25.3.18

O viajante (parte final)


Foi por essa altura, numa spring break, que fez o tal cruzeiro relaxante nas Caraíbas e visitou Havana e todas as capitais caribenhas. Fez a continência a Castro e lembrou-se emocionado de que, em certo sentido, também ele foi como o Che, que correu o continente de lés-a-lés, antes de enveredar pela carreira de revolucionário. Estava finalmente fechado o ciclo americano e foi com orgulho que anunciou que se sentia apto a dar todos os conselhos e emitir as opiniões mais definitivas no que diz respeito à maior parte do globo terrestre. Mais do que reposição de prateleiras ou segurança noturna, eram as viagens a sua verdadeira arte, e embora o planeta fosse vasto, tornara-se, num curto intervalo de tempo, demasiado pequeno para tão grande vontade de se fazer notar como o maior laracheiro turístico da História, uns furos acima até (quem diria?) de um Fernão Mendes Pinto!


Foi quando começaram a surgir notícias de refugiados sírios a acorrer à Europa que se lembrou que essa era uma parte do mundo onde ainda não tinha estado. Que grande conhecedor de capitais se podia demitir de conhecer Damasco, talvez a mais antiga de todas? Quando anunciou o projeto nas redes sociais não faltou quem o avisasse de que o momento não parecia o mais propício, por causa da guerra e dos fanáticos do Daesh, e a verdade é que esteve mesmo a pontos de adiar a jornada, ah!, viagenzinha mais desconfortável e sem-graça!, mas a coisa tinha sido anunciada e desistir era dar parte de cagarola e, portanto, inaceitável!         

Tirando o voo até Chisinau (outra capital), evitaria os aviões que podiam ser alvo de mísseis terra-ar e faria um trajeto em S, a varrer: Macedónia, Arménia, Israel. A passagem pela Síria ia ser feita na esgalha, numa pick-up alugada no Irão, o que tinha o defeito de ter que voltar para trás por causa dos custos incomportáveis (meio ano a repor mantimentos) do drop-off, mas trazia a vantagem de subir o score com dois marcos importantes: a Jordânia e o Iraque (quem se não ele iria a Bagdade tirar um retrato?). Foi e viu tudo. Deve ter visto inclusive o Sukhoi-34 russo a aproximar-se e a largar a bojarda assassina em território inimigo. Ficou em papas. Ulisses partiu para a última viagem, aquela de que ninguém escapa, e agora deve andar a colecionar as capitais do paraíso celeste, se é que existem (as capitais)!

to be finished!

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