Entretanto,
deu com as redes sociais e investiu imenso tempo a arregimentar amigos virtuais
para colocarem gostos nas fotos que
ia publicando. Criou um blogue onde mandava todo o tipo de larachas sobre
viagens, dava conselhos a quem os pedia e encheu a Internet de fotografias onde
aparecia em locais emblemáticos. Foi-se tornando famoso, o tuga que correu a América
em meia dúzia de dias, um Ulisses homérico dos tempos modernos, um viajante
intrépido e destemido, um migrante temporário e voluntário, uma vítima da
incapacidade do homem para estar quieto, enfim um profundo conhecedor do mundo
e das suas nuances! No ano seguinte lambeu África! Bem, a verdade é que
precisou de dois anos, porque no segundo foi para o lado do corno, trepou ao
Quilimanjaro e depois veio por aí abaixo e só parou na capital da Austrália.
Agora tinha um telemóvel mesmo bom, tirava imensas fotografias e postava tudo
em tempo real. Tudo não! Só as que se aproveitavam e não estavam desfocadas
pelo movimento perpétuo, mas jamais se esquecia de ser o primeiro a dar
“gosto”. No Facebook era um campeão, no Instagram não tinha ninguém à altura e o
blogue tinha-se transformado num local de peregrinação virtual. Depois de
tantos quilómetros a correr, era o indivíduo mais espadaúdo do país, puro osso
e músculo, um grande amigo do ambiente e da mãe-natureza, o primeiro viajante
com uma pegada ecológica impercetível. Na Arábia nem de camelo lhe conseguiram
deitar a mão e na Índia houve gente a interromper a chafurdice no Ganges para
aplaudir a sua passagem. Quanto a capitais, mais umas dezenas para a coleta e,
agora sim, estava em velocidade de cruzeiro no que ao conhecimento do mundo diz
respeito! A verdade é que sentia uma urgência, porque Ulisses, como cada um de
nós, não estava a ficar mais novo e tinha plena consciência da lei suprema da
vida: tempo passado, corpo cansado!
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