A Jerónimo Martins é um caso paradigmático da forma como funciona a bolsa. A empresa manteve-se durante imenso tempo bastante cara, com um valor de mercado a rondar os 10 mM€ para resultados líquidos anuais na casa dos 400 milhões. A Sonae, por oposição, andava em torno dos 2 mM€ para resultados de 150-200 milhões. É certo que a dívida da Sonae era 4 vezes maior do que os 300 M€ da JMT, mas o motivo porque existia tão flagrante desfasamento não tinha que ver com estes valores, que eram números do presente, mas sim com o que é chave na bolsa: o crescimento futuro.
E o crescimento futuro não precisa sequer de ser uma possibilidade real. Ninguém verdadeiramente acreditava que a JMT fosse o ás, o campeão dos campeões na Polónia, e que se lançasse para a Colômbia e fosse outra vez o Ronaldo dos supermercados da terra da Shakira e que, enfim, a seguir conquistasse o mundo. Ninguém, a não ser talvez uns quantos néscios, ia na tanga do investimento a longo prazo num negócio de mercearia que pode ser replicada por quem quiser e é arrasada pela concorrência em três tempos. Mas na bolsa não se manobra com base em realismos instantâneos, mas sim em futurismos exorbitantes. Na bolsa, como em tudo na vida, é a mente que manobra e a mente de milhares opera da forma que Matthew McConaughey explica nesta cena de O lobo de Wall Street:
No one knows if the stock is going up, down, sideways or even circles! It's all fugazi! It's a wuazi, it's a wuuzi, it's fairy dust! No fundo, tirando um ou outro negócio que realmente se vem a revelar uma maravilha a longo prazo (vejam a Netflix ou a Amazon, por exemplo) tudo o que há a fazer é seguir a carneirada porque a carneirada está sempre certa. É fodido, mas a carneirada está sempre certa! Desde que sigam a carneirada por vossa própria iniciativa, sem intermediários como o Matthew ou o diCaprio, acreditem que ficarão bem, mas não se esqueçam: nada de desvios do caminho sob pena de o lobo vos ferrar o dente! Já agora, aproveito para vos educar: sabem por que motivo as ovelhas e os carneiros não se desviam para a berma da estrada para nos deixarem passar?
Porque as que o fizeram no passado foram apanhadas pelo lobo, que atalhou caminho, e não transmitiram os genes.
Voltemos à Jerónimo Martins que perdeu a aura de empresa de crescimento galopante e deixou de estar nas boas graças do mercado. Ora quando se deixa de estar nas boas graças, passa-se a estar nas más e o resultado costuma ser estarmos em presença de uma máquina de desfazer dinheiro para quem está longo. Os analistas explicam a coisa de uma maneira bastante mais filosófica, mas para um físico como eu é a crua e pura natureza do funcionamento do universo o que mais importa e que vai servir para put money in my pocket!
Para mim a JMT está bear e sobrevendida. Ontem veio bater num suporte muito importante e parece-me que estarão reunidas as condições para que suceda uma de duas coisas: 1) ressalto no máximo até à zona 12,8-13,2 ou 2) quebra dos 12 euros e aprofundar da situação entusiasmante... para os curtos! Pode ser que esteja aqui uma boa oportunidade de ganhar uns cobres no curto prazo, mas o que me preocupa mais é o facto de a JMT ter um peso tão relevante no PSI20 e constituir um lastro demasiado forte para que que o índice se mantenha acima da linha de água.
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