2.8.16

O capital ista - Parte 4

Ulisses arranjou emprego como repositor num hipermercado e passava a vida a esmifrar para garantir que havia dinheiro para colecionar capitais. Metia-lhe um medo tremendo andar de avião e era com uma preocupação enorme que encarava cada nova saída, mas fazia questão de continuar a construir um currículo de viajante, um conhecedor in loco de todos os locais mundiais de que se ouve falar, mas apenas uns quantos privilegiados conhecem realmente. Com um ordenado pequeno era-lhe difícil fazer mais do que uma surtida anual, pelo que rapidamente se apercebeu de que jamais conseguiria atingir o ritmo próprio dos grandes viajantes, daqueles que se podiam gabar de ser “cidadãos do mundo”! Mesmo assim foi a Roma, Atenas e um ano, com enorme sacrifício, não só porque o preço era alto, mas também por causa do medo que tinha da água, meteu-se num cruzeiro (os enjoos quase deram cabo dele) e conheceu, de uma assentada, todas as capitais nórdicas. Em Roma foi-se benzer, deu com um casamento e acabou por se infiltrar na boda a beira do Tibre. Mais tarde, contou como enfardou à larga e os italianos não deram por nada. Aliás, conseguiu manter entretidos até os noivos, enquanto atacava nos salgados, porque a verdade é que o italiano é muito parecido com o português. Era esse tipo de histórias de que mais gostava, embora na maior parte das vezes a história não tivesse sido mais do que sugerida por um acontecimento vulgar. Em Roma foi benzer-se, ponto final!


Sem comentários:

Enviar um comentário