6.7.18

Dinheiro (parte 4)

O nosso ourives tinha deixado de existir e com ele o simples cofre-forte que tinha construído para guardar os materiais do seu ofício. Em seu lugar, surgiu um florescente banqueiro, cujo negócio corria de-vento-em-popa, e que contava com toda uma infraestrutura de transações financeiras a que, mais tarde, se viria a chamar banca. Desde que houvesse estabilidade económica e a paz fosse mantida, o trabalho de prestamista do nosso amigo crescia ao ritmo a que aumentavam os depósitos que era capaz de captar. É que, quanto mais ouro emprestasse, mais investimentos eram feitos, maiores eram as transações de bens e matérias-primas, e maiores necessidades de financiamento existiam da parte empreendedora da sociedade.



A juntar a tudo isto, desde que a rede de balcões fosse suficientemente grande, até se podia dar o caso de o banqueiro emprestar ouro que, em última instância acabaria por nem sair do banco. É que quem pedia emprestado, acabava sempre por comprar alguma coisa e, desde que o vendedor fosse cliente do banco, o ouro envolvido na compra voltava para o cofre. E se o banco tivesse estabelecida uma rede internacional, além do lucro obtido com os juros cobrados, ainda era possível recolher proveitos com a manipulação das taxas de câmbio.


Por esta altura, o banqueiro ex-ourives apercebeu-se de que muitos dos seus depositantes procediam a pagamentos mais avultados entregando o recibo que o banco lhes dera, em vez de virem ao cofre levantar o ouro que tinham depositado. Isso deu-lhe a ideia de produzir recibos estandardizados, com valores bem definidos que permitissem aos depositantes proceder a pagamentos de qualquer montante, sem terem a necessidade de levantarem o ouro que estava depositado. Desde que houvesse confiança no mercado de que o valor marcado no recibo correspondia efetivamente a ouro depositado no cofre, os recibos eram transacionados como se de ouro se tratasse, deixando intacta a riqueza para que o banco procedesse a empréstimos. Mais tarde, os recibos do banqueiro viriam a receber o nome de notas de banco e estariam a caminho tempos em que as notas de banco nada mais teriam do que um valor fiduciário.


No tempo do ourives as pessoas só confiavam no ouro e davam por adquirido que os recibos em circulação correspondiam a metal físico, mas na banca moderna, o valor fiduciário de uma nota de banco chega ao ponto de ser assegurado pelo próprio Deus em pessoa (que religiosos nos tornamos!) que, evidentemente, tem o poder de engendrar in actum toda a riqueza que lhe corresponde.

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