6.6.15

Silly season

Com o mercado já em plena silly season a nós tem-nos parecido melhor estar a ver da bancada, que é como quem diz da praia, que era o sítio onde estaríamos se não andássemos debaixo de água com o serviço que o patrão achou que nós tínhamos arcaboiço para aguentar. 

Todos sabem que maio é mês para começar a gozar os proveitos da primeira metade do ano e estoirar dinheiro (fora da bolsa, bem entendido). Começarmos a tratar de nós, se é que me entendem, que é para isso que a gente compra e vende porcarias nos mercados que não têm outra serventia. Nos últimos anos, pelo menos, não houve exceção à regra de vender em inícios de maio e voltar ao affair apenas em setembro, por altura da vindima. Sinceramente, não vemos por que há de este ano ser diferente! Há um tempo para ganhar dinheiro na bolsa e há um tempo para o gastar. E é bom não confundir os tempos, para não termos chatices desnecessárias e não andarmos a bater com a cabeça pelas paredes quando podíamos estar descansados a desfrutar o pilim.

Para enquadrar a presente situação pomos um gráfico do PSI20 (ou 18) e outro do DAX. Eles falam sozinhos.


Bear market de médio prazo claríssimo e, como tal, é deixá-lo pousar. Entrar com tudo, só acima dos 6400 pontos. Parece muito, mas são só 8% (a contar de hoje) e é o que precisamos para garantir que a ganância volta a estar por cima do medo! Até lá abstenham-se de pôr dinheiro e deixar ficar e restrinjam as jogadas a um módico que vos forneça a dose diária recomendada de adrenalina e nada mais do que isso. Chamarmo-nos burros de manhã, à tarde e a meio da noite, para além de não ser bom para a tripa, também não contribui para o correto funcionamento da hipófise. Não queiram!

No DAX a zona entre os 10800-10900 tem mel e não vai ser fácil evitar deslizar até lá. Daí para baixo é um sarilho dos antigos e podemos, com toda a tranquilidade, eliminar os ganhos do ano. Bull market outra vez, sinceramente, precisávamos de uma subida acima dos 12000 pontos, ainda que preferisse o PSI depois dos 6400. 


Do mundo real, destaque para a falência dos gregos. Se fizeram bem, ainda está por perceber, mas há já duas conclusões que podemos retirar sem corrermos grandes riscos de engano. A primeira é que o Renato tem razão quando aqui afirma que os do Syriza nada têm para oferecer numa negociação a não ser conversa fiada, e ninguém lhes tira de ideia preferir uma falência à austeridade. Se a escolha bater certo, mudamos de paradigma social e, quiçá pela primeira vez na história da humanidade, vamos ter países caloteiros a escaparem a anos de miséria. Obra do €, por certo. A segunda é que o Tsipras e os amigos se não são hábeis a negociar, são-no pelo menos a jogar. A jogada de adiar o pagamento ao FMI é mesmo boa e vai testando a tolerância dos mercados às pinguinhas, como convém a quem anda a bulir com onça armado de vara curta. Para já, houve necessidade de a Fitch vir assegurar que não se trata de incumprimento, por certo por ainda ter clientes distraídos e com grampo preso em terras helénicas, afirmação que não caiu bem nos mercados, que estavam a contar com um rallyzito de buy on the news, depois de semanas na expetativa do cumpre/incumpre. Se ainda não incumpriu, vamos ter que descer mais um pouco, com medo que incumpra. Se já incumpriu, podemos aliviar porque o passado não conta para a jogatina.

Mas o assunto para que devem verdadeiramente olhar nem é a situação grega, cujo desfecho está mais ou menos traçado e passará fundamentalmente por se saber se os gregos escafedem ou saem por cima! O assunto que mais mexeu com os mercados esta semana foi a inflação na zona euro, tópico a que já tínhamos feito referência aqui. Reparem como o euro ignorou completamente os gregos: subiu, e bem, por causa dos números da inflação na primeira metade da semana e desceu na sexta-feira quando os dados do desemprego americanos mostraram que pode haver subida de juros pagos em dólares ainda no decorrer deste ano. E se o euro continuar a ignorar a Grécia, não estaremos nós a sobrevalorizar esse assunto? 

Pensem nisso e aproveitem para ouvir a banda que mais teria gostado de ouvir no Primavera Sound. Musicalmente, sou um produto dos anos 80 e 90, é isso que eu sou!

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