26.3.17

Persistência

Há uma passagem no filme O fundador em que Ray Kroc, já passado dos 50 e ainda na mó de baixo, longe dos tempos da criação do McDonalds mas pleno de ambição, se põe a ouvir um disco de vinil com um discurso do presidente Calvin Coolridge. O texto, à maneira dos manuais de autoajuda tão em voga na terra do sonho americano, faz a apologia da persistência: nada no mundo pode tomar o lugar da persistência; o talento não o fará (nada é mais comum do que homens mal sucedidos e com talento); o génio não o fará (génios não recompensados é praticamente um cliché); a formação não o fará (o mundo está cheio de tolos bem formados); toda a força e poder reside apenas na persistência e na determinação, etc. 



Evidentemente, muitos existem que nem com persistência lá vão e não deixa de ser verdade que é preciso algum talento, um pouco de génio e alguma formação para se ser persistente ou para se entender o que significa verdadeiramente persistir. Todavia, as palavras do 30º presidente não podiam estar mais atuais nos dias que correm em que toda a gente parece andar encharcada em formação, ao ponto de quase todos passarem por talentosos numa tanga qualquer e génios em algum momento da vida (é só impressão minha ou acontece com toda a gente que os filhos dos nossos amigos, hoje em dia, tiram sempre muito bom nas provas de avaliação?: "o meu só me dá alegrias!"; "até agora tem sido muito bom a tudo!"; "na escola não me preocupa nada; ele aprende sem estudar!" e por aí fora). Persistência implica perceber quando se está no caminho certo, ainda que o sucesso jamais seja linear, antes feito de avanços por vezes ténues e recuos por vezes assustadores! Mas implica também perceber que no fim do dia temos que pôr comida em cima da mesa e a persistência não pode ser confundida com experimentalismo! Afinal de contas, o discurso de Coolridge deve ser temperado com a citação geralmente atribuída a Einstein: insanidade é repetir a mesma coisa sucessivamente e, de cada vez, esperar resultados diferentes!

Ninguém vai lá sem persistência, mas persistir implica assumir erros e aprender com eles. E se a vossa tarefa diária não exigir persistência então, diabo, vai chegar o dia em que vos faltará pachorra!

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