, o problema de os efeitos serem ao retardador e padecerem de uma grande inércia, pelo que se torna fundamental acompanhar de forma muito vincada todos os dados que vão chegando da produção industrial, do nível de investimento, do comportamento dos consumidores e, acima de tudo, da inflação. Se a inflação recupera, é muito fácil não conseguir travar a tempo, e termos uma subida de preços demasiado abrupta que obrigue a uma tomada de medidas recessivas!
Manobrar dessa forma uma economia gigante como é a da zona euro é algo que se pode comparar a conduzir um gigantesco petroleiro: é muito arriscado acelerar muito, porque a inércia é tão grande que podemos causar uma enorme destruição! Injetar dinheiro nos mercados tem, acima de tudo, o problema de os efeitos serem ao retardador e padecerem de uma grande inércia, pelo que se torna fundamental acompanhar de forma muito vincada todos os dados que vão chegando da produção industrial, do nível de investimento, do comportamento dos consumidores e, acima de tudo, da inflação. Se a inflação recupera, é muito fácil não conseguir travar a tempo, e termos uma subida de preços demasiado abrupta que obrigue a uma tomada de medidas recessivas!
Ora, estamos em crer que é justamente a recuperação muito rápida da inflação na zona euro (não duvido de que estará a ser mais rápida do que se estaria à espera) que nos parece ser o catalisador principal para que o DAX tenha ativado sinal de venda no dia 16 de abril, com a quebra em baixa da Lta anual! Aliás, esse mesmo facto de haver uma eliminação do cenário de deflação (veremos nas próximas semanas se é para valer), ao fim de tão pouco tempo de QE, estará, tanto quanto somos levados a crer, na origem da recuperação do euro face ao dólar (em conjunto, talvez, com uma perceção de que as taxas de juro americanas não sobem para já) e de uma subida nas taxas de juro das dívidas soberanas, fatores que obviamente também contribuem, de per si, para levar as bolsas para baixo, principalmente a subida do euro relativamente à Alemanha fortemente exportadora.
No dia 16 de abril, creio que muitos terão associado a quebra flagrante do DAX ao impasse negocial na Grécia, mas a verdade é que, até ver, não se nota que a crise ateniense esteja a causar grande mossa nos mercados (sobem quase todos em torno dos 20% anuais, apesar de Atenas continuar sem chegar a acordo). E isso acontece, creio, porque a maioria dos investidores acha tão nefasto o cenário de incumprimento que não imagina que não se chegue a um acordo nem que seja, para usar linguagem futebolística, nos descontos.
Agora tememos que o anúncio de um acordo nos próximos dias possa ser o toque a finados deste bull market, pelo menos no médio prazo (e o sinal para o celebérrimo sell in may...). Estamos em crer que será de vigiar a zona de intervalo entre as médias móveis no DAX, por volta dos 11750 pontos e a resistência dos 12000 pontos. Uma recuperação até esses valores será de prever se o acordo com os gregos for alcançado. Quebra acima só teremos se o mercado ficar convencido de que o QE até setembro do próximo ano é para valer, o que estará dependente de números deflacionários (toda a gente sabe que a deflação é má economicamente, mas neste momento, o mercado está focado num QE que só sobrevive com deflação). No entanto, olhando para a reação recente dos mercados e para os números da economia, estamos em crer que há potencial para que a recuperação de curto prazo seja o prenúncio para uma correção mais acentuada:
No dia 16 de abril, creio que muitos terão associado a quebra flagrante do DAX ao impasse negocial na Grécia, mas a verdade é que, até ver, não se nota que a crise ateniense esteja a causar grande mossa nos mercados (sobem quase todos em torno dos 20% anuais, apesar de Atenas continuar sem chegar a acordo). E isso acontece, creio, porque a maioria dos investidores acha tão nefasto o cenário de incumprimento que não imagina que não se chegue a um acordo nem que seja, para usar linguagem futebolística, nos descontos.
Agora tememos que o anúncio de um acordo nos próximos dias possa ser o toque a finados deste bull market, pelo menos no médio prazo (e o sinal para o celebérrimo sell in may...). Estamos em crer que será de vigiar a zona de intervalo entre as médias móveis no DAX, por volta dos 11750 pontos e a resistência dos 12000 pontos. Uma recuperação até esses valores será de prever se o acordo com os gregos for alcançado. Quebra acima só teremos se o mercado ficar convencido de que o QE até setembro do próximo ano é para valer, o que estará dependente de números deflacionários (toda a gente sabe que a deflação é má economicamente, mas neste momento, o mercado está focado num QE que só sobrevive com deflação). No entanto, olhando para a reação recente dos mercados e para os números da economia, estamos em crer que há potencial para que a recuperação de curto prazo seja o prenúncio para uma correção mais acentuada:
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