24.3.18

O viajante (parte 6)

No ano seguinte lambeu África! Bem, a verdade é que precisou de dois anos, porque no segundo foi para o lado do corno, trepou ao Quilimanjaro e depois veio por aí abaixo e só parou na capital da Austrália. Agora tinha um telemóvel mesmo bom, tirava imensas fotografias e postava tudo em tempo real. Tudo não! Só as que se aproveitavam e não estavam desfocadas pelo movimento perpétuo, mas jamais se esquecia de ser o primeiro a dar “gosto”. No Facebook era um campeão, no Instagram não tinha ninguém à altura e o blogue tinha-se transformado num local de peregrinação virtual. 


Depois de tantos quilómetros a correr, era o indivíduo mais espadaúdo do país, puro osso e músculo, um grande amigo do ambiente e da mãe-natureza, o primeiro viajante com uma pegada ecológica impercetível. Na Arábia nem de camelo lhe conseguiram deitar a mão e na Índia houve gente a interromper a chafurdice no Ganges para aplaudir a sua passagem. Quanto a capitais, mais umas dezenas para a coleta e, agora sim, estava em velocidade de cruzeiro no que ao conhecimento do mundo diz respeito! A verdade é que sentia uma urgência, porque Ulisses, como cada um de nós, não estava a ficar mais novo e tinha plena consciência da lei suprema da vida: tempo passado, corpo cansado!


Nos anos que se seguiram andou pela Ásia e foi de Moscovo a Pequim de uma empreitada só! Conheceu o Cazaquistão e a Mongólia, regressou e limpou os restantes ões, incluindo o Afeganistão. Em Cabul fez de talibã e juntou-se a eles, mas não gostou desse estilo de vida e pôs-se a bulir. Quando deu por ela estava no topo do Evereste, arriou a bandeira do João Garcia e pôs lá outra maior junto da qual se fotografou. Bateu o recorde de “gostos” no Facebook, mas depois desceu tão rápido que, não só ia tendo uma síncope, como provocou uma avalancha que causou dezenas de mortos. Foi o ponto mais baixo da carreira e houve quem o alcunhasse de “Speedy Gonzalez dos Himalaias”, o que acabou por deixá-lo na mó de baixo durante algum tempo!

to be continued...

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