Sempre sem parar passou por todas
as capitais da América central, entortou para Caracas e foi direto a
Paramaribo. Em todas elas tirou fotografias (mais tarde arrependeu-se de não
ter parado, porque a maioria ficou desfocada) e mesmo nos mercados e nas
roulotes de enchiladas havia alguma coisa dentro dele que o impedia de parar e
ficar quieto. Numa fila na Venezuela acabou mesmo por levar um par de estalos
por ter passado à frente das donas de casa, mas no geral, a passo de corrida, a
viagem fazia-se de uma forma que evitava vários inconvenientes que o afligiam
nas alternativas mais convencionais: não estava sujeito a horários, não gastava
dinheiro em bilhetes nem em combustíveis, não vivia sobressaltado com a
incompetência de um qualquer condutor adepto da pinga, etc.
Nem para dormir parava, pois
tinha desenvolvido uma inovadora capacidade para adormecer nas retas, embalado
pelos solavancos das suas pernas hiperativas. Calculava mentalmente o tempo que
podia cochilar, com base na extensão do percurso, e encostava a cabeça a um
amparo próprio que entalava entre o ombro e as orelhas. Para tomar banho e
fazer a higiene pessoal usava os rios, que fazia questão de passar a nado.
Do Suriname virou para o
Pacífico, entrou na Amazónia, que atravessou à catanada, e mergulhou nas águas
do rio negro em Barcelos, subiu a Bogotá e foi raptado por traficantes que o
confundiram com um atleta de renome mundial, tão rico que tinha vindo para os
Andes preparar a maratona das olimpíadas. Quando perceberam que se tratava de
um pé rapado e que não tinham sequer a quem pedir resgate, soltaram-no em
Quito, o que foi um duplo favor que lhe fizeram! Desceu a costa oeste, curvou
na Argentina e subiu até Brasília. Nem uma capital falhou e agora podia dizer
que tinha passado por todas e tinha visto tudo!
Do Brasil apanhou um avião para
casa com escala em Otava, onde esteve um par de horas: aeroporto, cidade,
aeroporto, na gáspia, a penantes, em busca da foto certificadora. Conseguiu-a.
to be continued...
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