Já praticamente tudo terá sido dito sobre Mário Soares, e é de tradição que as palavras sejam benévolas agora que ele nos deixou para sempre. Mas em relação a Mário Soares há mais do que elogios ou balanços de vida que devem ser feitos nesta altura. Creio não andar muito longe da verdade se disser que, mais do que um somatório das vezes em que estivemos de acordo ou desacordo com ele, o que mais pesa nestes dias é um certo sentimento de orfandade que nos magoa e nos deixa tristes.
Ele tem estado lá desde sempre e nunca abdicou de intervir, nunca renunciou à luta e isso é demasiado poderoso para poder ser esquecido ou perder-se entre as ninharias que neste caso constituem as convicções políticas de cada um. Já a minha avó, nos tempos em que eu era criança, falava do bochechas como uma personagem convicta, influente e digna de admiração e o marocas sempre esteve presente lá em casa, mesmo se a família, como era de lei no norte do país, estivesse um pouco mais à direita dele! Mas a minha relação de admiração por Mário Soares começa provavelmente em 1986, nos tempos das históricas eleições presidenciais e da luta com Freitas do Amaral, quando nós, petizes da escola primária, começamos a discutir quem ia à frente e as nuances dos debates como costumávamos fazer acerca do futebol! Foi nessa vitória épica de quem veio lá de baixo e era inicialmente desconsiderado que se forjou muita da minha visão positiva acerca do debate de ideias e da luta verdadeiramente política. Foi com Soares que aprendi que só cedemos perante a nossa consciência, independentemente do número dos que estiverem contra nós! Não faz mal nenhum que discordem de nós, ainda que seja conveniente que os consigamos convencer a quase todos! Um dia em 2001 apertei-lhe a mão na Faculdade de Ciências do Porto quando ele me entregou o diploma do mestrado e as palavras de circunstância que ele disse na altura, de admiração pelos cientistas que melhor tentavam compreender o mundo de uma forma que ele, homem de letras, se arrependia de não ter explorado mais, deixaram uma marca que eu não estava habituado a sentir. Era um discurso à medida, isso era evidente, mas era um discurso de quem não foi lá cumprir calendário e fazer uma patuscada; foram palavras de quem estava verdadeiramente interessado, de quem se preparou e nos tratou como se fossemos absolutamente decisivos para a felicidade mundial! Não era, portanto, um homem banal aquele; era uma personagem que mesmo nos momentos em que estava longe do seu meio habitual deixava uma mensagem que pesava, ainda que não passassem de palavras de circunstância. Muitos viram na sua candidatura de 2006 às eleições presidenciais um ato de loucura de quem não precisava para nada de se meter numa luta daquelas e deveria estar num patamar superior, no papel dos chamados senadores, posto em sossego, deixando aos mais novos a tarefa de intervirem diretamente nos assuntos mundanos. Mas era nisso, tal como tinha acontecido antes, quando se candidatara ao parlamento europeu, ou mais tarde na sua oposição à Troika ou até na forma como defendeu José Sócrates que se viu como Soares era, de facto, um fulano à parte, que se estava nas tintas para o que pensassem dele e não abdicava de intervir e participar da forma que achasse conveniente. Nesse sentido, deu-nos uma lição como ninguém que me lembre mais conseguiu fazer neste nosso país. E isto não tem nada que ver com concordar ou discordar, mas apenas com algo bastante mais essencial: saber viver!
Ele tem estado lá desde sempre e nunca abdicou de intervir, nunca renunciou à luta e isso é demasiado poderoso para poder ser esquecido ou perder-se entre as ninharias que neste caso constituem as convicções políticas de cada um. Já a minha avó, nos tempos em que eu era criança, falava do bochechas como uma personagem convicta, influente e digna de admiração e o marocas sempre esteve presente lá em casa, mesmo se a família, como era de lei no norte do país, estivesse um pouco mais à direita dele! Mas a minha relação de admiração por Mário Soares começa provavelmente em 1986, nos tempos das históricas eleições presidenciais e da luta com Freitas do Amaral, quando nós, petizes da escola primária, começamos a discutir quem ia à frente e as nuances dos debates como costumávamos fazer acerca do futebol! Foi nessa vitória épica de quem veio lá de baixo e era inicialmente desconsiderado que se forjou muita da minha visão positiva acerca do debate de ideias e da luta verdadeiramente política. Foi com Soares que aprendi que só cedemos perante a nossa consciência, independentemente do número dos que estiverem contra nós! Não faz mal nenhum que discordem de nós, ainda que seja conveniente que os consigamos convencer a quase todos! Um dia em 2001 apertei-lhe a mão na Faculdade de Ciências do Porto quando ele me entregou o diploma do mestrado e as palavras de circunstância que ele disse na altura, de admiração pelos cientistas que melhor tentavam compreender o mundo de uma forma que ele, homem de letras, se arrependia de não ter explorado mais, deixaram uma marca que eu não estava habituado a sentir. Era um discurso à medida, isso era evidente, mas era um discurso de quem não foi lá cumprir calendário e fazer uma patuscada; foram palavras de quem estava verdadeiramente interessado, de quem se preparou e nos tratou como se fossemos absolutamente decisivos para a felicidade mundial! Não era, portanto, um homem banal aquele; era uma personagem que mesmo nos momentos em que estava longe do seu meio habitual deixava uma mensagem que pesava, ainda que não passassem de palavras de circunstância. Muitos viram na sua candidatura de 2006 às eleições presidenciais um ato de loucura de quem não precisava para nada de se meter numa luta daquelas e deveria estar num patamar superior, no papel dos chamados senadores, posto em sossego, deixando aos mais novos a tarefa de intervirem diretamente nos assuntos mundanos. Mas era nisso, tal como tinha acontecido antes, quando se candidatara ao parlamento europeu, ou mais tarde na sua oposição à Troika ou até na forma como defendeu José Sócrates que se viu como Soares era, de facto, um fulano à parte, que se estava nas tintas para o que pensassem dele e não abdicava de intervir e participar da forma que achasse conveniente. Nesse sentido, deu-nos uma lição como ninguém que me lembre mais conseguiu fazer neste nosso país. E isto não tem nada que ver com concordar ou discordar, mas apenas com algo bastante mais essencial: saber viver!
Até sempre, Mário Soares!
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