Joga-se nas altas esferas europeias o tradicional jogo do gato e do rato,
onde pontuam vários gatos e ratos mais ou menos familiares. Os nomes dos dois
ratos principais são bem conhecidos: Tsipras e Varoufakis. Mas se na Natureza é
normal que os gatos acabem por sair vencedores (é a lei da Vida), a cultura
popular acabou por inverter esta lógica (o caso do Tom and Jerry é bem
esclarecedor), o que é bem caraterístico da natureza humana.
Neste jogo perigoso, a que todos vamos assistindo ao longe, com fortes
potenciais implicações para todos nós, os ratos, como nos desenhos animados,
estão claramente a dominar. Pessoalmente não acredito que haja mais de uma
fação no Syriza ou que o governo grego tenha andado a ziguezaguear (mudança de
Varoufakis como líder das negociações) desde que foram eleitos. Tendo em conta
os acontecimentos destes últimos dias, e o que vem sendo dito, começo a
acreditar que o Syriza vem seguindo um plano rigidamente traçado há muito, sem
se desviar um milímetro dele.
Toda esta conversa com que o Tsipras e o Varoufakis têm vindo a entreter os
outros líderes europeus é (como diz a maravilhosa expressão brasileira)
“conversa para boi dormir”. Eles nunca quiseram, nem querem, um acordo com os
termos que os europeus lhes querem impor. É mais do que evidente (e eu espero
que os líderes europeus estejam a perceber isso) que toda a retórica com que
nos têm brindado faz parte de uma estratégia bem montada: por um lado, dizendo
que um acordo está sempre prestes para ser alcançado, ficam na fotografia como
aqueles que sempre quiseram um acordo e se esforçaram por ele, ao contrário dos
outros; por outro lado, a um nível mais subtil, é uma manobra para dar a
entender ao povo grego que os seus governantes estão mais que habilitados para
ludibriar os outros. E têm conseguido os seus intentos, já que a popularidade
do Syriza não diminui na Grécia, nem a Nova Democracia aumenta a sua.
O Syriza tem um único trunfo, no entanto, na eficácia do qual acreditam
piamente. Podem ter acreditado ao início que talvez não precisassem de o jogar,
mas chegados a este este ponto, e o que se tem lido e ouvido nos últimos dois
dias pode ser disso indiciador, parecem dispostos a jogá-lo. O trunfo é o
(eventual) tumulto que um incumprimento grego pode causar nos mercados
financeiros, com eventuais repercussões na integridade do euro e até da união
europeia. O medo é o elemento chave no jogo. Vai ganhar o jogo que for mais
capaz de dominar o medo, quem os “tiver mais no sítio”. Neste momento o jogo
corre mais a favor da Europa, e parece claro, por isso, que o Syriza vai tentar
um incumprimento (que pode ser já na amanhã). Jogado o trunfo é esperar para
ver. Se o tumulto for grande (o que não acredito) esperam eles que os europeus
estendam a mão para se salvarem todos, mas na realidade ganham os ratos a
partida. Se não houver tumulto o jogo acabará rapidamente por xeque-mate.
É mais do que evidente que a Grécia nunca mais pagará a monstruosa dívida que
tem. O Syriza quer, no entanto, que os gregos mantenham o nível de vida que
experimentaram desde que aderiram ao euro, o que exige, agora, que alguém comparticipe
o seu orçamento anual. Vamos a ver quem ganha e o que daí se segue.
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