História nº
1 (quarta parte)
O nosso ourives tinha deixado de existir e com
ele o simples cofre-forte que tinha construído para guardar os materiais do seu
ofício. Em seu lugar, surgiu um florescente banqueiro, cujo negócio corria de-vento-em-popa,
e que contava com toda uma infraestrutura de transações financeiras a que, mais
tarde, se viria a chamar Banca. Desde que houvesse estabilidade económica e a
paz fosse mantida, o trabalho de prestamista do nosso amigo crescia ao ritmo a
que aumentavam os depósitos que era capaz de captar. É que, quanto mais ouro
emprestasse, mais investimentos eram feitos, maiores eram as transações de bens
e matérias-primas, e maiores necessidades de financiamento existiam da parte
empreendedora da sociedade.
A juntar a tudo isto, desde que a rede de
balcões fosse suficientemente grande, até se podia dar o caso de o banqueiro
emprestar ouro que, em última instância acabaria por nem sair do banco. É que
quem pedia emprestado, acabava sempre por comprar alguma coisa e, desde que o
vendedor fosse cliente do banco, o ouro envolvido na compra voltava para o
cofre. E se o banco tivesse estabelecida uma rede internacional, além do lucro
obtido com os juros cobrados, ainda era possível recolher proveitos com a
manipulação das taxas de câmbio.
Por esta altura, o banqueiro ex-ourives
apercebeu-se de que muitos dos seus depositantes procediam a pagamentos mais
avultados entregando o recibo que o banco lhes dera, em vez de virem ao cofre
levantar o ouro que tinham depositado. Isso deu-lhe a ideia de produzir recibos
estandardizados, com valores bem definidos que permitissem aos depositantes
proceder a pagamentos de qualquer montante, sem terem a necessidade de
levantarem o ouro que estava depositado. Desde que houvesse confiança no
mercado de que o valor marcado no recibo correspondia efetivamente a ouro
depositado no cofre, os recibos eram transacionados como se de ouro se
tratasse, deixando intacta a riqueza para que o banco procedesse a empréstimos.
Mais tarde, os recibos do banqueiro viriam a receber o nome de notas de banco e
estariam a caminho tempos em que as notas de banco nada mais teriam do que um valor
fiduciário.
No tempo do ourives as pessoas só confiavam no
ouro e davam por adquirido que os recibos em circulação correspondiam a metal
físico, mas na banca moderna, o valor fiduciário de uma nota de banco chega ao
ponto de ser assegurado pelo próprio Deus em pessoa (que religiosos nos tornamos!)
que, evidentemente, tem o poder de engendrar in actum toda a riqueza que lhe corresponde.
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