28.6.15

Revolução

Não é preciso ser grande conhecedor de História para saber que a esquerda sempre preferiu a via revolucionária para resolver os dilemas sociais com que os povos se vão deparando. E não há mal nenhum com essa via que será, em princípio, tão legítima quanto qualquer outra. A revolução é uma opção de natureza radical para levar a mudanças profundas numa sociedade, através de um processo que é contra-intuitivo e teve, muitas vezes e em diversos locais, que ser imposto por via da força. Mas é uma opção que surge de tempos a tempos quando o número de descontentes é tão grande que poucos têm muito a perder.

Ao optar por um Governo de esquerda (com o superlativo de radical) os gregos sabiam ao que iam. Hoje é claro que os do Syriza nunca quiseram chegar a qualquer tipo de acordo, mas antes gastaram tempo a preparar o caminho para passarem por vítimas quando as dores da revolução se fizerem sentir. E nunca há revolução indolor, da mesma maneira que nunca houve na História revoluções rápidas. O caminho que os gregos se preparam para trilhar é um caminho radical, como é o Governo que escolheram. Mas Tsipras mantém sempre o escudo protetor que lhe vai permitir impor a revolução que planeou sem os riscos de passar por causador de desgraças. Ao aprovar um referendo dá ao povo a opção de decidir, sabendo que a probabilidade de ganhar é grande, dado o pouquíssimo tempo disponível para refletir e a elevada taxa de aprovação de que beneficia. No fim, enquanto os gregos sofrerem as dores do processo revolucionário e até que a luz se acenda lá bem ao fundo do túnel, poderá sempre continuar a atribuir as culpas às instituições e ao povo que decidiu democraticamente.

Ao ver numa reportagem na TVI uma espanhola que vive em Atenas dizer que não lhe interessa continuar no euro porque o euro só lhe trouxe dívidas e nada de bom percebemos que muitos estão de facto a precisar de uma revolução, algo que mude de forma radical a forma como vivem e os leve a experimentar novas realidades. Quanto mais não seja para poderem continuar a procurar culpados para os problemas que os afligem!

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