Ulisses
arranjou emprego como repositor num hipermercado e passava a vida a esmifrar
para garantir que havia dinheiro para colecionar capitais. Metia-lhe um medo
tremendo andar de avião e era com uma preocupação enorme que encarava cada nova
saída, mas fazia questão de continuar a construir um currículo de viajante, um
conhecedor in loco de todos os locais
mundiais de que se ouve falar, mas apenas uns quantos privilegiados conhecem
realmente. Com um ordenado pequeno era-lhe difícil fazer mais do que uma surtida
anual, pelo que rapidamente se apercebeu de que jamais conseguiria atingir o
ritmo próprio dos grandes viajantes, daqueles que se podiam gabar de ser
“cidadãos do mundo”! Mesmo assim foi a Roma, Atenas e um ano, com enorme
sacrifício, não só porque o preço era alto, mas também por causa do medo que
tinha da água, meteu-se num cruzeiro (os enjoos quase deram cabo dele) e
conheceu, de uma assentada, todas as capitais nórdicas. Em Roma foi-se benzer,
deu com um casamento e acabou por se infiltrar na boda a beira do Tibre. Mais
tarde, contou como enfardou à larga e os italianos não deram por nada. Aliás,
conseguiu manter entretidos até os noivos, enquanto atacava nos salgados,
porque a verdade é que o italiano é muito parecido com o português. Era esse
tipo de histórias de que mais gostava, embora na maior parte das vezes a
história não tivesse sido mais do que sugerida por um acontecimento vulgar. Em
Roma foi benzer-se, ponto final!
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