Essa arte de viajar pelo mundo
continuava a ter o seu lado desconfortável e até assustador e, bem vistas as
coisas, antes de sair pensava sempre que ficava bem mais tranquilo e sossegado
em casa, mas depois de meter pés ao caminho só se preocupava em não perder nada
do manancial de conhecimentos a que estaria exposto, e com viver sofregamente as
aventuras infinitas de que depois podia lançar mão numa mesa de conversa.
Quando regressou da América tratou logo de explanar todo o seu poder de fogo
perante os amigos (que os tinha e muitos), mas foi com horror que verificou que
ninguém queria saber de Georgetown ou de Assunção e todos falavam de Havana ou
de Santo Domingo, sítios onde, lamentavelmente, se esquecera de ir! Claro que havia sempre a hipótese de forjar
uma montagem com um retrato enquadrado numa paisagem retirada da net, mas, por
Deus, Cuba é uma ilha cercada de tubarões e nem ele teria o arrojo de enfiar a
patranha de que tinha nadado até lá. Demais a mais, pensava, se não queremos
perder o prestígio que nos deu tanto trabalho a conquistar não podemos correr o
risco de nos apanharem em falta de uma forma tão saloia! Um Cidadão do Mundo tem
que ser, acima de tudo, impecavelmente honesto. Faria um cruzeiro nas Caraíbas
noutra altura.
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