17.3.18

Altri

A Altri, que tem o mesmo CEO e fundador da Cofina, o eng. Paulo Fernandes, é mais uma das nossas apostas (da terceira falaremos, talvez, amanhã) desde há duas semanas. A empresa, como é sabido, não teve um início de ano fácil por causa dos problemas de poluição no rio Tejo que levaram à suspensão da produção da Celtejo, e é conhecida pelas suas valorizações monstruosas e por ter correções não menos impressionantes. 


Sobre a Altri há uma história que gosto sempre de contar porque é um bom exemplo de como estas coisas são na bolsa. A Altri resultou de uma reestruturação da Cofina e é a herdeira de uma outra empresa cotada chamada Celulose do Caima. Foi admitida à negociação em 2005 a uma cotação de poucos cêntimos, a verdade é que não sei precisar, mas lembro-me de a ter achado barata porque valia qualquer coisa em torno dos 65 M€ e comprei um saco delas na casa dos 20 cêntimos. O que se segue é que o negócio foi bom e em pouco tempo a coisa triplicou, uma maravilha que me levou a vender e deu para umas belas tainadas. Nos anos seguintes, feito nabo, nunca mais comprei, enquanto ela multiplicava por 10. 

Ontem a Altri subiu quase 5% e aproximou-se do valor a que fechou 2017, estando a pontos de anular as perdas do ano. O mote foi a concretização da fusão das brasileiras Fibria e Suzano que andou a ser cozinhada nas últimas semanas e criou, pelos vistos, a maior empresa de pasta de celulose do mundo.

A valores de fecho de sexta-feira, a Suzano vai ficar com 46,6% da Fibria pagando 65,6 reais por cada ação, embora existissem notícias que davam como certa uma oferta de uma empresa holandesa que oferecia mais de 71 reais.

O que nos interessa ao caso é que o negócio pode servir de referencial para o mercado aferir do real valor das empresas do ramo, procedendo a naturais ajustes mais ou menos expressivos de acordo com as circunstâncias. 

Fui fazer uma pequena pesquisa, porque não tenho paciência para mais, e verifiquei que o negócio avalia a Fibria, que apresentou em 2017 uma produção de 5000 toneladas de pasta, receitas de 2974 M€ e lucros de 247 M€, em 9000 M€. Como é natural e costume nestas situações há aqui um prémio grande (o PER atual da empresa anda nos 36), mas o que toda a gente vai fazer é comparar isto com o que sucede nas nossas papeleiras.

A Altri apresentou outro dia os seus resultados anuais: 1000 toneladas de pasta produzidas, receitas de 665,8 M€ e lucros de 96 M€ (+25%). O mercado fechou a semana a avaliá-la em 1052 M€. Para além de haver a possibilidade de fusões ou aquisições que possam envolver a empresa portuguesa (vontade de comprar parece que não falta e os holandeses devem estar com o dinheiro a queimar nas mãos, para não falar em mais 3 empresas que estariam interessadas na Fibria), é natural que o mercado possa agora especular com o real valor de uma empresa que parece ter a dívida controlada (desceu 11,5% para 388 M€) e paga dividendos à taxa atual de 5,84% (63% dos lucros).

Sugiro que cada um faça a sua avaliação, mas acrescento mais estes dados para que possam raciocinar mais bem documentados. Aqui ao lado, em Espanha, a empresa mais parecida com a Altri é a galega Ence, que valoriza este ano 14,4%. O lucro subiu fortemente em 2017 para 92 M€, com vendas de 740,3 M€ e uma dívida de 455 M€. Está avaliada em 1575 M€ e vai pagar um dividendo de 0,37€. Quanto à nossa The Navigator Company, não me parece uma empresa com o mesmo perfil, ainda que seja do mesmo ramo de atividade, pelo que a comparação entre as duas faz menos sentido.

Tecnicamente, olha-se para o gráfico e parece uma evidência que iremos tentar bater máximos históricos (5,72€). O problema é que "evidências" em bolsa é coisa que não existe, de maneira que é preciso estar sempre com um olho no burro e outro no bandido. Seja como for, tudo pesado, julgo estar à vontade para dizer que esta empresa não me parece nada má e chega a estar barata. É evidente que pode haver algum problema com os resultados do primeiro trimestre por causa da paragem de produção na Celtejo (já deve estar descontado) e há uma subida no preço da madeira que não será despicienda, mas a continuação do aumento do preço da pasta parece ser uma realidade para 2018 e é reconfortante pensar que uma parte significativa da exportação desta empresa se faz para a China, mercado tão vasto que deverá ser menos incerto e concorrencial que outros mais próximos. Além disso, é preciso não esquecer a tal vontade de fusões e aquisições entre as empresas produtoras de pasta de papel. 


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