No ano seguinte lambeu África!
Bem, a verdade é que precisou de dois anos, porque no segundo foi para o lado
do corno, trepou ao Quilimanjaro e depois veio por aí abaixo e só parou na
capital da Austrália. Agora tinha um telemóvel mesmo bom, tirava imensas
fotografias e postava tudo em tempo real. Tudo não! Só as que se aproveitavam e
não estavam desfocadas pelo movimento perpétuo, mas jamais se esquecia de ser o
primeiro a dar “gosto”. No Facebook era um campeão, no Instagram não tinha
ninguém à altura e o blogue tinha-se transformado num local de peregrinação
virtual.
Depois de tantos quilómetros a correr, era o indivíduo mais espadaúdo
do país, puro osso e músculo, um grande amigo do ambiente e da mãe-natureza, o
primeiro viajante com uma pegada ecológica impercetível. Na Arábia nem de
camelo lhe conseguiram deitar a mão e na Índia houve gente a interromper a
chafurdice no Ganges para aplaudir a sua passagem. Quanto a capitais, mais umas
dezenas para a coleta e, agora sim, estava em velocidade de cruzeiro no que ao
conhecimento do mundo diz respeito! A verdade é que sentia uma urgência, porque
Ulisses, como cada um de nós, não estava a ficar mais novo e tinha plena
consciência da lei suprema da vida: tempo passado, corpo cansado!
Nos anos que se seguiram andou
pela Ásia e foi de Moscovo a Pequim de uma empreitada só! Conheceu o
Cazaquistão e a Mongólia, regressou e limpou os restantes ões, incluindo o
Afeganistão. Em Cabul fez de talibã e juntou-se a eles, mas não gostou desse
estilo de vida e pôs-se a bulir. Quando deu por ela estava no topo do Evereste,
arriou a bandeira do João Garcia e pôs lá outra maior junto da qual se
fotografou. Bateu o recorde de “gostos” no Facebook, mas depois desceu tão
rápido que, não só ia tendo uma síncope, como provocou uma avalancha que causou
dezenas de mortos. Foi o ponto mais baixo da carreira e houve quem o alcunhasse
de “Speedy Gonzalez dos Himalaias”, o que acabou por deixá-lo na mó de baixo
durante algum tempo!
to be continued...
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