24.2.17

O regresso ao essencial: "Stoner", de John Williams. (Primeira parte)

Que marca deixaremos nos outros quando já não estivermos cá?

Para o herói de John Williams, a resposta é desconcertante:

“William Stoner entrou na Universidade do Missouri em 1910, aos dezanove anos. (…) Os colegas de Stoner, que não lhe tinham uma estima por aí além quando era vivo, raramente falam dele agora; para os mais velhos, o nome é um lembrete do fim que os espera a todos e, para os mais jovens, é um mero som que não evoca qualquer noção do passado nem qualquer sentimento de identificação quer em termos pessoais, quer em termos de carreira”.

Assim enceta o romance. A pergunta que se impõe logo ao leitor exigente é: se o homem não fez nada de extraordinário (positiva ou negativamente), para quê dedicar-lhe um romance? A resposta para o leitor paciente é dada pela própria personagem no final da sua vida, “Estavas à espera de quê?”
Todo o mistério está então aí, ao alcance de todos.

20.2.17

Circularidades bibliófilas

            

                Em ditosa passagem pela sempre misteriosa, fresca e cativante Paredes de Coura, em assuntos que envolvem ossadas de antepassados, encontra-se, assim, sem mais, em singelo poiso para refrigério (vulgo, pastelaria) de Ponte de Lima, obras literárias à disposição dos comensais. Que faz ali, sereno, como se por acaso, Os Conjurados, de Jorge Luis Borges?...


19.2.17

A retoma das EDP's e o amor de Lana del Rey

A coisa não tem sido fácil e, sobretudo, a paciência com o nosso PSI20 tem sido de santo - se quiserem uma análise atualizada ei-la aqui - mas certamente o segura-me se não eu fujo e o perigo de descalabro tem sido pautado por generosos dividendos para os amigos que nos acompanham! E se é certo que esta indefinição no nosso principal índice tem-nos levado a procurar oportunidades nas cotadas menos capitalizadas - em futebolês, segunda liga - do nosso mercado (PSI geral), cedendo ao fraco volume, ou até mesmo ao cabaz dos vizinhos espanhóis (IBEX35) também não é errado que a fuga das pastas de papel confere validade ao que foi dito e vai contabilizando mais-valias tendo mesmo a Navigator Company já atingido religiosamente o target, a Corticeira Amorim não deixou ficar mal e chegou a máximos definidos, a Nos se ter aguentado acima dos 5,15€, a Pharol ter saído de órbita à conta da quebra em alta dos 25,6 cêntimos e que entretanto já dissecámos aqui e os CTT e a Mota Engil a manter a expetativa no que foi analisado! 

Posto isto, no titubeante PSI20 até que nos safámos e, se cumpriram o guião, até que vos enriquecemos! Mas e o que é que isto tem a ver com o título?

17.2.17

A nostalgia vende: La La Land

Não sendo uma fã de musicais, reconheço que há algum encanto no filme La La Land, de Damien Chazelle, também realizador de Whiplash. Para quem gosta de jazz, é o filme a ver. Para quem não gosta tanto, terá que acreditar que os cinco prémios BAFTA e as 14 nomeações para os Óscares, tornando-o no filme favorito, podem significar algo (desde que se dê crédito a tudo isto, claro).

O filme narra a história de amor em Los Angeles entre dois jovens, Mia e Sebastian, com um final feliz que, contra todas as expetativas, não é Casaram e viveram felizes para sempre, mas antes Não casaram e viveram felizes para sempre. Também serve.

Toni Erdmann

O melhor de todos os nomeados a levar a peça para melhor filme estrangeiro e um dos melhores que vimos nos últimos tempos é Toni Erdmann da realizadora alemã Maren Ade, que tem no currículo o facto de ter produzido o excelente Tabu do nosso Miguel Gomes. Trata-se do filme que muito provavelmente levaria a Palma de Ouro em Cannes se não estivesse a concurso o Daniel Blake e entre um e outro mon coeur balance.

16.2.17

Eu confesso: o quê exatamente? (Segunda parte)

O que ficará de nós quando a memória nos falhar? (Se é que já não nos falha mais do que aquilo que queremos admitir).

Ironias da vida, Adrià Ardèvol, narrador e personagem principal da obra Eu confesso, de Jaume Cabré, tem uma memória prodigiosa, mas é vítima da doença de Alzheimer e só lhe resta a escrita para não esquecer, para não perder a identidade.
Não deixa de interpelar. É um aviso para começar a registar tudo? É o medo de perder a memória? Já o fazemos com a fotografia digital, com o facebook ou outra rede social que acumula de forma fragmentada momentos vividos com os amigos (para os amigos do Gosto?) e com a família, com as agendas que corta a vida em pedacinhos e com tudo o que nos incita, consciente ou inconscientemente, a fixar momentos.

15.2.17

Um homem chamado Ove

Já aqui dissemos algures que, para nós, os Óscares enquanto referencial de qualidade cinematográfica acabaram em 1994 quando vimos o tolo do Forrest Gump levar a melhor sobre Pulp Fiction. Foi simplesmente demasiado para o que o nosso estômago sensível podia aguentar e desde então, salvo em raríssimas exceções, passamos a enquadrar a cerimónia da carpete vermelha na tabela dos eventos giros! 

Mas houve uma categoria de prémios que conservou intacto um módico de credibilidade que se mantém até hoje e que nos faz ficar atentos quando os nomeados são anunciados. Falamos do prémio para melhor filme estrangeiro, cujo palmarés tem sido normalmente garante de tão bom cinema como o é a seleção de Cannes, de Berlim ou de Veneza.

Este ano, dos filmes nomeados, já conseguimos ver três, todos europeus, e nenhum deles desiludiu.

PSI20

Antes que perguntem pela Sonae Indústria, o que temos a dizer está essencialmente aqui, ainda que acrescentássemos apenas o seguinte:

14.2.17

Ibersol

O PSI20 parece uma panelita de pressão, o sacana, tão controladinho entre a vontade esgazeante de expandir e associar-se à alegria do dinheiro fácil, que está a marcar o compasso nas bolsas mundiais, e a falta de calor e de volume de gás que o vai mantendo a marinar, confinado dentro de um recipiente cada vez mais estreito. Nos próximos dias, estamos em crer, isto ou vai ou rebenta!

Por ora, e para aqueles que acham que isto da bolsa é uma tanga desgraçada, e que o país está tão azeitado que mais nada vale a pena a não ser deitarmo-nos a dormir, apresentamo-vos a Ibersol, que subiu, desde há 1 ano, 128%.

12.2.17

O Artista pára para pensar...

Ao visitar o ateliê de qualquer artista, irá seguramente encontrar um objeto que lhe chama atenção. Pode estar no meio do espaço-ateliê, arrumado a um canto, junto à janela ou rodeado por frascos de aguarrás. Mas há um particularmente que destaco: a velha cadeira, quase sempre coçada e coberta por uma camada de pó. A cadeira do artista desempenha um papel importante no processo criativo. Quando se senta nela muda de personalidade. Deixa de ser criador e torna-se critico. O seu olhar (ultracritico) mergulha na obra à procura de erros técnicos, outros vocabulários e hipocrisia.


Por vezes, tendo identificado um problema, levanta-se repentinamente e faz uma pequena correcção. Aquele gesto com o pincel, espátula ou mão na superfície da tela faz toda a diferença.
Afinal, tem dias que passa mais tempo a pensar do que a produzir. Pára para pensar e pondera sobre a vida e a criatividade, o que pintar/criar amanhã. Exactamente o que vou fazer agora...

"Eu confesso", de Jaume Cabré: uma obra-prima. (primeira parte)

Ao ver o noticiário, há um leitmotiv que faz vender, que agarra a atenção de quem está sempre a ver e a ouvir tudo, é o leitmotiv da corrupção, do terrorismo, da subida do populismo, do sofrimento, ou seja, do Mal e..., sem forma de lhe escapar, do Amor (um piscar de olhos para o São Valentim que se aproxima...). O problema é que as várias facetas do Mal são apresentadas como se fossem uma crise; fala-se da crise dos refugiados, da crise do Médio Oriente, da crise do Brasil, da nossa crise económica (com todas as outras aí incluídas), da crise do amor. Ora a crise normalmente é conjuntura, momento passageiro; por isso é outra coisa. Transição também não é.

Para entender melhor, a literatura revela-se uma ajuda preciosa. A obra Eu confesso, de Jaume Cabré, procura explicar, através da ficção, a genealogia do Mal, nomeadamente a construção da identidade europeia, e mais particularmente a cultura judaico-cristã, recorrendo a figuras reais e acontecimentos históricos. Uma verdadeira obra-prima.

Vale uma aposta?...

A mui apregoada e suposta bondade dos portugueses acaba na fila para a compra da raspadinha.

11.2.17

Pharol

Ficou tudo varado com a subida entusiasmante da Pharol esta semana e o caso não é para menos, se pensarmos no que 73% de ganho semanal fariam pela nossa felicidade. Foi um feito épico, mas ainda fica melhor se contabilizarmos a epopeia desde o início do ano, como muito bem fez o Jornal de Negócios.

Como causas para tamanha remontada há quem aponte o amenizar do cenário de falência da Oi, o aumento do número de clientes da Oi no Brasil ou a entrada de fundos de investimento no capital da empresa brasileira e da portuguesa.

A nossa leitura, contudo, é um pouco diferente (ainda que tudo esteja ligado) e tem que ver com um desfasamento entre a cotação da Oi e a cotação da Pharol (que já aconteceu outras vezes).

Passamos a explicar:

5.2.17

Os CTT e a Mota Engil

Como prometido - promessa feita, é promessa honrada! - na análise, desta tarde, à semana do índice cá estamos nós para fazer um ponto de situação na Mota Engil e nos, para lá de acossados, correios, vulgo CTT.

Na Mota Engil tem-se assistido no decorrer do último ano a um intervalo de negociação com pouca oscilação tendo em conta aquilo a que foi habituando os seus traders ao longo dos anos e isso retira aquela pontinha de adrenalina - a quem estava para aí virado - que se manifesta na perda de volume ao longo dos tempos! Para além dessa lateralização, também se conclui, olhando para o gráfico, que a mesma vai perdendo amplitude e a cotação vai convergindo! 

  
Dentro dessa realidade o que esperar no curto prazo?

BCP

As 1300 milhões de vitaminas que os acionistas benévolos enjorcaram no BCP já estão a fazer maravilhas no PSI20 que, como bem diz o João no seu post, teve uma galgada capaz de colocar na dúvida o mais contumaz defensor da eutanásia! 

O que é que isto nos ensina? 

Que devemos acreditar até ao último suspiro (e mais além) porque nunca se sabe que pílulas sintéticas existirão por aí à espera de serem inventadas (não sei se o CDS já se lembrou desta tão ajuizada linha de argumentação)! 

Siga! 

Já nem é chato, é mesmo marado!

Bem, a semana que ora passou não podia ser mais concertante com o texto do passado domingo que podem relembrar aqui. Se o marado do índice deu um coice no meu agrado para com a sessão anterior ao aludido - nada de novo no estapafúrdio! - então também é verdade que a malta da casa não se fez rogada e veio colocar frieza, de pronto e aqui, ao soar das sirenes e fazer a atualização que se impunha! Well done, team

Posto isto, conforme combinado, a quebra do mínimo relativo no PSI20 fez despoletar vendas em décalage e condicionou os mais risonhos dos planos para a generalidade das cotadas! A Nos que parecia reagir (parecia!) também se arrependeu - evidentemente, tal o cenário - mas lá se aguentou firme sem quebrar em baixa os 5,15€ e mantemos a análise sem tirar nem pôr! A Pharol, que fez realmente um bonito, é aquela que talvez (com bastante dose de certeza) mais ligue cheta ao índice e cumpriu religiosamente, e a bem, o acordo - quebra ali e vai para ali - dito e feito! Agradecidos!

E onde entra a concertação falada do início do texto?

Arquivo morto

      Assim mesmo, com grão. Quero-as assim, imperfeitas, tal como as vi na luz difusa. Estas imagens empoeiradas, a definição mesma de arquivo morto, apresentaram-se-me, epifania sintomática. 
      A somar a tudo o que nos sobra e de nós sobra, todos aqueles resumos redigidos a pulso por centenas de nós, toda a cinza do trabalho feito, a inexorabilidade do tempo, como serpente constrictora, me transportaram, teleportando-me. Exactamente como nos sonhos, acima do solo, em suspensão tal como, nesta música, esta figura é transportada. [Ao minuto e onze (1'11"), a parte deleitosa da música diz-me, irónica: "É a vida, é a vida... ".]

4.2.17

Três músicas e uma sugestão

Enquanto aguardamos pela luta entre ões de mais logo na toca dos animais mitológicos, valerá a pena não perder o arranque do torneio das seis nações, que conta daqui a pouco (às 16:50) com um sempre gratificante Inglaterra - França.

Por outro lado, para mantermos o sangue frio e não embandeirarmos em arco, é sempre bom ouvir música com o selo de garantia N€B. Neste caso concreto, ficam três sugestões tão diferentes no tom, mas tão iguais no amor pela arte de fazer as coisas bem feitas:




3.2.17

Ensinados a apreciar arte moderna?

A exposição José de Almada Negreiros: Uma maneira de ser moderno é hoje inaugurada na Gulbenkian até 5 de junho e podemos prever que será mais um caso de sucesso, à semelhança de outras exposições de arte moderna e contemporânea, que conseguiram arrastar “multidões” (estamos a falar de arte) até aos museus, como Joana de Vasconcelos, Paula Rego ou Amadeo de Souza-Cardoso, para falar apenas de artistas portugueses. Muitas exposições são prolongadas; é o caso da exposição do artista catalão Joan Miró: Materialidade e Metamorfose, atualmente no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, que foi prolongada até junho (de crer que a fama do pintor não é o único argumento), o que confirma um público recetivo a uma arte que não é procurada por ser bonita ou por estar na moda.

É sinal que fomos ensinados a gostar de arte moderna e contemporânea ou que gostamos mesmo dessa arte ou de arte, simplesmente?

2.2.17

Queda livre (e descompassada) na arte de desconversar

*
- Tens queda para isto. – Disseram-me, numa voz por entre a música.
Sorri das ironias da vida:
    - Tenho várias quedas no currículo. De algumas não (me) saí tão bem… - mostrei a enorme cicatriz no tornozelo esquerdo. Parafraseando o saudoso António Feio, comprovei os factos com o “documento anexo”: no caso dele, era a enorme calva dos tratamentos; no meu, é a sinuosa costura.
     Sorriem-me, dando aos ombros, sem entender nada:
     - Não, queria dizer… que tens jeito para dançar e isso...
     - Sim, mas nem sempre saio incólume das minhas quedas.
     - Incó… quê?