15.3.18

Sonae

A Sonae tem sido uma das nossas empresas favoritas, mas quando vimos os resultados aqui logo de manhã não ficamos nada bem impressionados. É verdade que a dívida desceu uns vistosos 8,4%, facto que agradou aos analistas, e o lucro comparável parece ter subido, mas apesar de a empresa estar presente em 90 países e ter uma atividade diversificada, sente-se muito o facto de atuar em mercados fortemente concorrenciais e onde o ritmo de progressão pode ser exasperadamente lento. 


Quando olho para os resultados a minha matemática é das básicas: somo o valor de mercado (agora 2372 M€) à dívida (1112 M€) e depois divido tudo pelo resultado líquido, para obter um PER mais fidedigno (neste caso dá 21). O valor parece alto (embora o da Jerónimo seja mais alto - cerca de 26), pois a média do setor anda na casa dos 13, o que significa que a Sonae está cara. Se houvesse crescimento potencial, poderia justificar-se (há empresas na bolsa portuguesa que têm uma margem de crescimento bastante mais alto e andam com um PER muito mais baixo), mas a Sonae, apesar de ser muito bem gerida e de ter capacidade para expandir bastante a sua atividade, está muito espartilhada pela concorrência num cenário que tem tudo para piorar (veja-se, a propósito, a entrada no nosso país da Mercadona, que é líder destacado em Espanha).

Dos resultados, por nós, estamos conversados e não seria por aí que regressaríamos à nossa posição habitual.

Notícia com bastante mais interesse é esta e achamos que o mercado achou excelente a ideia de a Sonae voltar aos bons velhos tempos do Eng. Belmiro, que operava na bolsa como quem joga uma partida de sueca (e ganha). Lançar em bolsa o retalho é uma forma lógica de capitalizar um negócio que está maduro e que, para além da abertura furiosa de lojas em todos os bairros e esquinas, não tem muita margem por onde crescer, libertando dinheiro para reduzir dívida ou, quem sabe, diversificar ainda mais o portefólio (talvez nos informem dos objetivos). Não nos parece que seja o tipo de jogada que leve a uma valorização sustentada da empresa, mas achamos que pode haver margem para alguma especulação, embora o cenário que se coloca ainda esteja muito em fase embrionária. Com tempo, à medida que as notícias em torno do processo se forem tornando mais claras pode haver lugar a movimentações interessantes, pois para colocar o retalho em bolsa com o sucesso que o homem sonae costuma ter é necessário atuar na cosmética e embelezar o embrulho, se é que nos entendeis. 

No fundo, o negócio dá lucro mas cresce pouco para o nível de investimento que exige, e ao decidir vendê-lo a Sonae reconhece isso mesmo, o mercado conta com uma venda à matador e hoje começou a entreter-se a especular com esse cenário.

Tecnicamente, ainda não está a salvo e precisamos de uma quebra dos 1,20€ para pensar num retomar do bom momento e depois de um rompimento em alta do canal ascendente para sonhar com máximos. Tenho algumas dúvidas de que faça já esse movimento apenas com base numa notícia cuja concretização ainda vem longe, num momento em que as perspetivas de negócio não são as melhores, mas se o mercado como um todo subir, é razoável admitir que tenha embalagem para tanto.


2 comentários:

  1. Caro David, gosto de ler os comentários que considero interessantes e até divertidos (aporta alguma leveza a estes assuntos sérios). Esta analise segue estes parâmetros habituais só não entendo (tb não sou financeiro) a logica de calcular o PER adicionando ao valor de mercado o valor da divida pois normalmente aquele rácio é obtido pela razão resulados/val mercado ,pois no meu entendimento o valor de mercado ja tem em conta a divida da empresa.

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  2. Obrigado pelas tuas palavras. Eu gosto de somar a dívida porque parece-me que é dessa forma que a maioria dos investidores institucionais vê o valor da empresa e calcula o PER. Olhando só para o valor, por vezes, fica-se com a ideia de que a empresa está barata quando afinal até está cara!

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