Sempre sem parar passou por todas
as capitais da América central, entortou para Caracas e foi direto a
Paramaribo. Em todas elas tirou fotografias (mais tarde arrependeu-se de não
ter parado, porque a maioria ficou desfocada) e mesmo nos mercados e nas
roulotes de enchiladas havia alguma coisa dentro dele que o impedia de parar e
ficar quieto. Numa fila na Venezuela acabou mesmo por levar um par de estalos
por ter passado à frente das donas de casa, mas no geral, a passo de corrida, a
viagem fazia-se de uma forma que evitava vários inconvenientes que o afligiam
nas alternativas mais convencionais: não estava sujeito a horários, não gastava
dinheiro em bilhetes nem em combustíveis, não vivia sobressaltado com a
incompetência de um qualquer condutor adepto da pinga, etc.
Nem para dormir
parava, pois tinha desenvolvido uma inovadora capacidade para adormecer nas
retas, embalado pelos solavancos das suas pernas hiperativas. Calculava
mentalmente o tempo que podia cochilar, com base na extensão do percurso, e
encostava a cabeça a um amparo próprio que entalava entre o ombro e as orelhas.
Para tomar banho e fazer a higiene pessoal usava os rios, que fazia questão de
passar a nado.
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