No verão mandou-se para Nova
Iorque, comprou uma bicicleta num garagista e meteu-se ao caminho até Washington,
onde dormiu num banco de jardim coberto pelo ar puro da noite! Casa Branca,
Capitólio, memoriais, umas voltas pela cidade e estava o assunto arrumado. Não
se esqueceu do autorretrato nos sítios interessantes, mas ao meio-dia estava
despachado e abalou, a pedal, para a Cidade do México. Vários dias depois, com
algumas boleias pelo caminho e uns trajetos de comboio, meteu na cabeça que
queria uma foto no Grand Canyon e foi até lá. Na Strip de Vegas fotografou-se
nos néons, mas não chegou a entrar nos casinos porque teve medo de acabar na
miséria. Depois atravessou o deserto para se fotografar com o letreiro de
Hollywood em pano de fundo e sempre a pedalar desceu em direção à fronteira mexicana.
Tinha sido uma excentricidade, mas atravessara a grande nação americana de
costa a costa e o feito valia-lhe uma entrada direta na galeria dos mais
ilustres viajantes do mundo. Jack Kerouac não fez melhor!
Em Tijuana quase lhe
rebentaram o canastro para lhe roubar a bicla e os acepipes, mas a coisa deu
uma volta engraçada porque apareceu um grupo rival e os mexicanos mataram-se
uns aos outros à facada e aos tiros e, no final, só sobrou ele. Como teve o
bom-senso de revistar os cadáveres, acabou com uns pesos a mais no bolso e
deu-se ao luxo de trocar a pedaleira por uma acelera. Os tacos e os nachos é
que quase deitavam tudo a perder e foi semidesidratado pela diarreia que se
apresentou na grande praça da Constituição da antiga capital Azteca. Despachou-se
e abalou rumo a sul. Numa curva da estrada nasceu-lhe uma furgoneta em
contramão, levou uma trombada e escangalhou a motoreta. Antes que os índios
tivessem tempo de arrear a ver o estrago pôs-se a pé, achou-se ok, e deitou a
correr por ali a baixo.
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