A atividade de prestamista,
o primeiro passo para se converter num banqueiro, só se pôde iniciar quando o
ourives deu conta de que uma parte do ouro permanecia muito tempo no cofre sem
ser levantado pelos seus donos, e podia ser emprestado a quem dele necessitasse,
dando-lhe o direito a receber juros (com ouro que, no fundo, não possuía). Por
isso, a primeira tarefa do banqueiro foi calcular a probabilidade de uma
determinada quantidade de ouro ser reclamada pelos legítimos donos enquanto
decorresse o prazo de empréstimo a terceiros. Se essa probabilidade fosse,
digamos, 50%, isso significava que o banqueiro só poderia dispor de metade das
reservas que se encontram guardadas no cofre para emprestar e arrecadar os
juros, sem correr o risco de ter de dizer a algum depositante que não possuía o
ouro que lhe foi confiado (o que, evidentemente, seria a desgraça do banco).
Com a introdução do
papel-moeda, a quantidade de ouro que permanecia intocada no banco subiu em
flecha, o que deu azo a que o nosso banqueiro dispusesse de uma percentagem
maior para emprestar, aumentando os proveitos da sua atividade. No limite
chegou-se ao ponto em que as reservas do banco deveriam corresponder a apenas
10% do valor emprestado (atualmente, são estes rácios de capital que têm vindo,
sistematicamente a ter que ser reforçados).
Para o banqueiro, os
problemas começaram quando as vantagens do negócio atraíram competidores, e
obrigaram o banco a distribuir pelos depositantes parte dos juros que recebia
dos devedores, diminuindo o resultado líquido. No final, o negócio puro da
banca acabaria por até nem ser muito atrativo, porque se tratava de receber
juros sobre 90% do capital detido, contra o pagamento aos depositantes sobre
100% do montante depositado. E mesmo que houvesse um diferencial significativo
entre as taxas cobradas e a taxas oferecidas, o lucro final nunca seria famoso
porque havia todo o conjunto de despesas de funcionamento e o risco mais ou
menos elevado da atividade de prestamista. Isto, para além do facto já apontado
de a riqueza a depositar ser por natureza finita. Mesmo assim, é evidente que
ninguém no seu perfeito juízo enjeitaria a possibilidade de deter tamanho poder
quanto o que estaria ao dispor dos que dominavam grandes quantidades de
capital. Nas mãos certas, a atividade bancária tinha um potencial que estava
muito para além da tarefa de canalizar o dinheiro de quem o tinha para aqueles
que dele precisavam.
E foi neste ponto que o
nosso banqueiro ex-ourives teve a tal ideia epifanense que viria a tornar o
negócio dos banqueiros verdadeiramente fabuloso: criar dinheiro a partir da
dívida.
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