Mas isto que vos contei até aqui
não é nada de especial quando nos apercebemos da incomunicabilidade. Foi aí que
verdadeiramente panicamos todos ao ponto de termos ficado gagos de tanto
matutar sobre o assunto. Como devem imaginar, é duro agora ficarmos mergulhados
nas trevas negras ou deixarmos de poder saborear uma data de guloseimas
absolutamente irrepreensíveis, ou sei lá, passarmos a ter os hospitais num caco,
as escolas todas espatifadas ou termos de andar permanentemente a pé com solas
gastas porque não há gasolina para pôr nos carros, etc., mas ninguém está
preparado para que nos venham dizer que não podes usar o telemóvel, nem o
computador, ou ir à net, ao face, tipo,
postar, e tirar umas selfies todas
maradas e LOL da cara de porquinha da fulana de tal, e assim. A verdade é que
foi das coisas mais maradas que eu alguma vez ouvi na vida quando me disseram
que se não tens luz elétrica os pcs
não funcionam e é só uma questão de tempo até as baterias dos telemóveis escafederem
geral. Garanto-vos que, ao princípio, nem queria acreditar, quer dizer, é tudo
tão surreal que achas que estão mesmo a gozar com a tua cara a ver se cais na
asneira de tirares uma selfie com
aquele ar todo apalermado, ou coisa do género, mas depois dás-te conta de que é
mesmo verdade e o teu telemóvel vai deixar de funcionar para sempre e acabas
por te transformar na pessoas mais infeliz do mundo, sei lá, tens vontade de
embocar uma garrafa de whisky de uma só vez (como se ainda houvesse whisky à
venda, e não fosse necessário luz elétrica para o fazer), ou de fazer de conta
que és uma banana, etc.
E, então, falhou tudo e nós
ficamos incomunicáveis e foi como se nos tivéssemos teletransportado para uma
outra galáxia ou, sei lá, uma coisa assim estranha lá longe num país habitado
por vegetais que caminhavam aleatoriamente, tristes como a noite e sem poderem
estabelecer uma comunicação por mais rapeta que fosse, pois eram vegetais e não
tinham boca nem olhos, quer dizer, nós tínhamos boca e olhos, a luz falhou mas
não nos levaram partes do corpo, era o que mais faltava, mas a verdade é que
melhor seria se nos tivessem levado a boca (os olhos não que faziam falta para ver
as teclas) e deixado cá os telemóveis com baterias infinitas (por que diabo não
inventaram baterias infinitas enquanto havia livros é algo que não consigo
conceber!) para a gente continuar a enviar sms
uns aos outros. Pela parte que me toca, bem que gostava de fazer alguma coisa
para poder inverter a situação e pus-me a magicar, magicar e acabei por me
lembrar de que podia restabelecer a comunicabilidade se fizesse sinais de fumo
como faziam os índios há muito tempo atrás num filme que vi na televisão, mas
só depois me dei conta de que para fazer fumo é preciso ter fogo, coisa que
infelizmente se nos foi desde que falhou a luz e já não veio.
E foi então, já em desespero de
causa, que me lembrei de que podia pegar num lápis (que, felizmente, não é
elétrico) e escrever. E escrevi este texto.
To be finished...
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