27.8.16

Tallin e Helsínquia

O plano era ir até Estocolmo, mas a nortada ártica arrastou-nos para sul e fomos ter a Tallin. 

A capital da Estónia tem um centro histórico pequenino e que se limpa a pé em meia dúzia de horas. O aspeto é muito pitoresco, embora se note que a autenticidade sofreu um bocadito com as remessas de turistas que saem todos os dias dos navios de cruzeiro.





Para morfes há um sítio que todos os que gostam de experiências gastronómicas não costumam dispensar. Falamos do Olde Hansa, um restaurante em que tudo é medieval, incluindo o menu. Uma alternativa interessante à carniça transformada e à salada de batata que os estónios importaram dos germânicos.

No que concerne a landmarks, a catedral de Alexander Nevsky oferece-nos uma visão muito interessante do contraste entre a ortodoxia e o catolicismo cristãos, ainda que seja uma igreja bastante recente e não possa, por isso, ser diretamente comparada com as seculares catedrais que temos por cá. A muralha, que dizem eles, é a mais antiga da Europa, a igreja da virgem Maria e alguns detalhes nas ruas compõem o ramalhete. 






Em Tallin, os habitantes andam de graça nos transportes públicos, o que reduz a poluição e permite poupar nos combustíveis e os estónios também tiveram outras boas ideias na área da internet. São deles obras como o KaZaa ou o Skype, e já adotaram coisas prafrentex como a e-cidadania e o voto universal eletrónico. Da capital diz-se que é terra de conto de fadas e eu tenho cá em casa uma especialista que me assegura que é verdade. Depois da pequena sereia em Copenhaga e a fadaria de Tallin, fica a faltar o pai natal e foi em busca dele que nos lançamos ao mar para atravessar os quase 100 km até à Finlândia. Fizemo-lo ao som de música da Estónia (pop em inglês e uma de um evento tradicional em que milhares de pessoas se reúnem para cantar músicas patrióticas, tradição que surgiu depois da desagregação da URSS).



A Finlândia é aquele país que os professores portugueses se habituaram a olhar com inveja e um certo despeito por ter os alunos com melhores resultados do mundo nos testes de Pisa. Que carago fazem estes indivíduos diferente para terem resultados tão impecáveis? Que perfume usam para que os testes lhes corram tão bem? E como é possível ter bons resultados a ciências e a matemática estudando peva, como nos asseguram as entrevistas do Michael Moore no seu filme "E agora invadimos o quê?"


Chavalo luso que fizesse o que o vídeo aconselha saía da escola sem saber ler nem escrever (ainda que, cá para nós que ninguém nos ouve, com a carga de trabalho que levam o resultado seja pouco melhor!). De maneira que aportamos a Helsínquia com o fito de perceber se havia marosca no filme ou se as nossas ideias feitas estavam completamente erradas e era chegada a hora de arrepiar caminho, nem que tivéssemos que queimar 3 ou 4 gerações!

Para início de conversa, digo já que a cidade foi uma desilusão do caralho porque anda-se nas ruas e não se vê nada que valha a pena ser visto a não ser o mar e as ilhotas o que, convenhamos, para um português farto de nortada é bastante curto!

Temos a catedral luterana lá em cima de um escadório onde dezenas se devem escavacar todos os anos quando os degraus estão cobertos de gelo e vão compenetrados para a eucaristia dominical. Cá em baixo fica o senado e a universidade na outra banda. 




Demos umas voltas a pé pelo sítio e fomos dar à zona do estádio olímpico onde decorreram os jogos de 1952, e onde se encontra a estátua do herói nacional finlandês Paavo Nurmi. Vimos o polémico monumento a Sibelius e fomos à Temppeliaukio kirkko, uma igreja belíssima escavada diretamente na rocha e gostamos muito.




Por fim, tivemos a felicidade de dar com a Eni, uma professora reformada finlandesa, que lá nos explicou algumas coisas que estávamos mortos por saber de fonte fidedigna. Para começar queixou-se que o desemprego finlandês já vai em 9% e, embora os ordenados andem numa média de 3500 euros mensais, os impostos papam quase 50% da bilha, de maneira que, bem, não estamos tesos e falidos como vós, mas, depois do brexit, não falta gente a pensar que a UE e, em especial, o euro são uma tanga muito grande e espertos estão a ser os bifes

Quanto à escola, tinha começado a 11 de agosto e o ano letivo costuma terminar no final de maio, quando os dias começam a ter sol que valha a pena (em junho há noites brancas em Helsínquia). Havia imensa juventude e petizes nos parques da cidade, pelo que não custa nada a crer que uma grande parte das aulas no verão se passa fora da escola, medida pedagogicamente irrepreensível (pelo menos numa cidade em que, diz-nos a nossa colega, cada habitante dispõe estatisticamente de 25 metros quadrados de espaço verde). A escola é 100% gratuita (livros, refeições, transportes) até aos 16 anos e daí em diante, os chavalos e as chavalas decidem o curso profissional que vão tirar ou ganham o prémio de ir para o liceu se foram bons alunos, pagando então propinas e refeições. Eni achou esquisito quando perguntamos pelos T.P.C. porque não é concebível ter sucesso sem um esforço de consolidação e assegurou-nos que os ganapos fazem exercícios de escrita, de línguas e de matemática todos os dias em casa. 

Despedimo-nos tristonhos não só por causa da cidade que não é grande espingarda, mas fundamentalmente por termos sido desenganados. Eu tinha esperança de que os putos finlandeses que Michael Moore tinha entrevistado estivessem tão focados no estudo e nos objetivos que as aulas chegavam para aprender e não precisavam de consolidação nenhuma. Precisava dessa confirmação de que é possível, de facto, reduzir a carga de trabalho, desde que se esteja totalmente focado e motivado, e adorava  dar essa boa notícia à estudantada cá do nosso cantinho. Infelizmente, acabei com a ideia de que a escola do filme tem alunos excecionais no sentido em que os há também por cá: filhos de famílias privilegiadas, com um ambiente propício a uma motivação fácil e objetivos elevados bem estabelecidos desde muito novos. Claro está que mesmo o aluno finlandês médio está vários furecos acima do colega tuga nessas características particulares, mas, no final, continuamos a não poder fazer omeletes sem ovos!

Com isto tudo, esquecemo-nos do pai natal, mas também só um desmiolado muito grande poderia pensar que veria o velhote das barbas brancas numa altura em que toda a gente sabe que ele está a hibernar lá no norte, onde a noite ainda é branca, em terras da Lapónia!

Seguimos viagem com o metal fora de moda dos H.I.M. Moi Moi Helsínquia!

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