8.7.18

Nos e Sonae (e outras cenas)

As duas diferenças grandes entre apostar na bolsa e na nossaaposta é que na primeira podemos 1) jogar com o prazo e 2) usar a análise técnica. Esta última, ao contrário da estatística ou da larachada dos comentadores, tem o virtuosismo de ser usada por uma grande quantidade dos próprios intervenientes do mercado, de maneira que acaba por estar inquinada a favor dos participantes como se de um argumento circular se tratasse.



Evidentemente, a análise técnica tem os limites que a sua própria natureza impõe e todos sabemos que no final de contas acima dela está o modus operandi do cérebro de cada um e carga de dopamina que transporta no sangue. 

A título de exemplo, bastará ver o que dissemos aqui sobre a Sonae Indústria e o BCP. Teria sido lógico entrarmos na primeira quando veio à nossa linha vermelha porque o rácio ganho/risco era estupendo (na quebra dos 2 euros fechava-se a posição e não se falava mais disso), mas no momento da verdade faltou-nos confiança. Em vez disso, fomos ao banco porque tinha mais volume e achamos que ia dar um falso break e voltar para cima da linha amarela, no que foi, pelo menos por ora, uma péssima jogada!

Na JMT lá conseguimos ter fé para comprar, mas acabamos por fechar antes dos valores que assinalamos como mínimos para o rebote, embora o tenhamos feito porque quisemos levar o cântaro a outra fonte. Mais uma vez, talvez tivesse sido melhor esperar, mas a adrenalina não deixou. 

Desmond Morris tem a teoria do futebol como substituto moderno do ritual de chegada da caçada dos membros da nossa tribo de antepassados caçadores. CR7 costuma ser o melhor caçador, aquele que regressa com três ou quatro mamutes às costas e nos põe em estado de descontrolo emocional.


Quando a coisa falha, como agora na Rússia, os nossos caçadores foram uns pífios recoletores e ficamos deprimidos. Para os nossos antepassados não era só adrenalina - era muitas vezes uma sentença de morte - mas para nós mantém-se esse vício da descarga de substâncias e não é fácil viver sem isso. Para aqueles como eu que gostam desta coisa da bolsa, estou em crer que o futebol fornece um bom complemento de alegria quando as coisas correm bem, mas não é suficiente como desilusão. Para esse fim, necessitamos de perder dinheiro em burrices. "Fui burro como uma porta" é a nossa maneira de experienciar a chegada de um caçador incompetente.


Relativamente à semana passada, pusemos mais uma linha no gráfico do PSI20 e como a época de resultados se aproxima e julgamos que vai ser boa, mandamos para o meio dos leões os nossos melhores lanceiros, o que é quase o mesmo que dizer que entramos com alguma força na segunda metade da semana:


Agora só me falta benzer quatro os cinco vezes e esperar que o macaco nu me livre de apertos.


Andávamos há algum tempo para entrar na Nos porque parecia-nos ter saído de bear market, tinha feito um duplo fundo e andava a esboçar um canal ascendente que, de tão perfeito, só podia rebentar para cima. Também nos pareceu que as notícias em torno das transmissões televisivas (a Nos tem os direitos de transmissão dos jogos do Benfica e do Sporting em casa) e da Altice são daquelas que entram na lógica do "o pior que pode acontecer é não dizerem nada de nós". Fechou a semana acima da média móvel de 200 dias, mas já está muito perto do valor em que rebenta ou azeda, de maneira que, daqui por uma semana, ou comemos javali ou nos ficamos pelas amoras silvestres:


Numa Sonae sobrevendida ajustamos a nossa linha amarela em baixa e não é que a bichinha ficou mesmo no ponto onde nos mandava entrar? Entramos.

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