Quando o banco nos empresta
dinheiro, digamos para comprar uma casa, coloca-nos na mão um recibo (notas de
banco, cheque ou simplesmente um número na conta bancária) com o qual nós, em
princípio, poderíamos levantar ouro do cofre do banco, para entregar ao
vendedor como pagamento da casa. Em troca, entregamos ao banco uma hipoteca em
que nos comprometemos a liquidar o capital mais os juros acordados, num prazo
definido, sob pena de sermos executados e entregarmos um bem de uma só vez.
Só que, em vez de
procedermos ao levantamento do ouro do cofre, pegamos no recibo e passamo-lo
para as mãos do vendedor que, muito provavelmente, o voltará a depositar no
banco, aumentando o quinhão de ouro a que teria direito, mas deixando o metal
intacto nos cofres do banco. Claro que o vendedor pode depositar o recibo
noutro banco, obrigando o nosso ourives a transferir ouro para a concorrência.
Antigamente, este problema resolvia-se de espada em punho; hoje em dia, optamos
por uma solução menos sangrenta: um banco central!
Mas a genialidade do nosso
banqueiro veio ao de cima quando ele compreendeu que a hipoteca que nós lhe
tínhamos entregado tinha um valor intrínseco. Embora não fosse metal precioso,
quem não gostaria de possuir hipotecas de outros a nosso favor. Afinal de
contas, uma hipoteca garante o pagamento de uma renda, ao mesmo tempo que
assegura que, em caso de incumprimento, temos direito a uma indeminização.
Portanto, é, em si mesmo, um valor. Os empréstimos que os bancos fazem são
património que detêm, ao passo que os depósitos dos clientes são dívidas. No
fundo, as hipotecas acrescentam valor ao ouro que o banqueiro tem no cofre
(porque para as adquirir, o banqueiro não prescindiu de ouro, mas emitiu notas
- dinheiro). E é aqui que a coisa começa a carburar: ao acrescentar hipotecas
ao cofre, sem retirar ouro, o banqueiro aumenta as suas reservas e pode, dessa
forma, fazer novas hipotecas.
Quantas mais hipotecas
fizer, mais juros recebe, mais reservas possui e mais hipotecas pode fazer.
Elementar e genial!
No final, se quiser manter a
regra de possuir reservas de 10% do valor que põe a circular, pode operar a
magia de multiplicar por 10 as reservas de capital efetivo.
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