Como dizia Francis Bacon, o
pintor, “A vida não tem sentido. Tem apenas o sentido que lhe queremos dar”.
Se lhes parece, no final, que a
personagem Stoner teve uma vida triste e patética, é exatamente o oposto. Teve
uma vida melhor do que muitos de nós porque fez o que gostou. Dedicou-se
verdadeiramente, teve fé no que fazia.
Deu sentido a cada momento da sua vida, nunca esperou as férias ou a reforma
para poder enfim “gozar”, “respirar” ou “viver”. Cada dia de Stoner foi uma
respiração profunda e serena, sem arrependimentos.
Trabalhar como quem cumpre uma missão.
É este todo o heroísmo. Uma vida vulgar marcada por algumas alegrias fugazes -
uma aventura extraconjugal, momentos de cumplicidade com a filha, a partilha do
saber – e, acima de tudo, a dedicação ao
seu trabalho, à literatura e à docência, o seu espaço de liberdade.
“William Stoner começou a tomar consciência de duas coisas: começou a
perceber o quão importante e central Grace (a filha) se tornara na sua vida; e
começou a compreender que talvez fosse possível tornar-se um bom professor.”
Assim, apesar da sua vida parecer
ser uma soma de decisões tomadas em detrimento dele próprio, Stoner é tudo,
menos um looser ou um covarde. Tem a força
dos fracos, a paciência de esperar dias melhores, deleitando-se, não obstante,
com o trabalho. Refugia-se na vida que conhece, consciente que não tem as armas
para lutar contra o inevitável. Quando, no decurso das duas Grandes Guerras, os
jovens se sentem chamados a cumprir o seu dever patriótico…
“Stoner percebeu a futilidade e o desperdício de uma pessoa se empenhar
de corpo e alma nas forças irracionais e negras que impeliam o mundo para o seu
fim desconhecido (…) para não ser apanhado pelo frenesim que observava à sua
volta. E tal como noutros momentos de crise e desespero, virou-se mais uma vez
para a fé cautelosa que a universidade encarnava enquanto instituição. Disse a si próprio que não era muito, mas
sabia que era tudo o que tinha.” (p. 203).
A obra, numa escrita sóbria e ao
mesmo tempo profunda, é uma longa reflexão sobre o sentido da vida, sobre o
essencial.
“Chegara àquela idade em que lhe ocorria, com crescente intensidade,
uma pergunta de uma simplicidade tão avassaladora que não tinha como a
enfrentar, dava por si a perguntar-se se a sua vida valeria a pena, se alguma
vez valera a pena. Era uma pergunta, desconfiava ele, que assolava todos os
homens a dada altura (…). A pergunta acarretava uma tristeza, mas era uma
tristeza geral que (pensava ele) pouco tinha que ver consigo ou com o seu
destino em particular.”
Estranho é saber que esta obra,
quando publicada pela primeira vez, em 1965, caiu no esquecimento e foi
redescoberta muito mais tarde graças ao empenho de alguns admiradores que
souberam ver para além dos sucessos de venda e dos prémios.
Obrigada pela fé destes leitores.
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